O terror intelectual que os ecologistas espalham pelo ambiente, entre previsões cataclísmicas, argumentos de autoridade e contínuos julgamentos morais estão corrompendo o espírito de toda uma geração.
O esquerdismo é uma doença, a doença infantil do comunismo. Essa não é minha, mas de Lenin. Esta afirmação é o título de um documento redigido pelo instigador da revolução bolchevique, documento muito curto e facilmente disponível on line. Ele merece ser lido, sobretudo considerando o que aconteceu desde 1920, data de sua redação.
O título é intrigante. Como e porque opor comunismo e esquerdismo? Logo compreendemos, no entanto, aonde Lenin queria chegar: a fim de alcançar a revolução proletária (de esquerda), os revolucionários deveriam agir como uma grande equipe hierarquizada e disciplinada (de direita), totalmente subordinada às decisões do chefe supremo e na qual cada indivíduo deve dar provas de heroísmo e de sacrifício.
“Em primeiro lugar, surge a questão: o que firma a disciplina do partido revolucionário do proletariado? Quem a controla? Quem a fortalece? É desde o início a consciência da vanguarda proletária e seu devotamento à revolução, sua determinação, seu espírito de sacrifício, seu heroísmo. É em seguida sua capacidade de ligar-se, de se aproximar e, se quiserem, de se confundir com as mais amplas classes trabalhadoras, em primeiro lugar com as massas proletárias, mas também com as massas trabalhadoras não proletárias. Em terceiro lugar, pelo acerto da direção política realizada por esta vanguarda, pelo acerto de sua estratégia e tática políticas, desde que as maiores massas se convençam disso por sua própria experiência.” Lenin, em “A Doença Infantil do Comunismo (o esquerdismo)”.
As palavras-chaves do camarada Lenin são: disciplina, disciplina, disciplina! O fim justifica os meios e as enrolações intelectuais, os argumentos, a política, a democracia, a negociação são provas de fraqueza, de falta de maturidade. O esquerdismo que acredita ter razão graças a sua reflexão e seus argumentos deve sair do caminho para dar lugar à ação, que é a única que permite a vitória. Por isso, é preciso que o indivíduo seja disciplinado e dê provas de heroísmo e sacrifício.
Os filhos do leninismo
A fórmula de Lenin foi imitada. Nos anos 1930, os ditadores italianos e alemães retomaram palavra por palavra suas orientações: se a esquerda pretende usar métodos “de direita”, porque a própria direita deveria se abster? Depois da guerra, a mesma propaganda espalhada pela União Soviética e os esforços de seus serviços continuaram a semear por toda parte os grãos do caos e da violência.
Essa estratégia de desestabilizar para lutar tem um nome: terrorismo.
Os esquerdistas bem que tentarão explicar que uma manifestação é legitima porque ela tem um nobre objetivo, mas nada pode mudar a natureza das coisas. A ação violenta organizada com o objetivo de tomar o poder ou impor sua vontade, isso se chama terrorismo: o emprego sistemático da violência para alcançar um objetivo político.
Alguns movimentos terroristas são claramente identificados: ultradireita, movimentos islâmicos, lobbys estrangeiros… mas na França uma facção parece passar ao largo dos radares ou se beneficiar de uma benevolência bastante generalizada. É preciso dizer que ela combina de uma vez só esquerdismo e leninismo. Se trata do ecologismo.
O ecologismo é um leninismo
Vemos regularmente, apesar de tudo, os militantes ecologistas ultrapassar os limites do legal, até mesmo do razoável, e seus nomes avolumam o famoso “fichier S“.
Marine Tondelier, recentemente posta na direção de um movimento de ocupação (1), se vê também como uma digna sucessora de seu mentor de barbicha:
“Nós temos necessidade de uma verdadeira disciplina coletiva”, ela declarou.
Seu ecologismo é radical: superado o esquerdismo, é tempo de batalhar, de se “rearmar”, segundo os seus próprios termos, de se aliar com os ecoterroristas e outros ecototalitários, pois “hoje, não há lugar para meias medidas quando é a sobrevivência da humanidade – a de nossos filhos daqui a trinta anos -, que está em questão”.
