O mundo moderno demonizou a palavra “preconceito” de uma forma que as pessoas hoje estão absolutamente certas de que todo tipo de preconceito é ruim e que viver sem ele é o suprassumo das virtudes. Ser preconceituoso é ser considerado racista, “homofóbico”, xenófobo, sexista e ninguém quer ser assim qualificado. O que muita gente não sabe é que, num passado não tão distante, a palavra “discriminação” remetia à “inteligência”, ao “conhecimento”, à “sensibilidade”, à “acuidade”, ao “poder de observação” e ao “julgamento correto”.
Em razão dessa aversão a toda e qualquer discriminação, surgiu um novo tipo de preconceito: o preconceito contra o preconceito. O fenômeno já foi observado pelo médico psiquiatra, escritor e ensaísta Theodore Dalrymple (foto), em seu livro ‘Em Defesa do Preconceito’. Na obra, ele aborda, sob diferentes aspectos, os problemas que são causados na sociedade que quer viver livre de quaisquer tipos de discriminação, o que é uma coisa impossível, pois sempre que um preconceito é abandonado outro entra em seu lugar e, na maioria das vezes, o segundo é pior do que o primeiro.
Dalrymple testemunha que os pedagogos de sua geração acreditavam que a função mais nobre da mente era a capacidade de discriminar, por isso eles tinham como principal função instilar em seus alunos os preconceitos corretos, pois assim o aluno conseguiria facilmente distinguir a verdade da falsidade, a beleza da feiura e o bem do mal, portanto seria um adulto com refinamento moral e intelectual. Mas com o passar dos anos a palavra foi ganhando outros significados: associada à discriminação racial que é, sem dúvida, um preconceito ruim, passou a servir também para demonizar a distinção entre o superior e o inferior, melhor e pior, mais profundo e mais raso, de modo que um homem que julga livro, arte, música, filosofia e ciência entra na imaginação popular como alguém que odeia, teme e despreza os negros. O crítico nem precisa tocar em questões raciais, basta manifestar sua preferência por aquilo que acredita ser superior para ser considerado inimigo do povo. Percebem como isso levou o rebaixamento da cultura moderna? Basta olhar para as músicas de duas notas e três estrofes, com ruídos insuportáveis para ouvidos refinados. Olhem para o que sobrou da nossa cultura, se é que algum dia tivemos uma.
Os pensadores progressistas venderam suas ideias de que os valores herdados de nossos antepassados devem ser desprezados e que o desejável é que cada indivíduo seja original em seus pensamentos. Até mesmo as crianças, que estão na fase de descobertas, já são incentivadas a expressarem sua visão de mundo sobre assuntos que elas não têm a menor capacidade de opinar. Incentivados a manifestar precocemente sua visão crítica, quando chegam à adolescência, a soberba e a arrogância já se tornaram um vício na vida dos jovens. O que acontece é que para se livrar dos preconceitos de seus pais, os jovens se agarram aos novos preconceitos vigentes, ao invés de avaliar quais preconceitos deveriam ser abandonados e quais deles, preservados.
O psiquiatra considera que a virtude consiste na distinção entre o bem e o mal e isso só pode ser feito baseado no preconceito, portanto o preconceito é fundamental para o exercício da virtude. Uma inquisição contra os preconceitos afeta nossa capacidade de julgamento. Para provar que não somos preconceituosos podemos rejeitar as máximas comuns que permitem uma vida civilizada e abraçar outras bem piores.
Portanto, não abandone seus preconceitos apenas para parecer moderno. Não perca sua capacidade de discernir o certo do errado, não tenha medo da ditadura politicamente correta que rotula pessoas apenas por elas não pensarem como a maioria. Precisamos preservar os valores que permitiram que nossa civilização chegasse até aqui. Muitas civilizações, talvez por não cultivar os valores corretos, se perderam no espaço e no tempo.
Patrícia Castro é esposa, mãe, e jornalista.
Muito bom! Parabéns !!!!
[…] Como a psicologia subverte a moralidade’, ‘Em Defesa do Preconceito’ (leia resenha aqui), e ‘Nossa Cultura – ou o Que Restou Dela’, também é senior fellow no Manhattan […]
Muito os bons seus textos, Sra. Patricia.
Obrigado e continue!
[…] – Como a psicologia subverte a moralidade’, ‘Em Defesa do Preconceito’ (leia resenha aqui), e ‘Nossa Cultura – ou o Que Restou Dela’, também é senior fellow no Manhattan […]