Magia e destruição

Por Jeffrey Nyquist

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Imagem: Soldado alemão morto em frente ao portal de Bradenburg.
Berlim, 1945. Foto tratada.

 

Aquele que não tem sementes demoníacas dentro de si
nunca dará à luz um novo mundo.
Dr. Ernst Schertel

Essa foi uma anotação encontrada na cópia de Adolf Hitler do livro de Schertel, Magia: História, Teoria, Prática. Parece que Hitler não tinha problemas com “sementes demoníacas”. E ele queria “dar à luz um novo mundo” — assim como Karl Marx e Vladimir Lenin.

Hitler anotou outra passagem de Schertel, que remete ao cinismo do líder nazista. A vontade do mago em relação ao seu “demônio”, diz Schertel, cria um poder que “é completamente deixado a seu [do mago] critério”. A anotação de Hitler continua:

O ‘povo’ que ele pode reunir em torno de si… representa uma ampliação de sua esfera-do-eu. Mas já aconteceu de um mago abandonar, despedaçar ou castigar o seu próprio povo, no caso de este não mais parecer reativo.

Lembre das, por assim dizer, imagens de Berlim e de outras cidades alemãs de maio de 1945. Vê-se uma infinita paisagem lunar de prédios bombardeados. Esse foi para a Alemanha o custo de ampliar a esfera-do-eu do mago.

No final das contas, as sementes demoníacas de Hitler eram potentes, germinando em uma guerra mundial, acompanhada pela perseguição, encarceramento e morte de milhões de inocentes. Da mesma forma, pode-se dizer que as sementes demoníacas de Lenin também germinaram na matança e no encarceramento de milhões por Stalin — que se juntou a Hitler para invadir a Polônia em agosto de 1939. Foi isso que desencadeou a Segunda Guerra Mundial.

O presidente Vladimir Putin está agora tentando negar a responsabilidade de Moscou pela invasão da Polônia, justificando a agressão de Stalin em termos humanitários. Segundo Putin, o Ocidente é o culpado por Hitler. A política de apaziguamento de Neville Chamberlain, disse Putin, foi a verdadeira causa da guerra. Quanto à inocência da Polônia, Putin chamou o ministro das Relações Exteriores da Polônia, coronel Józef Beck, de “um porco anti-semita”.

Eis mais uma pitada de sementes demoníacas para criar um “novo mundo”. Pois esse é o sonho mágico que Putin compartilha com Stalin e Hitler. Aqui, novamente, o mago não tem nenhuma preocupação real com seu próprio povo. Ele é um revolucionário que busca derrubar a ordem existente.

Há uma citação sobre revolucionários que Eric Voegelin abonava, de um livro intitulado Os demônios, de Heimito von Doderer. Aqui Doderer diz que um revolucionário é “alguém que quer mudar a situação geral por causa da impossibilidade de sua própria posição…” Doderer também declarava: “Uma pessoa que era incapaz de aturar a si mesma torna-se um revolucionário, então são os outros que têm de aturá-la.”

Em certo sentido, escreveu Doderer, o revolucionário abandona a “tarefa extremamente concreta de sua própria vida”. Surge então a necessidade de falsificar o passado. A partir disso, diz Voegelin, segue-se a necessidade de todos os revolucionários de sistematicamente falsificar a história. Se a sociedade sucumbir a essa falsificação, logo a própria sociedade “perpetua a mais alta traição” imaginável. E há um corolário dessa traição. A falsa realidade assim estabelecida não pode aceitar ninguém que fale a verdade sobre o passado ou o presente. Essas pessoas são então rotuladas de traidores.

No livro de Schertel sobre magia, Hitler sublinhou uma passagem que nega a existência da verdade objetiva. Ele chama o “mundo objetivo” de “ilusionismo da fantasia”. A idéia por trás da magia é “mudar o mundo de acordo com a nossa vontade”. Então, pode-se “criar realidade onde nenhuma realidade existe”.

E essa realidade? — uma ruína fumegante onde antes existia uma cidade.

 

Jeffrey Nyquist, analista político americano e pesquisador independente, é especialista em estratégias de subversão comunista e armas de destruição em massa. Colunista do Mídia Sem Máscara desde 2002, já publicou dezenas de artigos em importantes veículos ao longo das últimas duas décadas. Mantém o blog pessoal www.jrnyquist.blog e é também autor dos livros ‘Origins of the Fourth World War’ e ‘O Tolo e Seu Inimigo’.


Do site da  Editora Danúbio, que publicou o livro“As mentiras em que  acreditamos”, do qual o presente artigo faz parte.

 

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