O ecologismo não deve ser confundido nem um pouco com qualquer preocupação ecológica. Isso nada tem a ver: “não há ecologia sem justiça social”, segundo Marine Tondelier: a defesa da natureza é apenas um pretexto.
O ecologismo é um movimento proletário no sentido leninista: uma direção política dirigindo uma vanguarda proletária devotada à revolução e disposta a tudo para alcançar seus objetivos. Seu fim não é melhorar a qualidade de vida, e sim destruir por todos os meios a sociedade atual, destruir “o sistema”, a fim de o substituir.
O ecologismo é um fascismo
O ecologismo, como o comunismo, como o leninismo, como o stalinismo, o maoismo, o fascismo ou o nazismo e todos esses horrores do século XX, se baseia sobre uma das múltiplas tolices contadas por Marx e Engels, ela própria repetição de uma tolice de Jean-Jacques Rousseau: o mito romântico do bom selvagem e do comunismo primitivo.
Há apenas uma diferença de ênfases entre o nazismo, o fascismo e o marxismo ou o ecologismo. Não há nenhuma diferença de conteúdo. Todos essas doutrinas nauseabundas se sustentam sobre uma manipulação, uma mentira, uma afirmação da qual depois se revela totalmente falsa: cientificamente e historicamente, totalmente falsa. Falsa e moralmente condenável.
Todas se baseiam na lenda que no passado existiu um mundo ideal, uma idade de ouro, que os “inimigos do povo” corromperam, principalmente por dinheiro: “O homem é naturalmente bom, é a sociedade que o corrompe”.
“As cidades são o precipício da espécie humana […] Os homens não foram feitos para serem amontoados em formigueiros, mas espalhados pela Terra que eles devem cultivar. Quanto mais eles se reúnem, mais eles se corrompem” (J.J. Rousseau, L’Émile).
Para o fascismo italiano dos anos 1930, assim como para os autoproclamados patriotas atuais, o paraíso perdido do Império Romano do Ocidente foi pilhado por hordas de invasores bárbaros.
Para o nazismo, o paraíso perdido das Valquírias foi corrompido pelos banqueiros e comerciantes judeus.
Para os ecologistas, o paraíso perdido de Gaia foi corrompido pelos banqueiros e comerciantes europeus.
Esse mundo perfeito nunca existiu. As primeiras sociedades se tornaram possíveis pela especialização dos trabalhos e pelo comércio em quantidade: pelo inverso do comunismo, pelo inverso do marxismo, pelo inverso do ecologismo.
O Império Romano nunca foi outra coisa além de uma imensa ditadura caótica baseada em suas forças armadas e na escravidão, um mundo extremamente violento, assim como a Germania, seja a das Valquírias, seja a de Gaia.
Muito barulho por pouca coisa
Colocar no mesmo nível ecologismo, fascismo e sovietismo é um exagero? Certamente é. Dizer que o ecologismo é um fascismo é exagerado, sim, mas é preciso dizê-lo, pois a única sutil diferença com os outros horrores em “ismo” do século XX é que o ecologismo é um fascismo na ideologia mas, felizmente, não na realidade.
Na prática, o ecologismo não é um movimento de massa, nem um movimento popular. Numerosos ecologistas militantes ou simpatizantes estão convencidos que eles trabalham para o bem do povo e que o povo os segue, mas isso é completamente falso!
O nazismo foi julgado pelo que fez na prática, e que é mais do que repugnante. Isso não ocorreu ao sovietismo e hoje em dia vemos as consequências na Europa Oriental. Mas o nazismo ou o sovietismo se tornaram possíveis unicamente porque na época de sua ascensão havia apenas um pouco de oposição e sobretudo porque eles canalizaram o ressentimento popular com o poder vigente.
