As iscas da indústria pornô para pescar o seu filho na Internet

Por Jonathon van Maren.

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Várias e várias vezes, ouvi pais me dizerem que seus filhos jamais buscariam pornografia na internet. Adolescentes? Talvez. Crianças? Nunca. Elas são muito inocentes. Ainda não pensam em sexo nem foram expostas ao que poderia estimular seu interesse pelo assunto. Portanto, as crianças podem continuar sendo crianças, e não há necessidade alguma de lhes manchar a inocência abordando tópicos como este.

Eu até acredito nesses pais. Muitos deles se esforçam para proporcionar aos filhos uma infância inocente, para que desfrutem das coisas simples da vida sem que suas pequenas mentes sejam manchadas por este conteúdo digital onipresente, mais maligno do que “adulto”.

No entanto, é essencial que os pais se dêem conta de uma coisa: seus filhos podem não estar procurando pornografia, mas a indústria pornográfica com certeza está à procura deles.

Muitos pais creem, equivocados, que tudo ficará bem desde que os filhos não busquem pornografia e a internet de casa esteja protegida. Eles talvez se surpreendam ao descobrir que a maioria das crianças tem seu primeiro contato com pornografia por acidente. Já ouvi essa história centenas de vezes em minhas palestras para jovens sobre pornografia, e um estudo recente confirmou não apenas que muitas crianças veem pornografia pela primeira vez por acidente, mas que a maior parte delas gostaria que isso nunca tivesse acontecido. Não se trata de saber se os seus filhos desejam ver pornografia, mas de saber se eles, querendo ou não, acabarão se deparando com ela.

De fato, como observei antes, empresas predatórias como a PornHub já usaram títulos de desenhos animados (por exemplo, Dora, a aventureira e Patrulha canina) para dar nome a vídeos de pornografia explícita, a fim de que as crianças que buscam na internet temas inocentes acabem acessando páginas repletas de cenas degradantes. Quanto mais precoce for o vício, mais pornografia elas verão — e quanto mais elas virem, melhor será para empresas como a PornHub. Suas contas bancárias crescem às custas da inocência roubada.

Eles até fazem piada sobre isso. Na conta de PornHub no Instagram, por exemplo, foi compartilhada uma imagem do Bebê Yoda com o logotipo da empresa refletido em suas pupilas junto com a frase: “Dez segundos depois de meus pais saírem de casa”. Além de não verificar a idade ou o consentimento e de não fazer nada para manter as crianças longe do seu material vil, a PornHub ri abertamente de ter as crianças como um público alvo.

O portal Exodus Cry, que tem feito uma brilhante campanha para denunciar a cumplicidade da PornHub com o estupro e a exploração sexual, explicou como a empresa caça as crianças:

A PornHub não possui sequer um botão de alerta para perguntar ao visitante se tem menos de dezoito anos. Por quê? Para eles, a idade é apenas um número.

A organização vai à caça em redes sociais populares como Tik Tok, Twitch, Snapchat, Periscope e muitas outras, usando modelos e vídeos como isca para seduzir crianças inocentes e tê-las em suas garras sádicas. Alguns desses sites e aplicativos possuem proteções inadequadas para crianças ou sequer têm restrições a práticas predatórias.

Há também as categorias. Em 2019, “adolescente” (teen) foi um dos principais termos procurados no site, junto com “cartoon”, “vinganças” e muitos outros. Não se enganem: a PornHub está definindo e tirando proveito dos apetites sexuais de jovens e menores de idade.

Mas espere, a situação fica ainda pior. Os portais Collective Shout e Exodus Cry revelaram que, além de hospedar vídeos de estupro, abuso infantil e tráfico sexual (e não esqueçamos nunca que as pessoas acessam a plataforma em busca de satisfação sexual), a PornHub tem uma coleção de “desenhos pornográficos virtuais ou animados, feitos com os personagens mais populares da Disney em cenas de sexo explícito”. Personagens como a Rapunzel, da animação Enrolados, aparecem amarrados e amordaçados, sem falar de muitos outros personagens favoritos que aparecem em cenas de abuso e violência. Repita-se: são personagens de desenhos infantis.

Sites de conteúdo pornográfico também inserem anúncios pop up em páginas de jogos eletrônicos frequentadas por crianças e adolescentes. Em minhas palestras, já perguntei diversas vezes a crianças quantas delas jogam na internet — e quantas foram expostas a alguma janela pop up com conteúdo explícito durante o jogo. Quase todas as mãos se levantam em resposta às duas perguntas. À medida que mais e mais crianças começam a usar a internet, a indústria da pornografia utiliza o tempo delas online para atraí-las até sites pornográficos. Depois do primeiro clique, a sua inocência pode ser destruída e elas podem ficar viciadas. Eis a história de quase toda uma geração.

Por favor, falem com eles sobre pornografia de forma adequada à idade deles. Milhões de crianças foram expostas à pornografia sem o desejo ou o consentimento dos pais, muitos dos quais simplesmente ignoram que seus filhos já foram expostos a esse tipo de material.

É um aspecto repugnante e terrível da nossa cultura que discussões que há poucas décadas eram desnecessárias sejam, hoje, absolutamente imprescindíveis. Sim, elas são.

 

Tradução e divulgação: https://padrepauloricardo.org

 

2 Comentários
  1. Júnio Diz

    É uma questão dialética, não deveriamos ter que tocar nesse assunto, mas como esses nojentos já fizeram isso, agora temos que “atenuar danos”. Apesar das necessidades relacionadas a internet até por questões escolares, há formas de conciliar isso com uma certa transparência, por ex: posicionando o computador na sala e não permitindo celular privativo até uma certa idade. Acho que ao menos dá pra atrasar a necessidade dessa conversa.

  2. Italo Bernardo Félix Alves Diz

    É mesmo um absurdo o que a indústria porn faz.
    Mas é aquela coisa: o marxismo cultural foi ”muito bem” trabalhado ao longo de décadas, e, hoje, grande parte das pessoas não sentem a ausência dos valores nos conteúdos que consomem.
    Infelizmente o trabalho reverso levará algumas gerações, se houver.

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