Como o Kremlin mata seus opositores

Por Luis Dufaur

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A tentativa do Kremlin de envenenar o dissidente liberal Aleksei Navalny (foto) foi frustrada devido à pressão internacional.

Navalny foi tratado num hospital alemão especializado nos venenos que os serviços secretos russos elaboraram para punir mais sadicamente seus ex-membros.

O crime reavivou a lembrança de tentativas similares recentes, como os assassinatos do jornalista Timur Kuashev, de Nikita Isaev, líder do Nova Rússia – partido de Putin –, e de Ruslan Magomedragimov, dissidente do Daguestão.

A esta conclusão chegou uma nova investigação promovida pela rede de dissidentes russos The Insider, a revista alemã Der Spiegel e o The Bellingcat, publicação especializada em atividades clandestinas ou secretas, divulgada pelo jornal espanhol “El Mundo”. A investigação delatou a movimentação de oito homens do “esquadrão de ataque” do FSB – a continuadora da polícia política soviética KGB – suspeitos da tentativa de envenenamento de Navalny .

Segundo o The Insider, as viagens dos três homicidas coincidem no espaço e no tempo com os ataques cometidos.

O corpo de Timur Kuashev, jornalista de Nalchik, apareceu numa estrada florestal deitado de bruços, com escoriações e hematomas no rosto e nos joelhos.

O legista encontrou uma agulha em sua axila. Os traços de violência eram óbvios, mas o regime putinista atribuiu a morte a uma insuficiência coronariana aguda.

Pouco antes do assassinato, o agente do FSB Konstantin Kudryavtsev chegou à cidade e logo depois apareceu outro dos envenenadores de Navalny, o Dr. Ivan Osipov (FSB).

Todos os implicados voltaram às suas cidades nas horas seguintes ao assassinato.

O ativista do movimento social Unidade (Sadval), Ruslan Magomedragimov, foi encontrado morto em seu carro na cidade de Kaspiysk, no Daguestão. A versão oficial diz que ele morreu asfixiado. Mas, segundo os parentes do falecido, ele tinha duas marcas de injeções com seringa no pescoço.

Outros membros do comando assassino, Ivan Osipov e Konstantin Kudryavtsev, voaram para Majachkala e para a vizinha Vladikavkaz quatro dias antes da morte do ativista.

Osipov usava o nome falso de Ivan ‘Spiridonov’ que sumiu das redes sociais quando ingressou no FSB.

Konstantin Kudryavtsev, usava o perfil ‘Sokolov’ e trabalhava na unidade militar de guerra química em Shijany, onde o veneno Novichok foi concebido, e graduou-se na Academia Militar de Defesa Química-Biológica Russa.

A vítima Nikita Isaev, líder do movimento Nova Rússia, foi conselheiro do chefe do partido, Sergei Mironov. Ele morreu no trem noturno Tambov-Moscou. Isaev era um político leal ao Kremlin mas algumas de suas iniciativas não foram do gosto de Moscou.

Os investigadores encontraram pistas do local e da data em que agiram os matadores da FSB estudando as pegadas da vítima durante o último ano de vida.

Oficialmente, Isaev morreu de ataque cardíaco e seu corpo foi cremado sem autopsia. Sua mulher Alina Zhestovskaya, o viu morrer: “encolheu como se alguém o tivesse esfaqueado no estômago.

Ele disse: ‘envenenado, envenenado’. Não pode dizer mais nada, suas pernas se dobraram, seus olhos ficaram vazios, ele tremia e morreu antes de chegar à próxima estação”.

A investigação aponta que “os envenenadores começaram a seguir Isaev durante 2018”. Dois desses envenenadores participaram no atentado contra Navalny: Alexey Alexandrov e Ivan Osipov. Ambos têm formação médica.

Três oficiais do FSB seguiram Navalny até Novosibirsk e Tomsk, onde, de acordo com médicos alemães, ele foi envenenado com Novichok, informou o Bellingcat.

Eles são membros de uma unidade clandestina de envenenamento da FSB. Mais tarde, o próprio Navalny fez confessar a um deles numa conversa telefônica, após Vladimir Putin negar que soubesse algo sobre o crime.

A polícia russa fez buscas no apartamento de Aleksei Navalny em Moscou, nos escritórios e apartamentos de seus aliados enquanto prosseguiam as manifestações – violentamente reprimidas pelo Kremlin – em todo o país pedindo a libertação do líder da oposição que foi preso de novo.

 

Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional e sócio do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, é editor de vários blogs, dentre os quais o “Flagelo Russo“, no qual o presente texto foi publicado originalmente.

 

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