A devastação feminista: Minha segunda carta a Anne Frank

Por Patrícia Castro

(ADN-Bildarchiv/ullstein bild via Getty Images)
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Apesar dos problemas e injustiças cometidas no passado, éramos o sexo privilegiado
e tínhamos um valor que poucas mulheres têm hoje.

 

Querida Anne Frank,

Tenho que confessar que titubeei em abrir o seu diário por ter sido escrito por uma menina tão jovem. É que quando passamos dos quarenta, e eu estou mais perto dos cinquenta, o tempo nos é mais escasso e, portanto, precioso para gastá-lo com qualquer tipo de leitura. Como já tive a sua idade cometi o erro de mensurar você por minha experiência de outrora. A verdade é que aos 13 anos eu não tinha nada para colocar no papel, muito diferente de você que viveu em tempo de guerra e passou por um tipo de provação tão tortuosa que, notoriamente, te fez amadurecer antes do tempo. Sorte minha de ter em casa o livro contando suas ricas experiências. Despretensiosamente, comecei a folheá-lo até que sua história saltou aos meus olhos, me chamou tanta atenção que me senti compelida a escrever para você.

Quando me debrucei para redigir a primeira carta, tive a intenção de comentar sobre a observação que você fez em junho de 1944 sobre a mulher ser considerada inferior aos homens, mas acabei tocando em outro assunto, por isso resolvi escrever-te novamente. Percebi uma influência do movimento feminista em suas palavras, quando você citou um livro do autor Paul de Kruif, no qual ele afirma que “os homens não devem mais pensar no nascimento como uma coisa inevitável nas partes do mundo consideradas civilizadas, pois não são eles que suportam os fardos das mulheres”. Creio que por influência deste autor você diz concordar que no decorrer dos anos o dever de ser mãe se perderia, e com isso as mulheres ganhariam mais “respeito e admiração”.

É verdade que hoje a maternidade não é mais tão importante para as mulheres, mas elas não são mais respeitadas e valorizadas por isso, muito pelo contrário. Qual trabalho secular pode ser mais importante do que administrar uma casa, gerar filhos, formar uma família, garantir a preservação da espécie e os valores judaico-cristãos? A ideia de igualdade entre os sexos, que você vislumbrava em decorrência do pensamento feminista, já era disseminado no seu

tempo, e não nos trouxe tantos benefícios como sua mente juvenil esperava. Hoje, nós, mulheres, temos o direito de trabalhar fora de casa, temos salários equivalentes aos dos homens, já ocupamos a maior parte das vagas nas universidades, trabalhamos em cargos importantes, mas não contamos mais com a opção de ficar em casa, ser sustentada pelo marido e nos dedicarmos exclusivamente ao marido e à educação de nossos filhos.

Além disso, o feminismo trouxe ainda uma rivalidade estúpida das mulheres para com os homens. Só para ilustrar, certo dia, recentemente, uma mulher postou um texto sobre estudos de uma universidade americana, num grupo do meu trabalho, que problematizava a interrupção dos homens durante reuniões de trabalho. Criaram até um nome para isso: “manterrupting.” “Man” e “interrupting” (do inglês “homem” e “interromper”). Veja bem que uma coisa simples e corriqueira, que acontece inclusive com homens e mulheres, virou motivo de reclamações por parte das feministas e até estudo de cátedra. Imagino que deve estar faltando assunto para os alunos estudarem nas universidades. Cheguei a questionar, se realmente as mulheres estão podendo ocupar cargos relevantes, uma vez que não capazes sequer de enfrentar uma simples interrupção na fala.

Quero deixar claro, cara Anne, que não pretendo menosprezar o sofrimento das mulheres que viveram em épocas anteriores a minha, mas apenas lembrar que o sofrimento é uma condição existencial do ser humano, quando o pecado separou o homem de Deus e produziu na criatura divina uma eterna insatisfação. Alimentar uma guerra entre os sexos para compensar um vazio que só pode ser preenchido por Deus é destruir a beleza que ainda pode ser encontrada na nossa curta trajetória de vida.

Em todas as épocas homens e mulheres se complementaram em funções igualmente importantes. Trabalhando em casa e cuidando dos filhos, as mulheres eram poupadas da responsabilidade de prover a prole e da competitividade do mercado de trabalho que cada dia exige mais de todos. A mulher já esteve livre de problemas árduos que antes o homem enfrentava sozinho, mas eles não se queixavam disso porque é da natureza do homem garantir o sustento da família, assim como é da natureza da mulher transformar a sua casa em um lar, e para isso, é preciso o tempo e dedicação que hoje nos faltam.

