Simão Bacamarte fez escola: A fraudemia e o presságio de Machado de Assis

Por Solon Cruxên

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Quando um cientista de renome como o Dr. Simão Bacamarte se apresentou para uma massa debilitada culturalmente, logo convenceu a todos de que 80% da população sofria de demência e que deveria ser recolhida à Casa Verde, a casa de quarentena. E assim foi feito!

Dentre o povo inculto estavam políticos igualmente desprovidos de cultura, que caíam de joelhos diante do cientista e clamavam para que este curasse a todos os dementes daquele local.

Afinal, como sabemos, a ciência é a mais nobre de todas as deusas, e, por isso mesmo, pode se dar ao luxo de mudar de opinião todos os dias. A única forma de acompanhar a mais nova opinião da deusa ciência é deixar a matraca (a tevê) ligada 24 horas por dia.

E foi exatamente o que logo ocorreu: foi apresentada outra notícia: O Dr. Bacamarte fez a mais nova descoberta (outra!) da história da ciência. Assim dizia o noticiário:

“Estudos indicam que os 80% da população deve sair da quarentena”.

Por que, estão curados? Não! Porque o brilhante cientista, depois de algum tempo, mudou o critério de demência. E que ninguém ouse questionar o magnânimo cientista. Apenas, cumpra-se: soltar os 80% da casa de quarentena.

Para completar, a nova orientação científica era clara e também dizia: “Vamos prender os outros 20% que eram diagnosticados como moralmente equilibrados”.

Os 20% eram modestos, ponderados e questionadores. Eram normais além da conta. Ainda assim, seguindo-se os novos critérios, foram presos na Casa de Quarentena. E o povo inteiro comemorou a nova descoberta!

É importante notar que os políticos, representantes do povo, apesar de sofrerem da mesma demência dos 80% (segundo Bacamarte, vale lembrar), fizeram uma lei que os isentava de serem presos, caso a ciência mudasse novamente. O que foi bravamente aplaudido pelo cientista, também denominado de alienista.

Continuemos, pois a deusa ciência não para. Sem querer dar “spoiler” (mas dando), Machado de Assis, nos faz observar, ao fim da sua obra ‘O Alienista”, que o único a ficar no manicômio até seus últimos dias foi próprio Dr. Bacamarte. A última prescrição médica do alienista foi o reconhecimento de sua loucura.

A história mostra que aquele que arrastar multidões para o caminho errado será sempre condenado no final, de uma forma ou de outra.

Gustav Le Bon, na obra “A psicologia das multidões” (Edições Roger Delraux, 1980) nos adverte de que, quando as multidões descobrirem que foram enganadas, elas irão atrás dos Bacamartes. Foi o que aconteceu durante a revolução francesa:

“Robespierre, quando mandou cortar a cabeça aos seus colegas e a um grande número dos seus contemporâneos, possuía um enorme prestígio. Uma deslocação de alguns votos fez com que o perdesse subitamente, e a multidão acompanhou-o à guilhotina com as mesmas imprecações com que, na véspera, acompanhava as suas vítimas. É sempre com violência que os crentes abatem as estátuas dos seus deuses mortos.”

É por esse motivo, que a matraca não cessa em sua loucura, pois os que a controlam temem pelo fim da hipnose coletiva, e os alienistas sejam, por fim, encontrados pelo povo enfurecido.

Qualquer ligação entre os “aceitacionistas” e o alienista será mero presságio de Machado de Assis.

 

Solon Cruxên, pós-graduado em Filosofia, é contabilista e tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, com MBA em Finanças e Controladoria.

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5 Comentários
  1. Tones Diz

    O artigo pontuou com maestria tal pauta, para um bom entendedor poucas palavras bastam. Assim sendo, torcemos para que o elucidar aconteça.

    1. Solon Cruxên Diz

      Agradeço o seu comentário.

  2. Walquer Carneiro Diz

    Uma ficção de Machado de Assis não pode ser analisada como um conceito real e filosófico…O Alienista é uma obra de ficção, a revolução francesa aconteceu de verdade e num contexto de desagregação social profunda.

    1. Solon Cruxên Diz

      Não se trata de análise literária, filosófica ou histórica. É apenas uma nova crônica, num novo cenário para uma nova possível conclusão do leitor. Aliás, a conclusão é livre. Importante notar que o grande escritor Machado de Assis não é o autor desta crônica, ele é apenas um personagem.

  3. Rodrigo Machado Burgos Lima Diz

    Deveríamos tomar as ruas, nem que seja aos poucos

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