“Licença social”: mais um truque sujo da esquerda

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Por Rex Murphy. Publicado em 14 de junho de 2017.
Arquivo MSM.

Justin Trudeau: jogando com as palavras para legitimar conceito criado pela militância ecofascista para sabotar iniciativas que fomentem o crescimento econômico.

Licença social é uma daquelas expressões, assim como “apropriação cultural”, ou — tempos atrás — “sociedade civil”, que parecem simplesmente aparecer de repente na existência lexical, quase como vindas do nada, e instantaneamente assumem a autoridade de conceitos incontestados e há muito tempo aceitos. São recitadas em todos os discursos parlamentares, marteladas pelos sábios dos programas de debates vespertinos, e povoam os editoriais e artigos de opinião de todos os melhores jornais. Ontem, ninguém tinha visto ou ouvido falar delas. Hoje, são presumidas como os marcos fronteiriços dos debates e discussões. É tudo muito rápido. Mais um comentário sobre essa prática: esses termos e seus parentes semânticos normalmente emergem da fértil lexicografia da turma da justiça social, o que não deixa de ser adequado, já que “justiça social” é em si mesmo um termo oriundo da mesma fértil fábrica semântica.

Hoje, volto minha atenção para a “licença social” (estou reservando “apropriação cultural” e suas muitas inovações e auto-contradições para outro dia). Justin Trudeau é fã da licença social.

Falando diante do alto conselho do Sinédrio no Calgary Petroleum Club (n.t.: Calgary é a capital da província petrolífera de Alberta, no Canadá), antes de ser primeiro-ministro, Trudeau (como é seu costume com conceitos nebulosos, mas grandiloqüentes) conferiu plena autoridade à formulação vaga e na moda: “’licença social’ é mais importante do que nunca. Governos podem ser capazes de emitir autorizações, mas somente as comunidades podem conceder permissão.”

Um breve comentário sobre o peculiar jogo de palavras do primeiro-ministro. O que é uma autorização? Ora, é uma declaração oficial, por escrito, com força de lei, normalmente a partir de uma ordem do governo, de que uma pessoa ou empresa tem permissão legal para fazer alguma coisa. É Permissão com P maiúsculo.

Entretanto, na medida em que a declaração de Trudeau pode ser compreendida como significando alguma coisa, a permissão oficial do governo — aquela que vale — não tem força nenhuma sob as regras elásticas da licença social. Os governos “podem” emitir autorizações (permissão), diz ele, mas somente as comunidades podem conceder “permissão”. Uma compreensão muito estranha, partindo de um primeiro-ministro: que as “comunidades” são a autoridade final, e que autorizações do governo funcionam de modo muito semelhante a caixas de sugestão maquiadas.

Não importa. Por mais fugaz que seja o significado de licença social, a bondosa Rachel Notley, governadora de Alberta, o aceitou como um conceito que ela respeitava. Mais, ela iria  “conquistá-la” para o coitadinho do petróleo sem litoral de Alberta. Uma decisão difícil para ela — em Alberta.

Permita-me explicar o tamanho da dificuldade. Como governadora, estava disposta a aceitar os termos dos cruzados da justiça social/meio ambiente (contra a opinião da maioria dos residentes na província, é possível dizer) e a procurar cumprir as condições para a licença social.

Em troca — tendo demonstrado todo tipo de boas intenções ambientais, sendo o Imposto sobre o (dióxido de) Carbono o mais numinoso —, esperava que os cruzados então transigissem e concedessem esta tão aclamada licença social. E eis que a primeira governadora de Alberta do NDP (New Democratic Party) criou um imposto sobre a área de terra, e houve muito  tumulto, até ranger de dentes, em Fort McMurray. Os representantes da Suncor, Cenovus e ExxonMobil tremeram e estavam cheios de “ais”. E os trabalhadores (entre os quais as tribos de Newfoundland) disseram “O que é isto? Quer dizer que estamos demitidos? Ou esperando para ser demitidos? E agora esta Rachel está criando impostos sobre nosso petróleo, e quem saberá onde isto vai parar?”

O entendimento era que o bom trabalho e a boa fé de Notley conquistariam para sua província o direito a funcionar no âmbito econômico. Pobre e inocente governadora Notley. Bem nestes últimos dias, um novo regime regulatório foi esboçado por uma comissão federal completamente politicamente correta, regime que colocaria de lado o NEB (National Energy Board) — e presumivelmente engavetaria ou adiaria muitas das decisões e resoluções tomadas até aqui. Além disso, a mesma comissão identificou Alberta — Calgary (maior cidade de Alberta) em particular — como um lugar indigno de ser sede de futuras determinações regulatórias. Calgary foi “vista” como tendenciosa.

Como poderia deixar de ser? A cidade tem toda essa complexa experiência e conhecimento da indústria de petróleo, o que a deixa com um perigoso excesso de informação sobre o assunto em pauta, é o berço do recurso, e abriga a maioria dos que trabalham com ele. Conhecimento, experiência e proximidade do recurso em questão: todos notórios desqualificadores.

Melhor transferir o NEB 2.0 para Ottawa, bem na zona de nidificação da Coruja de Atena, morada de toda a sabedoria coletiva do Canadá e cercadinho de lobistas, arrecadadores de fundos para os partidos, políticos de carreira e todos os demais emblemas de criterioso desinteresse e imparcialidade. Ottawa é aquela tabula rasa da qual falaram os filósofos de antigamente, uma mesa despida de quaisquer interesses e influências. Calgary, em contraste… Ora, Calgary é um balcão de negócios, uma casa de comércio dominada pelas grandes corporações de petróleo, onde a honra está em exílio e a negociação justa é um boato esquecido.

Pelo menos é assim que pensam nessa comissão.

Então, por todas as suas boas ações, onde está agora a sobrecarregada Notley? Obteve a benevolência daqueles que eram contrários às areias betuminosas? Satisfez as onerosas condições da licença social? É claro que não. Porque a governadora Notley não reparou na característica mais intrínseca da licença social. Sua aplicação é infinitamente flexível. É uma demanda inesgotável. Ampliará as suas condições deliberadamente, sempre que um conjunto anterior de condições seja atendido.

Notley não percebeu a idéia central da licença social: suas pré-condições nunca podem ser atendidas, e não têm por objetivo o atendimento. É uma tática obstrucionista, projetada para impedir e atrasar, até que qualquer que seja o seu alvo torne-se tão desgastado pelo processo, e protesto, e atraso, que ele é simplesmente retirado da mesa política.

Notley teria tido mais sucesso perseguindo o vento do que satisfazendo a licença social. Enquanto isso, por todos os seus esforços honestos nesta frente, quanta ajuda pública ela tem recebido de Trudeau? Muito pouca, se é que recebeu. Ele tem conferências para comparecer, jantares em que discursar, reformas democráticas para deixar de lado, missões de paz para definir, pôsteres em tamanho real para distribuir, e reformas eleitorais para esquecer.


Rex Murphy
é jornalista canadense.

Publicado no jornal National Post (Canadá).

Tradução: Timóteo Kühn

 

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