TikTok: cavalo de Troia da China contra os EUA

Por Gordon Chang, para o Gatestone Institute

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Foto: Entrada da sede da ByteDance em Pequim.
(Foto: Noel Celis / AFP via Getty Images)

 

Na quinta-feira (6 de agosto), o presidente Donald Trump assinou um decreto-lei que possivelmente poderá salvar a democracia americana.

Usando de poderes emergenciais, ele proibiu os americanos de fazerem qualquer transação com a ByteDance Ltd., uma empresa privada chinesa, ou com qualquer uma de suas subsidiárias após o prazo de 45 dias. As transações proibidas, assinala o decreto, serão as “definidas” pelo Secretário do Comércio.

Na prática o decreto barra efetivamente o TikTok da ByteDance, um aplicativo de vídeos curtos, nos Estados Unidos em 45 dias.

O TikTok está sendo acusado de monitorar usuárioscensurar conteúdo e fazer mal uso de informações de menores. Também há o receio de que o aplicativo apresente vulnerabilidades, permitindo furtivos downloads de programas mal-intencionados em dispositivos. A alegação mais importante diz respeito à manipulação de usuários.

O aplicativo, que o New York Times chama de “a primeira história de sucesso realmente global da Internet da China” desfruta de ampla aceitação popular, especialmente entre adolescentes e pré-adolescentes. Disponível em 39 idiomas em mais de 150 países, o TikTok foi o segundo aplicativo mais transferido por download no ano passado, perdendo apenas para os apps de jogos.

De acordo com o decreto de Trump, o TikTok já conta com mais de um bilhão de downloads ao redor do mundo e mais de 175 milhões de downloads somente nos Estados Unidos. Segundo estimativas dos analistas, há mais de 800 milhões de usuários ativos mensalmente.

O TikTok vicia, mas isso não deveria causar nenhuma surpresa. Ele foi projetado para essa finalidade, provavelmente desenvolvido com a inteligência artificial mais sofisticada do mundo para este propósito. O TikTok oferece customização, talvez melhor do que nenhum outro aplicativo.

“Se você quiser conhecer alguém, basta dar uma olhadela no feed do TikTok do usuário em questão”, salientou Jonathan Bass ao Gatestone Institute, que por ser CEO da PTM Images é comprador de publicidade nas redes sociais.

“Os feeds mostram, em detalhes, o total das preferências de um usuário.”

“Por fazer uso de inteligência artificial, o TikTok, diferentemente do Facebook, preenche um feed de notícias antes mesmo do usuário adicionar o primeiro amigo à plataforma, cria um perfil sobre você, seus receios e suas vulnerabilidades,” ressaltou Paul Dabrowa, especialista em segurança nacional da Austrália a este site.

Bass me contou que o filho nerd de seu amigo nunca conseguiu incluir mais de cem seguidores no Instagram. Já no TikTok ele acumulou 26 mil em apenas duas semanas.

Por que esse nerd tem tantos seguidores? O algoritmo do TikTok, capaz de identificar milhares de pontos de dados, enviou os vídeos dele para pessoas que tinham as mesmas preferências pessoais do filho nerd do amigo.

Informação é poder. A inteligência artificial permite que Pequim crie o perfil de um usuário e logo calcule seus interesses. Especificamente, o TikTok usa dados para separar o joio do trigo para atribuir conteúdo. O conteúdo peneirado, por sua vez, faz com que as pessoas ajam de um jeito predeterminado. Acredita-se que isso seja muito fácil de se conseguir principalmente com jovens sugestionáveis, nerds e coisas do gênero.

Portanto, o TikTok, é uma poderosa plataforma de vendas. Obviamente, não haverá nenhum dano à segurança nacional dos EUA se o aplicativo for usado para fazer vendas, a exemplo do Bass, fotos emolduradas, bugigangas de mesa de centro e peças ornamentais para a casa.

Mas e se a intenção for derrubar o governo americano? O TikTok seria uma mão na roda. Conforme realçou Dabrowa ao Gatestone Institute: “minha equipe descobriu que o TikTok pode ser usado para desencadear respostas e comportamentos sob medida.”

Segundo suas anotações particulares, o “uso da propaganda como arma”, principalmente quando gerenciada por IA, “pode desencadear guerras, colapso econômico, tumultos e protestos de tudo quanto é tipo”. “Ela pode, afirma Dabrowa, “também acabar com a credibilidade de instituições governamentais e fazer com que a população se vire contra si mesma.”

Há quem acredite que Pequim alterou o algoritmo do TikTok para incendiar as manifestações no caso George Floyd, que se espalharam por todo o país em questão de horas. Bass acha que o aplicativo convenceu as estudantes universitárias brancas a sentirem empatia pelos negros pobres ao promover a narrativa de que em ambos os grupos foram negados as devidas oportunidades.

A China tem condições para tanto. Os engenheiros que trabalham para a Douyin, site-irmão da TikTok na China, gerenciam os algoritmos do TikTok, que entre outras coisas selecionam os vídeos que serão exibidos aos usuários. Esse acesso dá a Pequim as condições para “amplificar o sinal” (peneirar conteúdo com a poderosa IA para induzir as pessoas a se comportarem ao seu bel prazer).

Será que Pequim amplificou o sinal em junho? Muitos adolescentes que naquela ocasião reservaram lugares sem a menor intenção de aparecerem na convenção do Partido Republicano usaram o TikTok para reduzir substancialmente a frequência no comício do presidente Trump em Tulsa. “Na realidade, você acabou de ser atropelado por adolescentes no TikTok que inundaram a campanha Trump com reservas de ingressos fake”, bravateou Alexandria Ocasio-Cortez, deputada democrata por Nova Iorque, em resposta ao Twitter a Brad Parscale, então marqueteiro de campanha de Trump.

No momento, a ByteDance está em negociações com a Microsoft e com o Twitter para vender o TikTok. No entanto, a venda por si só não irá acabar com a ameaça. O novo proprietário, seja lá quem for, terá que passar um pente fino no código, linha por linha para encapsular o TikTok da interferência chinesa.

Ainda assim uma revisão tim-tim por tim-tim poderá não ser o suficiente, porque Pequim continuará sabendo das entranhas da arquitetura geral do software, facilitando assim a manipulação do aplicativo. Conforme salientou Dabrowa ao Gatestone Institute: “minha equipe descobriu que um ator estrangeiro pode entrar pela backdoor e alterar o feed.”

Não resta dúvida que o TikTok representa uma ameaça de longo prazo. “Se eu puder mudar o seu modo de pensar com o passar do tempo, poderei programá-lo”, salienta Bass. O TikTok, que bombardeia com vídeos todo santo dia, está programando os sugestionáveis jovens dos Estados Unidos.

Enquanto isso, os 45 dias de Donald Trump, somados ao tempo necessário para revisar o software, dão à China inúmeras oportunidades de interferir nas próximas eleições americanas.

Isso significa que na semana passada o decreto de Donald Trump pode até ter salvado a democracia americana, mas talvez não sua própria presidência.

 

Gordon G. Chang é o autor do The Coming Collapse of China, Ilustre Senior Fellow do Gatestone Institute e membro do Conselho Consultivo.

Publicado no site do Gatestone Institute.
Tradução: Joseph Skilnik

 

 

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