Um complô americano

Por Jeffrey Nyquist

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Obama, Putin e Xi Jinping chegam à cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
Pequim, novembro de 2011. (Alexey Druzhinin / AFP/Getty Images)


…Em fevereiro de 2014, os “pequenos homens verdes” de Putin … assumiram o controle da Crimeia na Ucrânia. Consistente com a doutrina de guerra de informação de Putin, vários dias antes da invasão os serviços de inteligência russos vazaram… um telefonema privado entre a secretária assistente para Relações com a Europa e a Rússia, Victoria Nuland, e o embaixador americano na Ucrânia Geoffrey Pyatt. Na ligação, os dois diplomatas dos EUA discutiam quem seria o melhor candidato entre as principais figuras da oposição, para substituir o presidente pró-Rússia deposto da Ucrânia, Viktor Yanukovich.
Rebeka Koffler, oficial da Agência de Defesa de Inteligência dos EUA.

 

Nada na conversa Nuland-Pyatt prova que as autoridades americanas orquestraram a revolução do Euromaidan. Na verdade, com todos os recursos disponíveis à inteligência russa, você pensaria que Moscou poderia inventar algo mais substancial do que um non sequitur diplomático. Ainda assim, muitos americanos, convencidos da maldade de seu próprio país, trataram a conversa Nuland-Pyatt como prova de que os EUA roubaram a Ucrânia da Rússia (como se a Ucrânia fosse um país fácil de assumir o controle).

Em 2014, quando o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovych foi deposto, Barack Obama, também conhecido como Barry Soetero, e também conhecido como Barack Soebarkah, era o presidente dos Estados Unidos. Devemos nos perguntar: por que Obama iria querer derrubar Yanukovych? Dadas as políticas amistosas de Obama em relação à Rússia durante seu primeiro mandato, não faz sentido. Obama não estava interessado em competição militar com a Rússia. Ele não fortaleceu as Forças Armadas dos EUA e não estava interessado em renovar o arsenal nuclear da América. Por que, então, ele se daria ao trabalho de tomar a Ucrânia?

É importante lembrar que Obama e Putin foram ambos marxistas. Obama teve como mentor um membro do partido comunista chamado Frank Marshall Davis, do qual o FBI suspeitava ser um agente da KGB.[ii] Putin foi membro do Partido Comunista e trabalhou para a KGB. (Também sabemos que Obama era marxista quando frequentou o Occidental College.) No entanto, nenhum dos livros autobiográficos de Obama explica por que ou mesmo quando ele abandonou sua fé marxista. E isso também vale para Putin. Na verdade, Putin disse que ainda gosta das ideias comunistas. Ele até disse que cristianismo e leninismo são basicamente a mesma coisa, que o comunismo vem da Bíblia. Então, quando os serviços especiais russos apresentam a conversa privada dos subordinados de Obama como uma trama para tirar a Ucrânia da Rússia, o que eles supõem acerca das motivações de Obama? Por que ele faria isso? Barack Obama não era inimigo de Putin. Ainda assim, isso é aquilo em que, de alguma forma, deveríamos acreditar.

E agora que uma guerra estourou, com a Rússia invadindo a Ucrânia, é desconcertante ouvir as pessoas dizerem que o Ocidente está procurando uma desculpa para atacar a Rússia. Mas o Ocidente não quer guerra com a Rússia. Isso seria loucura e todo mundo sabe disso. Na verdade, o lado que quer a guerra é o lado que está preparado para vencer. Esse lado só é encontrado em Moscou e Pequim.

A OTAN não está pronta para a guerra. A América não está pronta para a guerra. Como alguém pode acreditar que o Ocidente está tentando iniciar uma guerra para a qual não está preparado? Isso não faz sentido. E olhe para as nossas divisões internas! Não estamos em condições de travar uma guerra quando, em casa, estamos tão divididos. E assim, olhando para Victoria Nuland em 2014, não encontramos um mentor internacional. Encontramos uma triste desculpa para um funcionário público a fazer comentários desagradáveis que estão sendo gravados pela inteligência russa. Sugiro que os diplomatas americanos não possuíam a competência básica necessária para organizar um golpe na Ucrânia. E então, os mentores da presente guerra não estão em Washington, Bruxelas ou Davos. Os mentores estão em Moscou e Pequim.

