No Japão, só no mês de outubro de 2020, mais pessoas tiraram a própria vida do que o coronavírus matou no país.
O homem não foi criado para viver só. Tão logo criou Adão, Deus, ciente da profundidade existencial do ser que acabara de criar, diz que não era bom que o homem estivesse só e, em seguida, da costela de Adão esculpiu a mulher. O princípio bíblico foi reforçado em diversas partes da bíblia sagrada. Salomão disse em Eclesiastes: “Melhor é serem dois do que um. Porque, se um cair, o outro levanta o seu companheiro; e o cordão de três dobras não se quebra facilmente”. Jesus deu exemplo escolhendo doze discípulos para andar com ele e dar sequência a sua obra.
Há momentos em que é importante estar sozinho para meditação, oração e estudo, mas é inegável que evitar o contato entre as pessoas é quebrar um princípio divino e as consequências virão mais cedo ou mais tarde. O estilo de vida moderno abarrotado de tecnologias que permitem o indivíduo trabalhar, comer, estudar e até assistir missa e culto por computadores e celulares sem precisar sair de casa está fazendo com que as pessoas fiquem cada vez mais solitárias.
No Brasil, as estatísticas são escassas, mas segundo o censo dos EUA um terço dos americanos com mais de 65 anos e a metade dos que tem acima de 85 vivem sozinhos. Mais de 40% dos adultos de lá afirmam se sentirem solitários. Os índices de solidão dobraram desde os anos de 1980. Queda nas taxas de casamento e fertilidade contribuem para um estilo de vida individualista, que acaba afetando a saúde física, a longevidade, os níveis de estresse e a saúde mental das pessoas. Não é coincidência que os consultórios psiquiatras e psicológicos estão cada vez mais lotados e o consumo de drogas para combater a ansiedade só aumenta a cada ano.
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo instituto Ipsos entre dezembro/2020 e janeiro deste ano, mostrou que 50% dos entrevistados no Brasil disseram sentir solidão, o que fez do nosso país o primeiro colocado no ranking dos solitários. Como se fosse possível, estranhamente, o brasileiro que costumava ser um povo caloroso, aderiu a ideia de “isolamento social” e não por acaso as consequências estão chegando: só neste ano, mais de 216 mil mortes registradas por doenças cardiovasculares e os números no “Cardiômetro”, disponível na internet pela Sociedade Brasileira de Cardiologia não para de rodar.
Os que alimentam de um prazer fúnebre em contar os mortos por covid, poderiam descobrir o número de pessoas que decidiram encerrar a própria vida nesses últimos meses. No Japão, só no mês de outubro de 2020, mais pessoas tiraram a própria vida do que o coronavírus matou no país. Curiosamente, o número de suicídios no Brasil em 2020 não está disponível no Wikipédia (tem até 2019). Pelos casos que damos notícias, sabemos que este número é alto e que deveria servir de alerta para avaliarmos as escolhas que fazemos na vida.
A felicidade do ser humano consiste em amar a Deus e amar ao próximo servindo uns aos outros com amor. Se é para viver isolado, longe das pessoas amadas, a vida perde o encanto. Há consequências irreversíveis a meu ver nesse isolamento. O dinheiro e os bens são meios, mas os relacionamentos entre as pessoas é que nos dão um sentido para a vida. Os fortes laços morais da família, do trabalho, da comunidade e da igreja ligam uma pessoa a uma realidade concreta da vida cotidiana. Esses laços são os melhores remédios contra a solidão. Sem isso, os homens se agarram a grupos ideológicos, partidos políticos e perdem o rumo da estrada.
Em entrevista a um jornal da TV Record nesta semana, Marcelo Nova, o cantor de rock, prestes a fazer 70 anos, surpreendeu os militantes de esquerda que o entrevistaram: ao falar sobre o isolamento social, ele diz não dar a mínima para isso e advertiu que “respirar não é viver. Tem muita gente respirando que tá morto”. Ele entendeu perfeitamente a relação entre o pânico fomentado pela velha mídia e os políticos e implantação de um regime totalitário. Estou tentando entender como a lucidez veio justamente de um roqueiro. Talvez seja pela coragem de mandar às favas o “ politicamente correto”, tão impregnado na vida dos que se declaram cristãos.
Eu costumo dizer que as redes sociais facilitaram a aproximação de pessoas distantes, mas acabou distanciando os mais próximos. Não se iludam com as conexões de internet, o contato entre as pessoas não perdeu sua importância e a falta dele traz consequências desagradáveis que nenhum pet pode substituir. O ser humano ainda não perdeu a sua humanidade apesar do esforço dos engenheiros sociais que trabalham arduamente para programar um novo estilo de vida que nada combina conosco.
Patrícia Castro é esposa, mãe, e jornalista.
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