Considero que os homens íntegros, à sua maneira, sempre exerceram um certo tipo de cavalheirismo para com as mulheres, protegendo-as dos perigos do mundo, inclusive, não podemos jamais nos esquecer que a igualdade que reivindicamos foi uma concessão deles a nós. Com a melhoria da qualidade do trabalho após a Revolução Industrial, as mulheres foram, praticamente, forçadas a entrar no mercado de trabalho, pois o trabalho no campo minguou e a força física já não era tão necessária para boa parte das funções remuneradas. Com um excesso de oferta de mão de obra os salários despencaram. Resultado: marido e mulher recebem, hoje, o que antes o homem ganhava sozinho. É a lei da oferta e da procura: quanto mais gente disponível para o labor, menores salários pagos.

Sem dúvida nenhuma, tudo isso teve um custo para a formação das famílias. A independência se resumiu ao ganho do sustento e a mulher, independente financeiramente, rapidamente guardou nos esqueletos do armário a submissão ao marido. Submissão essa que, antes, já havia sido reduzida a uma mera obediência ao invés de ser uma missão derivada do casamento. Nos incutiram que independência é apenas o ganho do sustento e a mulher agora “independente” financeiramente, rapidamente se esqueceu da importância do seu papel no casamento: ser o “porto seguro” para o homem, intercessora e guardiã espiritual da família e dos filhos.

É claro que essa inversão de papéis destrói famílias e, principalmente, a própria mulher.

O número de divórcios cresce vertiginosamente inclusive no meio cristão, onde se prega que o casamento é único e para toda a vida. Dias atrás uma cantora cristã, casada com um jogador de futebol, deu fim ao matrimônio de apenas dois meses e alegou “machismo” e “tentativa de controle” por parte do marido sem explicar o que ele fez de tão grave que um simples gesto de perdão não poderia resolver. Note que o conflito se deu praticamente no período que ainda pode ser considerado uma lua de mel. Chego à constatação de que o casamento perdeu a importância tanto para os homens, quanto para as mulheres.

A realidade é que os homens perderam a referência e já não sabem como tratar as mulheres. Elas, por outro lado, abandonam seus esposos por coisas pequenas. Não toleram nem mesmo os afazeres domésticos, como se cuidar da casa e cozinhar não fosse um serviço nobre e essencial. A ruína não veio a galope, mas em doses homeopáticas: é preciso tocar na questão da revolução sexual que aconteceu após a chegada da pílula anticoncepcional. Sem o ônus da gravidez sobrou o bônus do prazer instintivo. Se antes o homem precisava assumir um matrimônio para se deitar com uma mulher, hoje basta entrar num aplicativo e procurar a melhor oferta na “prateleira” de uma plataforma digital. Ah! E a conta do encontro no geral é dividida ao meio, isso quando o homem não está desempregado. Nesse caso ele pede para mulher pagar sozinha, afinal, se os direitos são iguais, os deverem também o são.

Aquela história do homem cortejar a mulher – conquistá-la para levá-la ao altar – também é coisa do passado. A ideia da igualdade dos sexos favoreceu e aumentou o número de homens que não querem assumir o compromisso do casamento. Sem falar que os homens têm sido criados por mulheres feministas, que acabam formando homens afeminados, que não despertam interesse no sexo oposto.

Note que até agora não escrevi sobre os filhos, mas o que posso dizer é que eles são adiados ao máximo porque importa mais investir na carreira e “aproveitar a vida”.

Acredita, Anne, que há casais que se unem fazendo pacto de não terem filhos, pois não os veem como herança de Deus, mas como seres que os atrapalham a curtir a vida? No momento que os filhos estão sendo jogados para escanteio, por outro lado, a “adoção” de pets caiu no gosto popular. Animais de estimação agora substituem os filhos, que “dão muito trabalho, despesas e ainda crescem ingratos”. Também como poderiam esperar outra coisa, as crianças tão logo nascem já vão para as creches, escolas ou são criadas pelas babás, dependendo da classe social dos genitores.

Diga-me como pode uma geração dessa sobreviver, Anne? Será que quando você falava de “igualdade entre os sexos” você poderia imaginar que essa igualdade seria a completa destruição dos papeis de cada um na família e no propósito de Deus para a criação? Creio que não, e por isso ouso dizer que, apesar dos problemas e injustiças cometidas no passado, éramos o sexo privilegiado e tínhamos um valor que poucas mulheres têm hoje. As mulheres de hoje podem tudo, só não podem ter casamentos estáveis e famílias estruturadas. Isso é para as poucas que conseguem fugir da ditadura feminista moderna.

 

Patrícia Castro é esposa, mãe, e jornalista.

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3 Comentários
  1. Eduardo Lucas Vieira Diz

    Excelente. Parabéns!

  2. Renato Diz

    Brilhante visão do efeito feminista nas famílias hoje! Um resumo da nossa vida ou o que restou dela.

  3. Joice Diz

    Mais uma brilhante análise, parabéns Patrícia

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