China: País-prisão, povo escravo
Por John Mac Ghlionn
Para alguns leitores, tenho certeza, o título deste artigo parece ser intencionalmente provocativo, pouco mais do que um “clickbait”. Porém, quando um indivíduo se torna propriedade de outro, ele se torna um escravo. Quando alguém pensa em escravidão na China, inevitavelmente pensa no caso de Xinjiang, onde prisioneiros reais foram torturados e abusados sexualmente por muitos anos.
Mas o que dizer dos cidadãos chineses que parecem ser livres – funcionários públicos, alunos, professores, influenciadores da mídia social, etc. – pelo país afora? Ostensivamente, essas pessoas vivem em liberdade. Mas, como bem sabemos, aparências enganam.
Como exemplo, pegue a cultura de trabalho “996”: trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana. Na China, o trabalhador médio é consumido pelo trabalho. Exausto e desiludido pela enxurrada constante de mensagens WeChat e prazos intermináveis, a vida na China é, em geral, uma existência completamente miserável para muitos cidadãos comuns.
O PIB per capita do país pode estar aumentando, mas a mentalidade “trabalhe até morrer” ainda reina suprema. Alguns que trabalham para grandes empresas em Pequim, Xangai, Nanjing e outras grandes cidades recebem salários decentes – mas, pergunto, qual é o sentido de ter um bom apartamento se você nunca consegue apreciá-lo, ou ter uma boa cama se você raramente tem a chance de ter uma boa noite de sono? Isso não é vida. Depois de trabalhar 72 horas, de segunda a sábado, o que fazer no domingo? Nada, a não ser comer, dormir, fazer careta e repetir todo o ciclo de novo e de novo. Para sempre. Até que você esteja muito velho para prestar para algo. As crianças em idade escolar não são tratadas de maneira diferente, com muitos alunos dedicando mais de 50 horas por semana (sem contar as “lições de casa”).
Escravidão é sinônimo de violência. Na China, espancamentos são comuns, tanto para funcionários quanto para alunos. Os professores usam bastões regularmente para punir crianças pequenas. Às vezes, infelizmente, as punições têm finais trágicos. No ano passado, uma menina de 10 anos, da província de Sichuan, foi severamente espancada por seu professor. Poucas horas depois, a aluna do quinto ano morreu no hospital. (N.doE.: A irmã gêmea da vítima era da mesma turma e testemunhou tudo.)
Compreensivelmente, as pessoas estão fartas. Milhões de chineses estão fartos. E as autoridades em Pequim estão assustadas com uma nova forma de resistência. No entanto, essa revolução é um pouco diferente. Não está acontecendo nas ruas. Está acontecendo nas casas. Mais especificamente, nos quartos das pessoas. É o “tang ping”, “ficar deitado; um número cada vez maior de cidadãos chineses está deitado, literalmente, e tirando um descanso muito necessário, por tempo indeterminado.
Como escreve Jane Li, o conceito de “ficar deitado” promove “uma perspectiva quase monástica, incluindo não se casar, não ter filhos, não ter um emprego, não possuir propriedade e consumir o mínimo possível”. Em outras palavras, não contribuir para a sociedade chinesa de uma forma considerada respeitável pelos senhores de escravos de Pequim. Para muitos chineses, observa Li, “esta é quase a única maneira em um país autoritário de lutar contra as pressões crescentes de longas horas de trabalho, custos em habitação em disparada, e as despesas cada vez maiores para criar os filhos”. O povo levantou a bandeira branca, ou mais especificamente, o dedo médio. Como o Partido Comunista Chinês (PCCh) responderá?
Se um escravo se recusa a trabalhar, ele geralmente é punido. Será que o regime chinês, mestre de punições cruéis e incomuns, deixará o movimento “ficar deitado” prosseguir com suas sonecas?
A resposta, como você já deve ter adivinhado, é um sonoro “não”. Afinal, o movimento (ou a falta dele) representa uma ameaça direta aos planos do PCCh para a dominação mundial. Infelizmente, uma pessoa que se recusa a competir na corrida dos ratos faz bem em lembrar que ainda é um prisioneiro da China. Afinal, o país é pouco mais do que uma gigantesca prisão. Na China, todos são monitorados, de Jack Ma aos varredores de estradas. Nesse panopticon, a privacidade não existe. As pessoas são simplesmente peões em um jogo de xadrez disputado a partir de Pequim.
Como Wei Shih-chang, em um artigo para o Taipei Times, observou recentemente, o PCCh já está agindo nesse sentido. “Os censores do partido fecharam todos os fóruns do “ficar deitado” no Douban e em outras mídias sociais chinesas”, relata Shih-chang. “Produtos com os caracteres chineses para “ficar deitado”, incluindo camisetas e capas de smartphone, foram retirados da venda.” E isso, como se pode imaginar, é só o começo.
Lembre-se, um escravo é propriedade de outra pessoa. Eles são privados de direitos humanos básicos, incluindo privacidade. Sua liberdade, ou a falta dela, é determinada por seus proprietários. Na China, com seu perverso sistema perverso de crédito social, aqueles que continuam deitados podem muito bem enfrentar punições severas. Então, vamos lá: essas pessoas poderiam escolher sair do país, certo? Não, com o sistema de crédito social, aqueles com pontuação ruim podem ter suas passagens negadas. Assim como um mestre de escravos decide se um escravo pode ser libertado ou não, o PCCh decide se um cidadão pode ou não deixar o país. É por isso que o movimento “ficar deitado” está fadado ao fracasso.
Torçamos para que eu esteja errado.
John Mac Ghlionn é pesquisador e ensaísta. Seus trabalhos têm sido publicados em veículos como New York Post, Sydney Morning Herald, The American Conservative, National Review, The Public Discourse e outras publicações reconhecidas. Ele também é colunista da Cointelegraph.
Publicado no The Epoch Times com o título “Are the Chinese People Slaves?”.
Tradução e edição: Editoria MSM
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