Lições de Ortega y Gasset a uma civilização sob risco

Por Patrícia Castro

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A geração que viveu no século XIX acreditava estar vivendo a plenitude do tempo e que não havia muita coisa a ser conquistada. Pelo menos essa foi a percepção do escritor e filósofo espanhol José Ortega y Gasset (foto) em seu livro ‘A Rebelião das Massas’, publicado pela primeira vez em 1929. Para o homem daquela época, segundo ele, tudo o que veio antes era inferior e a Idade Média foi assim denominada justamente para dar sentido ao período que serviria apenas como uma preparação para o ápice da civilização em que ele se encontrava.

O curioso para Ortega era que toda essa “plenitude” alcançada pelos seus antecessores não resultou numa plena satisfação das pessoas que viveriam em sua época.  O filósofo percebeu que nesses dois séculos que se achavam plenamente satisfeitos na verdade estavam mortos por dentro, pois a “autêntica plenitude vital não consiste na satisfação, na obtenção, na chegada”. Como Cervantes, o escritor de Dom Quixote observava que “o caminho é sempre melhor que a pousada”.  A crítica do autor é de que um tempo que já esgotou as fontes de desejo já não deseja mais nada e está fechado para o aprendizado e o conhecimento.

O século que se autoproclamou “Idade Moderna” e se arroga como o modelo de mundo ideal (XIX) encarava os séculos anteriores apenas como uma preparação para esse tempo que seria o auge da modernidade, sem grandes mudanças. Já na década de 30, Ortega percebeu que a sua geração estava ainda mais decadente, pois nutria um profundo desprezo pelas gerações anteriores. Era uma geração que se sentia superior porque achava que tinha mais possibilidades do que os seus antepassados. É como se todos estivessem mortos e um novo modelo de vida surgisse sem nenhum laço que o prendesse a alguma tradição histórica.

O professor e escritor Fábio Blanco, em seu canal no YouTube, dando sequência ao pensamento do pensador espanhol, observa que no século XX, mais especificamente nos 80 e 90, o mundo passou por um momento semelhante ao que descrevia Ortega em relação ao século XIX. Também foi um tempo que parecia que o cume da história havia chegado e que não haveria mais tantas transformações. E hoje ao que parece, esse mundo já ruiu, pois as novas gerações já encaram quem viveu a década de 90 como “dinossauros”. Num breve período, o crescimento das comunicações e dos transportes mudou a forma do homem olhar para si mesmo. Se antes ele estava mais conectado apenas com pessoas de sua proximidade, agora o mundo inteiro passou a ser o seu quintal.  Hoje os distantes estão próximos e os ausentes estão presentes e isso aumenta sua possibilidades e a sensação de poder.

O crescimento do capitalismo ampliou a oferta de produtos e capacidade de consumo. Essa mudança nas possibilidades impacta o espírito humano que olha para seu passado e tende a se achar superior. Fábio Blanco alerta que a medida que temos mais possibilidades, temos mais dificuldades de reconhecer quem realmente somos, pois como dizia Gasset, “eu, sou eu e a minha circunstância”, o que também pode ser interpretado como “eu sou eu e minhas possibilidades”.  Sem esse reconhecimento de quem somos e para onde iremos, somos uma geração perdida, arrogante e prepotente que por ter rompido com o passado, não têm mais parâmetros para compreender o presente e se preparar para o futuro.

Ortega Y Gasset identificou o “homem-massa”, que subiria ao poder com sua visão medíocre: “nosso tempo é o tempo que se sente fabulosamente capaz de realizar, mas não sabe o que realizar; domina todas as coisas, mas não domina a si mesmo; sente-se perdido em sua própria abundância, simplesmente à deriva”. Fábio Blanco diz que “o homem de hoje está preso no seu tempo, e é escravo desse tempo porque não consegue olhar para o futuro”.  E isso é fruto da arrogância e prepotência que se estava presente na geração de Ortega, na Europa, e tanto mais em nossa presente geração, imbecilizada há décadas pela “revolução cultural” esquerdista que tomou conta das universidades, do debate público, das artes, das escolas e até mesmo das igrejas.

Se hoje estamos vendo uma elite presunçosa arrogar-se dona do mundo a ponto de querer expulsar o homem da Terra com uma narrativa estupidamente escandalosa, a de “salvar o planeta” é porque em algum momento deixamos de atentar para o fato de que, há décadas, uma minoria estava se organizando, com intentos malignos, visando sequestrar os direitos naturais de todo ser humano e instalar anestesicamente um governo de natureza tirânica em escala global.

Um tomada de consciência se faz urgente em relação aos aspectos mais inegáveis da condição humana, bem como de nossas raízes históricas e culturais mais profundas. Quem desconhece a história tende a repetir erros de gerações anteriores, e está fadado a ser escravo daqueles que se organizam após as derrotas e, camuflando-se com novas roupagens, slogans e até mesmo uma nova “ciência”, voltam para enganar as novas gerações incautas. Não é de se admirar que o lixo revolucionário da tecnocracia globalista tem tanto em comum com velhas políticas nazi-fascistas, e o comunismo e suas sub-ideologias estão mais vivos e ativos do que nunca.

É horas de parar de delírio, omissão, vaidade e superficialidade, e se levantar contra essa nova espiral da maldade e engodo que, sobretudo via mídia de massa, assola a sociedade atualmente.

 

Patrícia Castro é esposa, mãe, e jornalista.
Telegram: t.me/apatriciacastro
Instagram: @acastropatricia

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2 Comentários
  1. Tones Diz

    Em toda nossa história, sempre houve aqueles que preferiram se esconder para controlar às cordas dos bastidores e fazer da grande massa bonecos de ventríloquo. Todavia, pessoas atentas souberam combatê-los, uma vez que, não se esqueceram dos antepassados, nem seus feitos históricos. Assim sendo, lobos mais uma vez mudam sua roupagem e através de meias palavras omitir seu real propósito. Logo, cabe a todos nós relembrarmos nosso passado, atentar para o presente e visar o futuro.

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