China, uma ameaça militar no Caribe?
Por Lawrence A. Franklin
Foto: No Sri Lanka, por exemplo, a incapacidade do país de pagar os credores chineses pela modernização realizada por Pequim no porto de Hambantota acabou na perda de fato do porto do país do sul da Ásia.
(Lakruwan Wanniarachchi/AFP via Getty Images)
O Partido Comunista da China (PCC) ao que tudo indica, está colocando em prática uma estratégia multidimensional no Caribe, colhendo ganhos econômicos, políticos e em potencial militares a poucas milhas da costa americana. O derradeiro objetivo da China nesta estratégia caribenha pode muito bem ser confrontar os EUA, não só com sua presença nas proximidades do continente americano, mas também para promover uma situação análoga à presença militar americana na região do Mar do Sul da China. Lá, a China criou novas ilhas no mar, prometeu não militarizá-las e na sequência as militarizou.
É bom lembrar que a China também prometeu autonomia a Hong Kong até 2047, no entanto, já em 2020, avançou o sinal, adiantando-se em 27 anos. “Hong Kong será mais uma cidade administrada por comunistas sob rígido controle da China”, salientou em julho o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. Sem a menor sombra de dúvida, a China não tem um governo que honra acordos.
A liderança do PCC também está lançando uma campanha diplomática no Caribe com o objetivo de deslegitimar Taiwan, ao mesmo tempo em que estimula os países da região a estabelecerem relações com a República Popular da China (RPC).
Os carregamentos de equipamentos chineses tanto militares quanto para as forças policiais a inúmeros países caribenhos podem estar evoluindo para cabeças de ponte para futuros “grupos consultivos” do Exército Popular de Libertação da China (PLA) no hemisfério ocidental. Já faz parte dos projetos de construção dos chineses a modernização de portos e aeroportos, o que poderá multiplicar a influência geopolítica e militar da China na região. O Ministro da Defesa da China, Wei Fenghe, já adiantou oficialmente a vontade da China de ampliar a cooperação militar com os países caribenhos.
E não para por aí, a China vem investido uma verba considerável nas economias de Cuba e Venezuela, países socialistas caribenhos antiamericanos do hemisfério. O estabelecimento de um Setor Belt and Road Caribenho é uma oportunidade para os agentes de inteligência do PCC (Partido Comunista Chinês) subornarem a soberania dos países caribenhos, seduzindo aquelas sociedades para a “cilada da dívida interminável” da dependência econômica da China. No Sri Lanka, por exemplo, a incapacidade do país de pagar os credores chineses pela modernização realizada por Pequim do porto de Hambantota acabou na perda de fato do porto do país do sul da Ásia .
Até agora a ofensiva chinesa no Caribe envolve a “diplomacia médica” que proporciona à América Latina, em especial aos países insulares da região, máscaras faciais, aventais e luvas de proteção individual, respiradores, ambulâncias e medicamentos. Em maio deste ano, a China convocou uma videoconferência sobre o vírus COVID-19 com os vice ministros de nove países caribenhos com os quais Pequim mantêm relações diplomáticas: Antígua, Barbuda, Barbados, Bahamas, Dominica, Granada, Guiana, Suriname e Trinidad e Tobago.
O papel predominante da China como líder mundial na produção de produtos farmacêuticos e instrumentos médicos é, conforme se imagina o intuito, propiciar aos chineses acumularem considerável boa vontade na região. A China já entregou 30 mil kits de teste para a Covid-19 à Jamaica e pelo menos 100 mil máscaras de proteção à Cuba, bem como cerca de 100 respiradores à República Dominicana. A China também construiu hospitais em Dominica, São Cristóvão, Barbados e Trinidad, bem como um hospital infantil na Jamaica. Ao longo da epidemia da COVID-19, a China também doou suprimentos médicos para cerca de 15 países do Caribe.