É triste dizer, no entanto, que muitos americanos inteligentes confundem a propaganda russa pré-guerra com a prova da maldade americana. Considere o artigo de 2017 de Ted Galen Carpenter no Cato Institut, intitulado “America’s Ukraine Hypocrisy”[v]. Nele, Carpenter sugere que dois trapalhões da diplomacia, tagarelando um para o outro por uma linha telefônica aberta para todo o mundo ouvir, inspiraram e dirigiram uma revolução na Ucrânia. Essa é realmente uma tese extraordinária. Carpenter aceita a interpretação de Moscou dessa chamada telefônica e a despeja na peneira de sua imaginação política distorcida. O produto final de Carpenter confunde as travessuras do senador John McCain com uma vasta conspiração revolucionária, mesmo quando ele atribui competência absoluta às palhaçadas políticas de Obama. Sobre o que Carpenter acha que nossos diplomatas conversam em particular? Ele acha que eles falam a sobre a previsão do tempo? Um diplomata em solo estrangeiro representa os pontos de vista e os interesses de seu governo. Demonizar esses interesses é, obviamente, do interesse dos inimigos da América. Carpenter, portanto, não sabe de que lado seu pão está amanteigado. E ele não está sozinho.

Sobre as culpas de nosso país, deixe-me esclarecer, para que ninguém confunda a mensagem ou a nuance. Os líderes da América são honestos? Não inteiramente. Não se segue, no entanto, que os líderes dos Estados Unidos sejam os autores de todo os estragos do mundo, ou de todo o mal, ou que tenham causado a guerra na Ucrânia. E aqui vai uma palavra para os sábios: se você quer falar sobre governantes perversos, fale sobre os líderes em Moscou e Pequim. Pense no gulag da Rússia com seus prisioneiros políticos. Pense no laogai da China e no assassinato de pessoas inocentes para o tráfico de órgãos. Você sabia que a polícia na Rússia e na China usa tortura? Seus cidadãos não têm direitos reais. Veja como a China esmagou o Tibete e a Ucrânia está sendo esmagada pela Rússia. Aqueles que não têm noção da história podem pontificar sobre a corrupção da América, mas nossos piores políticos são garotinhas choronas quando comparados a Xi Jinping e Vladimir Putin. Os desfalques, o amordaçamento de incontáveis milhões, o saque em massa de países, o assassinato de jornalistas e livres pensadores, o envenenamento da mente humana, e agora a destruição da Ucrânia.

Os americanos que abraçam a propaganda russa parecem pensar que se os políticos americanos mentem, então os políticos russos devem ser confiáveis. Segue o corolário desse erro: se a América é liderada por homens maus, então Vladimir Putin é um homem bom. O silogismo correto, no entanto, é encontrado na afirmação do historiador suíço Jacob Burckhardt: “o poder é em si mesmo mau”. É por isso que Putin é mais malvado e mais perigoso do que o presidente dos EUA. E o corolário disso: o governo russo tem mais poder sobre os russos do que o governo americano tem sobre os americanos.

“Todo poder”, observou Jacob Burckhardt, “enquanto durar seu período de crescimento… não respeita os direitos dos mais fracos”. O associado de Burkhardt, Friedrich Nietzsche, escreveu que o estado “é chamado o mais frio de todos os monstros frios. Com frieza também mente; e esta mentira rasteja de sua boca: ‘Eu, o estado, sou o povo.'”(viii)

O estado é um mestre temível e deve ser forjado com muitos freios e contrapesos em mente. E o maior controle sobre o poder do Estado é o povo. É vergonhoso, neste contexto, que tantos conservadores condenem a Ucrânia como um país corrupto quando, na verdade, o povo ucraniano têm exposto a nossa vergonha. Por favor, observe: em dezembro de 2004 houve uma eleição desonesta na Ucrânia; mas o povo ucraniano não a aceitou. Eles começaram o que foi chamado de “Revolução Laranja”, que forçou uma nova votação. E então, depois de eleger erroneamente um fantoche russo em 2010, o povo ucraniano o expulsou do cargo com a revolta do Maidan de 2013-2014. Enquanto isso, os americanos não conseguiram corrigir uma eleição fraudulenta e expulsar seu fantoche russo (e chinês) do cargo. Portanto, dificilmente parecerá justo que os americanos julguem a Ucrânia como um país corrupto.

