Thomas Mann e o esteticismo

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O esteticismo é uma Segunda Realidade como a definiu Cervantes no Dom Quixote e cujo conceito foi recuperado por Leo Strauss, Voegelin e Ortega y Gasset. É a fantasmagoria governando o mundo, agora senhora das massas, sempre sedentas de hedonismo e sangue.

O que encanta na obra de Thomas Mann é que o autor se manteve fiel no que pôde, até o fim, ao esteticismo alemão. Sempre fiel a Goethe. E, no entanto, jamais perdeu de vista a maldade inerente à sua proposta existencial e, como ficou provado, à sua proposta política. O esteticismo era inofensivo enquanto ficou restrito às práticas de uma elite hedonista, da qual Thomas Mann foi membro; quando era uma minoria ínfima. Quando se tornou movimento de massas foi catastrófico.

Ao esteticismo se opõe à moral cristã, especialmente à sua vertente católica. Thomas Mann sobre isso nunca teve a menor dúvida. Chega a ser comovente a consciência precoce que teve sobre esse drama, que bem podemos ver no livro A Morte em Veneza. Esteticismo é morte, está dito com todas as letras. Ou, se quiser, o caminho da morte ou da cultura da morte. Ele, um homossexual que escolheu racionalmente casar-se e ter filhos, apresentou o homossexualismo como a expressão mais completa do esteticismo.

Thomas Mann escreveu: “A liberdade orgiástica do individualismo,  que uma vez descrevi em A Morte em Veneza, na forma de pederastia”.  Liberdade? O que vemos no livro é o mergulho do personagem no delírio da solidão, que se rebela no impasse do delírio erótico e que se conclui pela morte com a peste. A peste é o próprio esteticismo, que dividia a alma de Thomas Mann. Ele sabia que a cultura de morte não podia se sustentar fora dos círculos da intelectualidade depravada pelo individualismo renascentista, como um parasita não pode se sustentar fora do hospedeiro.

Não à toa que Thomas Mann relembra do verso de Platen: “Quem viu a beleza com olhos, já foi confiado à morte”. Há, todavia, algo mais horrendo e oposto à beleza que a própria morte?

Sua previsão foi completamente fracassada, por um lado, e acertada, por outro:  “A época que teme a si própria, enche de desejo de restaurar, de veleidade de retorno, de estabelecimento do velho e venerável, de restabelecimento da santidade perdida. Inútil. Não há volta”.  Escreveu em 1926. Logo depois veio o nazismo, essa forma radical de esteticismo para as massas. E veio o livro Doutor Fausto, a mais radical denúncia do individualismo e do esteticismo, a mais impiedosa crítica ao nazismo. O esteticismo é a proibição de amar imposta por Mefistófeles a Fausto/Adrian Leverkuhn.

Thomas Mann acertou em pensar que a cultura de morte, traduzida nas práticas homossexuais, se tornaria um comportamento sem volta. Mas o retorno daquilo que é “velho e venerável”, a cultura de vida, o cristianismo, precisa acontecer, sob pena da morte – a pulsão que leva ao desvalor da vida, ao crime político em larga escala, ao hedonismo desenfreado e impiedoso, à destruição maciça – ser implantada, como o foi sob o nazismo e o comunismo. E está sendo radicalmente implantada na ordem social-democrata  sob a bandeira indecorosa e fajuta dos direitos humanos, que faz a apologia política ao homossexualismo. Thomas Mann redimiu-se com o Doutor Fausto. O que redimirá os homens da geração insensata que nos governa?

O esteticismo é uma Segunda Realidade como a definiu Cervantes no Dom Quixote e cujo conceito foi recuperado por Leo Strauss, Voegelin e Ortega y Gasset. É a fantasmagoria governando o mundo, agora senhora das massas, sempre sedentas de hedonismo e sangue.

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O perigo da Segunda Realidade

O livro de Martim Vasques da Cunha (Crise e Utopia) tem um fecho fortíssimo, quando fala da Segunda Realidade, típica desde o Renascimento. Martim fez bela descoberta com o poema de Elizabeth Bishop, do homem em busca do Iceberg onde deseja ser destruído. “O iceberg nos atrai mais do que o navio, mesmo acabando com a viagem” (Elizaberth Bishop). Eis a mente revolucionária por inteiro. Campos de concentração, gulags ou gayzismo: são todos formas de buscar o iceberg que destrói a ordem natural. Martim recupera de Voegelin o conceito de ‘autoridade da ignorância’ de revolucionários que querem ‘melhorar o mundo’. Quem mais ignorantes da natureza humana do que nazistas, comunistas e gayzistas? Querem transformar tudo para acomodar sua tara. Nazistas, comunistas e gayzistas buscam o poder total para impor o argumento de sua ignorância. A cegueira ideológica atropela tudo. Martim: “A vitória da autoridade da ignorância significa a morte da esperança, da possibilidade de que a vida não tenha nenhum logos“. O livro do Martim coloca a interrogação sobre o que fazer para o homem moralmente são. Deixar-se esmagar pelos malvados? Refugiar-se em si? Ele não dá resposta. O mais difícil é mudar a si mesmo, o mais fácil é tentar mudar o mundo. Mas, o que fazer? A grande ferramenta para a prática de maldades dos portadores da ‘autoridade da ignorância’ é o comando do Estado. Como impedir? O Estado moderno é essa perfeita máquina de matar em larga escala. Conduzido pelos ignorantes e malvados vai ao limite. Esse é o perigo. E como conquistar o Estado sem se corromper pelo poder? Eu não sei, ninguém sabe. Não há resposta. Resta o espaço interior de cada um.

 

 

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