Os investidores chineses estão desembolsando milhões de dólares em projetos de construção voltados para o turismo. Empresas de construção apoiadas pelo governo chinês estão construindo hotéis tipo resort nas Bahamas, Guiana e Barbados. Mais preocupante ainda é o comprometimento quanto à segurança dos EUA diante da incessante expansão portuária no já comercialmente importante porto em Kingston na Jamaica, bem como no porto de Freeport nas Bahamas, a possível nova base de operações da China a 145 km da costa americana.
Outros projetos portuários patrocinados pela China estão a pleno vapor nos portos cubanos de Santiago e Mariel, bem como no porto de Berbice na Guiana. Um projeto de construção chinês que merece análise minuciosa por conta das consequências para a segurança nacional dos EUA é o trabalho sendo efetuado pela China na modernização do aeroporto Internacional Cheddi Jagan na Guiana. No passado o local servia de base para operações militares da Força Aérea dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, cuja pista de decolagem de mais de 3 mil km tem condições de abrigar caças chineses. No entanto, divergências sobre os termos do contrato original assinado em 2011 são motivos de tensão entre a empresa chinesa contratada e o governo, via de regra, pró-chinês da Guiana. A China também está interessada em botar a mão nas matérias-primas da região, como bauxita da Jamaica e petróleo perto da plataforma continental da Guiana.
O regime chinês está fazendo uso do seu “poder de influência” na disseminação da diplomacia antiamericana por meio dos embaixadores chineses regionais nos Institutos Confúcio. Particularmente atuante nesse quesito é o embaixador chinês no Suriname Liu Quan. O braço que cuida da propaganda chinesa fundou cerca de 10 de seus 45 Institutos Confúcio pró-comunistas na região, em Antígua e Barbuda, Suriname, Bahamas, Barbados, Cuba, Guiana, Jamaica, Trinidad e Tobago e Venezuela. Esses institutos disseminam a mesma linha ideológica pró-Partido Comunista Chinês e anti-Taiwan. Além disso, o Instituto Confúcio no Suriname, lar de um dos maiores contingentes chineses na região, também pode estar articulando o recrutamento de agentes.
Em 2018, a República Dominicana revogou os laços diplomáticos com Taiwan,, ao que tudo indica, para aproveitar as oportunidades econômicas que as relações com a China podem oferecer.
Faz parte do projeto militar da China na região do Caribe a Força Aérea do Exército Popular de Libertação da China (PLA), que doou aeronaves de transporte chinesas Y-12 para a Guiana. A ajuda militar da PLA continua chegando à Jamaica. Motos produzidas na China foram exportadas para as forças policiais das Antilhas em Trinidad e Tobago e viaturas de polícia para a Guiana. Fora isso, militares de alta patente escolhidos a dedo de praticamente todos os países do Caribe continuam recebendo treinamento nas academias militares chinesas.
Se a China estabelecer uma cabeça de ponte no Caribe, os Estados Unidos poderão estar diante de uma repetição sombria da crise dos mísseis cubanos de 1962. A China poderia insistir que os Estados Unidos reduzam ou retirem por completo a considerável estrutura militar no Oceano Pacífico Ocidental em troca de uma redução das posses do PLA no Caribe ou qualquer outro arranjo imaginado por ela.
Os estrategistas políticos americanos precisam abordar com seriedade as agressivas políticas expansionistas da China comunista no Caribe. Os Estados Unidos não deveriam permitir que a Força Aérea nem a Marinha do PLA estabeleçam bases que possam interferir na liberdade de navegação americana, tanto para o comércio quanto para os comboios militares que reabastecem os aliados da OTAN em caso de crise militar. Os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de permitir que os chineses ameacem qualquer país do hemisfério ocidental, muito menos os Estados Unidos propriamente dito.
Dr. Lawrence A. Franklin foi funcionário da Divisão do Irã do Secretário da Defesa Rumsfeld. Ele também serviu no serviço ativo do Exército dos EUA e como coronel da Reserva da Força Aérea.
Publicado no site do Gatestone Institute com o título “Bases militares chinesas no Caribe?”
Tradução: Joseph Skilnik