Ora, o ecologismo está assimilado com o poder vigente e com a classe dirigente dos ricos urbanos. Os dois últimos movimentos de contestação violentos e populares na França, os boinas vermelhas em 2013 e os coletes amarelos em 2018, tiveram cada um como razão inicial a recusa de pôr em prática uma política ecologista de taxas sobre os transportes e os combustíveis.
Massivamente, os habitantes do oeste francês rejeitaram a ação dos ecologistas contra o aeroporto de Nantes. É o sistema que decidiu abandonar Notre-Dame-des-Landes. É o sistema que fez do princípio de prevenção e da luta contra o aquecimento climático suas prioridades.
Várias pessoas estão cada vez mais irritadas com os métodos quase mafiosos que mobilizaram o sistema e que levaram a França a abandonar a energia nuclear, resultando numa inflação energética que hoje atinge os mais vulneráveis com toda força.
Além de não contar absolutamente com apoio popular, o ecologismo está se tornado, para vários “proletários” da França periférica, o inimigo público número um.
Todas as imposturas são perigosas
Devemos então evitar chamar o ecologismo pelo que ele é: uma ideologia com intenções nauseabundas e métodos cada vez mais criminosos, acostumada a cometer abusos?
Com certeza não! É preciso, sim, continuar a denunciar essa estupidez! A experiência provou que, mesmo com uma base eleitoral ridícula, os ecologistas já conseguiram empobrecer e destruir consideravelmente o país, numerosas pessoas e várias empresas.
A aplicação do princípio de prevenção, constitucionalizado apenas por demagogia política, fez a França mergulhar na comédia ridícula do “custe o que custar”, da qual será preciso anos para se recuperar.
O voluntarismo verde criou um gigantesco negócio de desvio de subsídios, entre obras de transição energética subsidiadas e portanto custando duas ou três vezes seu preço, produtos biológicos produzidos no outro lado do mundo ou de uma qualidade pior que medíocre por preços delirantes, moinhos de vento que desfiguram as paisagens e que enchem os bolsos dos empreiteiros…
O ecologismo é uma das maiores causas do desabamento econômico e social que sofre o país, como também a estupidez e a mediocridade das elites que deixaram essa farsa se estabelecer. Nunca o saldo de um microscópico grupo político terá sido tão nocivo: mercado de energia totalmente falso, preços de combustíveis punitivos, desindustrialização por abandono de numerosos setores de excelência ou de oportunidades econômicas: aviação, automóvel, indústria nuclear civil, agroalimentar, gás de xisto e explorações minerais, agricultura…
O terror intelectual que os ecologistas impõem, entre previsões cataclísmicas, argumentos de autoridade e julgamentos morais permanentes está apodrecendo o espírito de toda uma geração.
É preciso que esse delírio cesse
O mais impressionante é que nenhum partido da França tenha até agora decidido contestar e nem se ergue como uma barreira contra essa demência. E também é surpreendente que a rejeição das maquinações eleitoreiras com personagens transbordando de dogmatismo, de incompetência e de carreirismo (a lista é longa) não tenha sido proclamada com a veemência necessária.
O ecologismo não é apenas um delírio de esquerdistas iluminados com cabelos longos ou de vovozinhas histéricas e incomensuravelmente narcisistas. O ecologismo é um terrorismo que ameaça a cada um de nós e cujo objetivo é tomar o poder aterrorizando e desestabilizando a sociedade.
Devemos obrigatoriamente impedi-lo de fazer o mal.
(1 ) – Nota do tradutor: Do original “récemment désignée à la tête du parti zadiste”. O “partido zadista”, como um partido político organizado, não existe. O nome vem da sigla Z.A.D., c’est-à-dire, “zones à defendre”, e um “zadiste”, na França, Bélgica e Suíça, é um militante que “defende” (ocupa) um espaço público ou privado para evitar supostos projetos nocivos ao meio-ambiente. O equivalente francês ao militante do M.S.T. ou M.T.S.T., só que numa versão ecológica
Publicado na Contrepoints.
Tradução: Flamarion Daia