Palestinos: A disputa para roubar o dinheiro da reconstrução

Por Khaled Abu Toameh

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Foto: Comboio com equipamentos e materiais de construção fornecidos pelo Egito chega à Faixa de Gaza pelo posto de passagem de Rafah, em 4 de junho.
(Said Khatib/AFP via Getty Images)

 

No mês passado, o Egito obteve sucesso em seus esforços no sentido de fechar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Desde então, no entanto, o Egito não conseguiu arranjar um acordo entre o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina sobre a reconstrução de edifícios e casas que foram destruídos durante o conflito de 11 dias.

O Egito não mediu esforços no sentido de ajudar os palestinos da Faixa de Gaza na esteira da recente rodada de hostilidades entre Israel e o Hamas.

Primeiro, o presidente egípcio Abdel Fattah Sisi prometeu doar US$500 milhões para o trabalho de reconstrução. (o Catar prometeu uma quantia equivalente para o mesmo propósito).

Segundo, o Egito despachou o chefe de seu Serviço Geral de Inteligência, General Abbas Kamel à Faixa de Gaza e à Cisjordânia para conversas com líderes do Hamas e da Autoridade Nacional Palestina sobre o plano de reconstrução.

Terceiro, o Egito enviou dezenas de escavadeiras, guindastes e engenheiros para a Faixa de Gaza como parte de seu esforço para ajudar na reconstrução.

Quarto, o Egito convidou representantes de várias facções palestinas, entre elas a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas ao Cairo para conversas sobre formas de ajudar os palestinos da Faixa de Gaza que perderam suas casas nos combates contra Israel. O Egito, incontestavelmente, também tinha a esperança que os líderes das facções acabariam chegando a um acordo sobre as diferenças entre o Hamas e a facção Fatah do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.

Em 10 de junho, os egípcios informaram às facções palestinas sobre a decisão de postergar até segunda ordem a reunião dos representantes das facções marcada para tomar lugar no Cairo sob os auspícios do Serviço Geral de Inteligência egípcio. A decisão de última hora de cancelar a reunião ocorreu depois que os representantes das facções palestinas já haviam chegado ao Cairo.

A medida egípcia, de acordo com relatos de inúmeros órgãos de imprensa árabes, veio à tona em meio a uma forte contenda surgida entre a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas sobre quem seria responsável pelos trabalhos de reconstrução da Faixa de Gaza.

A Autoridade Nacional Palestina salienta que deveria ser a única no comando da reconstrução e que todos os fundos deveriam ser canalizados por meio de seu governo. O Hamas, por outro lado, insiste que os recursos da comunidade internacional sejam encaminhados diretamente para seus cofres.

Em suma, a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas estão dizendo que eles não confiam uns nos outros em relação às centenas de milhões de dólares que foram prometidos pelo Egito e outros países na campanha de reconstrução da Faixa de Gaza.

“Não se pode confiar à Autoridade Nacional Palestina os fundos para a reconstrução, ela não quer ajudar a Faixa de Gaza”, salientou o analista político palestino Eyad al-Qarra.” A Autoridade Nacional Palestina só presta para sugar o sangue do povo palestino na esfera econômica e se beneficiar e recuperar seu orçamento à custa do sofrimento de nosso povo.”

Azzam al-Ahmed, alta autoridade da Fatah, ressaltou que seu lado informou aos egípcios que o programa de reconstrução tem que ser executado sob a supervisão da Autoridade Nacional Palestina. Ahmed acusou o Hamas de fazer uma “campanha na mídia” contra a Autoridade Nacional Palestina de modo a “prejudicar a unidade nacional e ignorar o papel da Autoridade Nacional Palestina” na reconstrução da Faixa de Gaza.

A Autoridade Nacional Palestina e o Hamas têm motivos de sobra para suspeitarem um do outro. Eles estão em guerra desde 2007, quando o Hamas deu um violento golpe contra a Autoridade Nacional Palestina e assumiu o controle da Faixa de Gaza.

Além disso, ambas as partes, são há muito tempo acusadas (pelos palestinos) de corrupção nas finanças e má gestão dos cofres públicos.

O desentendimento entre a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas sobre os fundos para a reconstrução provocou fortes condenações de inúmeros palestinos e árabes. Eles acusaram os dois lados de priorizarem seus próprios interesses em detrimento do povo palestino. Tanto os palestinos quanto os árabes expressaram temor de que a controvérsia desencorajaria os doadores de ajudarem na reconstrução da Faixa de Gaza.

Uma parcela da população palestina lançou uma “campanha popular”, pedindo que os Países do Golfo não deem dinheiro à Autoridade Nacional Palestina nem ao seu presidente, Mahmoud Abbas, para a reconstrução da Faixa de Gaza “devido à galopante corrupção e saque de fundos de doações.”

“Os simpatizantes dispostos a fazerem doações querem saber quem irá receber os fundos para a reconstrução”, salientou o analista político dos Emirados, Mohammed Yousef.

“Eles (doadores) não confiam no Hamas, que está atolado na corrupção e na discriminação contra os residentes da Faixa de Gaza. Os residentes sabem que a maior parte dos fundos acabará em contas (bancárias) secretas do Hamas e de seus líderes e contrabando. A Autoridade Nacional Palestina, que é extremamente corrupta, quer se responsabilizar pelos projetos de reconstrução e seus líderes querem todo o dinheiro”.

A autora saudita Nora Shanar salientou que se opõe à doação de dinheiro aos grupos terroristas palestinos apoiados pelo Irã, Hamas e Jihad Islâmica Palestina, na Faixa de Gaza. Os dois grupos, acrescentou ela, “levam os jovens (palestinos) à destruição em nome do Irã”.

“Os palestinos têm o dever de acabar com esta ocupação iraniana na Palestina para que eles possam viver em paz. Os muçulmanos não se encarregarão de doar seu dinheiro para eles. As organizações terroristas querem tapear árabes e muçulmanos.”

O antagonismo criado pela posse dos fundos de reconstrução escancara ainda mais a total indiferença dos líderes palestinos pelo bem-estar de seu povo. A Autoridade Nacional Palestina e os líderes do Hamas só querem saber de uma coisa: forrar seus próprios cofres com fundos destinados a aliviar o sofrimento dos palestinos. A briga também mostra que o renovado discurso do governo Biden sobre a “solução de dois estados” é uma ilusão: os palestinos não conseguem nem concordar em realizar eleições ou reconstruir edifícios destruídos para seu próprio povo.

A julgar pelas reações de muitos usuários das redes sociais, tanto árabes quanto muçulmanos, é altamente improvável que os países árabes e islâmicos estejam dispostos a colocar dinheiro nas mãos da Autoridade Nacional Palestina e do Hamas. Mais uma vez os palestinos estão pagando o preço da incompetência e corrupção de seus líderes.

O recado que árabes e muçulmanos estão passando ao governo Biden e aos demais doadores do Ocidente é o seguinte: parem de jorrar dinheiro em cima dos corruptos e malogrados líderes palestinos, cuja especialidade é roubar dinheiro de doações internacionais. Os palestinos não precisam tanto de dinheiro quanto de novos líderes cujo compromisso com o bem-estar de seu povo seja maior do que com seus próprios bolsos.

 

Publicado no site do Gatestone Institute.

Khaled Abu Toameh, árabe e islâmico, é um jornalista premiado e produtor de TV radicado em Jerusalém.

Tradução: Joseph Skilnik

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