Além disso, a Ucrânia foi bombardeada e invadida pela Rússia – a principal potência nuclear do mundo. Veja como o povo ucraniano está à altura da situação. Quando a América for bombardeada e invadida, espero e rezo para que os americanos mostrem o mesmo espírito de resistência.

Diana West escreveu recentemente um artigo no qual citava minha observação sobre alimentar o crocodilo russo com a Ucrânia para que pudéssemos ser comidos por último. Ela então sugeriu que a América pode já ter sido servida ao crocodilo. Mas este não pode ser o caso. Não há gulag aqui, ainda. Nossa liberdade de expressão permanece. Se invadidos, nossas tropas resistiriam, assim como os ucranianos estão resistindo. Talvez meu uso da metáfora do crocodilo tenha sido impreciso. Talvez tenhamos sido picados por uma cobra cujo veneno serve como uma espécie de suco digestivo; pois a América é uma refeição muito grande para se engolir sem uma preparação cuidadosa. Os comunistas por trás dos regimes russo e chinês, de fato, injetaram veneno na América; e esse veneno está nos amaciando e dissolvendo por dentro. Sem dúvida! No entanto, pode haver um antídoto; e, enquanto não estivermos dentro do estômago do réptil, há esperança.

Para aqueles que pensam que os líderes do Partido Democrata se opõem genuinamente a Moscou e Pequim, por favor, assiste aos vídeos a seguir.

O primeiro mostra Obama falando sobre seu mentor comunista, Frank.

Depois, há essa conversa de “hot mic”, microfone ligado, entre o presidente Obama e o presidente russo Medvedev em março de 2012:

A seguir, assista Obama rindo de uma piada de Vladimir Putin, novamente ao posto de presidente russo, durante uma reunião do G-20 em junho de 2012.


Links e notas:

[i] Rebekah Koffler, Putin’s Playbook: Russia’s Secret Plan to Defeat America (edição Kindle), pp. 158-159.

[ii] Frank Marshall Davis – KeyWiki.

[iii] Entrevista: Obama tinha visão marxista para os EUA no Occidental College – Freedom Outpost (investortimes.com). Obama teria dito a um de seus colegas de classe: “Vai haver uma revolução, precisamos ser organizados e crescer o movimento”. De acordo com o Dr. John Drew, “Eu conheço o livro de Stanley Kurtz, Radical in Chief, que Obama tinha ligações com a Academia do Meio-Oeste. Uma espécie de campo de treinamento socialista para a América. Acho que a maioria dos americanos não entende que Obama tem um vínculo de longa data com o marxismo, que é ainda mais longo do que seus laços com o reverendo Wright”.

[iv]  Putin diz que o comunismo vem da Bíblia, compara Lenin a um santo (newsweek.com).

[v] America’s Ukraine Hypocrisy | Cato Institute

[vi] Jacob Burckhardt, Reflections on History (Indianapolis: Liberty Classics, 1979), pp. 67.

[vii] Ibid, p. 66.

[viii] Friedrich Nietzsche trans. Thomas Common, Thus Spake Zarathustra (New York: The Modern Library), p. 49.

 

Jeffrey R. Nyquist, analista político americano e pesquisador independente, é especialista em estratégias de subversão comunista e armas de destruição em massa. Colunista do Mídia Sem Máscara desde 2002, já publicou dezenas de artigos em importantes veículos ao longo das últimas duas décadas. Mantém o blog pessoal http://www.jrnyquist.blog e é também autor dos livros ‘Origins of the Fourth World War, ‘O Tolo e Seu Inimigo’ e ‘As mentiras em que acreditamos’.

Tradução: Editoria MSM

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1 comentário
  1. Maurício Diz

    Nossa muito obrigado por isso. Esse texto nos faz pensar e leva-nos para fora dos ruídos imbecilizantes da mídia lixo .

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