Por que a Bielorrússia importa

Por Austin Bay, para o Townhall

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As tensões pós-eleitorais que agitam a Bielorrússia (Belarus) têm o enredo típico de uma ditadura senil que vai perdendo sua capacidade de controlar pelo medo. A corrupção e a pobreza opressora produzida pelo presidente Alexander Lukashenko e os 26 anos de seu regime finalmente estimularam uma nova geração com mentalidade reformadora a desafiar o ditador nas urnas. Cientes de que eram desprezados, a horda do ditador fraudou a eleição. Indignados com a fraude, os reformadores encheram as ruas com protestos em massa genuinamente pacíficos, apelando às nações livres por ajuda. Na tentativa de esmagar uma oposição enérgica, a polícia de choque do ditador respondeu brutalmente, espancando e prendendo milhares.

Isso acontece o tempo todo? Infelizmente, sim.

Embora Lukashenko tenha qualidades de bandido comparáveis ​​às do venezuelano Nicolas Maduro, a Bielorrússia não é uma Venezuela ou uma República Democrática do Congo, duas outras nações nas quais eleições também geraram instabilidade violenta.

O líder da oposição bielorrussa Aleksei Navalny foi envenenado com novichok, segundo as autoridades alemãs. Angela Merkel exigiu respostas do Kremlin. A classe novichok de substâncias foi criada na União Soviética especialmente para ser indetectável pelos equipamentos de proteção da OTAN contra produtos químicos nos anos 70 e 80. Também foi usada em 2018 na Grã-Bretanha contra um ex-espião soviético. A Rússia segue negando qualquer envolvimento com a intoxicação de Navalny.

 

O caos nesses cantos difíceis realmente importa? Eis uma maneira de enquadrar as respostas – plurais – a essa pergunta. Além da compassiva preocupação com seres humanos que sofrem sob uma ditadura brutal, a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo. O Congo domina a produção global de cobalto. Os EUA e seus aliados devem permanecer engajados diplomaticamente e, quando possível, impedir os maus agentes com sanções econômicas e políticas.

Infelizmente, a Bielorrússia não possui recursos preciosos. O que existe é escasso: uma população entre 9 e 10 milhões, um PIB em torno 190 bilhões de dólares e um governo trapaceiro que controla algo entre 70 ou 80 porcento da economia. Lukashenko é um ex-apparatchik comunista. Seus 26 anos no cargo é o período mais longo no poder de qualquer líder europeu. Comentaristas chamam a Bielorrússia de a última ditadura comunista na Europa e até mesmo de “a última ditadura da Europa”, embora o presidente russo e ex-coronel da KGB Vladimir Putin seja um tipo de tirano.

A geografia política do século XXI, no entanto, condena a Bielorrússia com uma relevante maldição. Dê uma olhada no mapa. A Bielorrússia é o eixo da frente ocidental russa com armas nucleares, a imagem em espelho do novo papel da Polônia na defesa da frente oriental da OTAN.

A Bielorrússia é também o último satélite eslavo da Rússia – ao menos assim o vê o Kremlin; algo que adiciona um interesse demográfico a uma Rússia que enfrenta o declínio populacional.

O Kremlin vê a Bielorrússia como decisiva para suas operações militares no novo front da Europa central. A Rússia faz fronteira com os países bálticos Estônia e Letônia – membros da OTAN -, o que possibilita às forças terrestres russas de ameaçá-los diretamente. No entanto, a Bielorrússia separa a Rússia de duas outras nações da OTAN, Polônia e Lituânia. Um governo pró-Ocidente na Bielorrússia que nega às forças russas seu território reduz a perspectiva de um ataque surpresa do Kremlin à Polônia. Diminui muito a influência diplomática e midiática que o Kremlin busca quando conduz exercícios de com tanques e infantaria mecanizada ao longo das fronteiras da OTAN.

Essa ameaça russa é teórica? Os poloneses não acham. A invasão e anexação da Crimeia pela Rússia e a invasão do leste da Ucrânia são fatos, não teoria. Assim como a guerra híbrida russa: intromissão política tóxica, guerra de informação, guerra narrativa, ameaças econômicas, ataques secretos e assassinatos.

Com a Bielorrússia em erupção após a eleição sequestrada de 9 de agosto, a Rússia conduziu exercícios navais no Mar Báltico e no Golfo da Finlândia, exercícios terrestres perto de São Petersburgo e no Kaliningrado, o enclave russo entre a Polônia e a Lituânia.

Para a Rússia, defender o oblast (região administrativa) de Kaliningrado é uma operação tanto defensiva quanto ofensiva, e a Bielorrússia é vital em ambas. Kaliningrado já foi a cidade prussiana de Königsberg. A Rússia manteve a cidade e seus arredores como uma recompensa especial por vencer a Segunda Guerra Mundial. Em junho de 2016, a OTAN conduziu o Exercício Anaconda 2016. Quando o exercício terminou, as tropas da OTAN entraram na Lituânia, libertando-a de um ataque russo. A manobra, no entanto, bloqueou explicitamente Kaliningrado.

A Rússia está agora presente na Bielorrússia – aberta e ao mesmo encobertadamente. No final de agosto, a Reuters relatou que Putin anunciou pessoalmente que o Kremlin havia criado uma força policial para apoiar Lukashenko. A Polônia imediatamente exigiu que a Rússia abandonasse os planos de intervenção “na Bielorrússia, sob a falsa desculpa de ‘restaurar o controle’ – um ato hostil, que viola o direito internacional e os direitos humanos do povo bielorrusso, que deveria ser livre para decidir seu próprio destino .”

Sim, o que acontece na Bielorrússia é importante.

 

Título original: Why Turmoil in Belarus matters
Publicado no Townhall.

Tradução: Editoria MSM

 

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