Olavo: o “fact-checking” e a diretriz de Lênin seguida pelos jornalistas
Por Editoria MSM
A observação de Vladimir Lênin à qual o filósofo Olavo de Carvalho fez referência, nesta quarta-feira (9), em seu perfil no Facebook, encontra-se num dos textos mais importantes do revolucionário russo, ‘O que fazer?’, bem como no texto anterior, ‘Por onde começar’, publicados no Iskra (A Centelha), o primeiro jornal marxista ilegal da Rússia. Idealizado e dirigido pelo próprio Lênin, o impresso foi decisivo, posteriormente, na consolidação do Partido Bolchevique. O que Lênin expôs em ‘Por onde Começar’ despertou a crítica de L. Nadejdine. Lênin, então, reiterou suas orientações e deu mais esclarecimentos em ‘O que fazer?’ quanto ao que julgava necessário para a formação e organização da militância do Partido Operário Social-Democrata da Rússia (POSDR).
Eis o trecho de ‘Por onde Começar’, citado parcialmente em ‘O que fazer’:
“Um jornal, todavia, não tem somente a função de difundir ideias, de educar politicamente e de conquistar aliados políticos. O jornal não é somente um propagandista e agitador coletivo, mas também um organizador coletivo. Sobre esse último aspecto, se pode comparar o jornal com a estrutura de andaimes que envolve o edifício em construção mas permite adivinhar seus traços, facilita os contatos entre os construtores, lhes ajudando a subdividir o trabalho e a dar conta dos resultados gerais obtidos com o trabalho organizado. Através do jornal e com o jornal se formará uma organização permanente, que se ocupará não somente do trabalho local, mas também do trabalho geral sistemático, que ensinará a seus membros a acompanharem atentamente os acontecimentos políticos, a avaliar a importância e a influência de diversos estratos da população, a elaborar quais métodos permitem ao partido revolucionário exercitar sua influência sobre os mesmos.”
Ao longo da história do comunismo, tal excerto, sobretudo as duas primeiras frases, foram sempre relembradas e tiveram sua importância reiterada. Emelian Iaroslavski, correspondente do Iskra e, mais tarde, dirigente do Comitê Anti-Religioso do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, em seu “A Construção Orgânica do Partido Bolchevique no Período de Ilegalidade”, lembrava que “Lênin emprestava grande significação ao papel organizador do jornal” e em seguida citava a diretriz de Lênin quanto a papel do jornal. Josef Stalin também fez comentários a respeito.
No primeiro número da terceira fase do “A Classe Operária”, o jornal do Partido Comunista do Brasil, Luiz Carlos Prestes, ao celebrar a volta do jornal, relembrou a antiga passagem de Lênin e a função fundamental que o jornal teve (“laço de união, grande força organizadora”) para o partido. A mais importante publicação comunista do Brasil teve exatamente os mesmos objetivos do velho Iskra fundado e dirigido por Lênin.
Contudo, vale lembrar que no marxismo não há “ossificação dogmática”. A práxis é aplicada e os conceitos se transmutam, se dobram, se ampliam, podendo mesmo se inverterem completamente quanto ao sentido original. “Não há conceito de verdade no marxismo”, já avisou Olavo de Carvalho mais de uma vez. No que diz respeito à diretriz de Lênin, “o jornal não é somente um propagandista e agitador coletivo, mas também um organizador coletivo”, não é diferente. Olavo evoca o antigo ensinamento de Lênin para denunciar a burlesca estratégia do “fact cheking”, mas já na acepção em que fora trabalhado em discussões de círculos comunistas mais recentemente: se antes a função de propagandista, agitador e organizador era do jornal, conforme Lênin, na sociedade de massas tal função será da maior parte de mídia que seja possível aos comunistas controlar, incluindo as novas redes e ambientes virtuais.
Para confirmar o parecer de Olavo, vale citar um trecho de ‘O PCB-PPS e a Cultura Brasileira: Apontamentos’, de Ivans Alves Filho, obra publicada em 2012 pela Fundação Astrojildo Pereira, think tank do Partido Popular Socialista:
O desafio hoje implica, justamente, reunir todas essas lutas reformadoras; dar-lhes um espaço ou um denominador comum. Ou seja, montar uma nova formação política, até como maneira de se romper com a fragmentação presente nas práticas sociais atuais. Uma nova formação, no conteúdo e na forma. Que incorpore as novas tecnologias, como elemento de consulta e participação, a exemplo das possibilidades abertas pelas redes e conexões virtuais estabelecidas pela internet e meios correlatos de comunicação, expressão e também de atuação. A reunião entre indivíduos tende, com efeito, a se revestir cada vez mais de comportamentos novos. Os lugares de convivência estão mudando, deslocando-se por vezes das passeatas, dos comícios ou até mesmo dos anfiteatros e dos cafés para as redes. Mas mesmo assim não deixam de ser lugares. Essas redes, que podem se transformar em uma espécie de novo organizador coletivo, como outrora o jornal revolucionário, não se contrapõem à política — antes a revigoram; pois não existe sociedade sem política. É possível fazer convergir as antigas formas de encontro com as novas. Aí estão as mudanças no Oriente Médio, como exemplos disso. E é preciso ainda criar mecanismos que viabilizem a presença da sociedade nos órgãos influentes da nova formação, independentemente até mesmo de filiação partidária ou não. Enquanto entidade privada, a nova formação tem que ser um instrumento da sociedade junto ao Estado e não o contrário. A sociedade é sempre determinante. Na realidade, nunca é demais insistir que ela é a grande geradora de cultura, tecnologia e informação.
Eis as notas de Olavo de Carvalho:
“Fact checking” contra “fake news”? Lênin definia a mídia como “não apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo, mas também um ORGANIZADOR coletivo”. Os jornalistas comunistas e associados seguem estritamente essa regra — e a ensinam nas faculdades de jornalismo –, só posando de pesquisadores e checadores de fatos porque sabem que a platéia burguesa respeita esses ideais e pode ser facilmente ludibriada em nome deles.
*
Será por pura coincidência que a CPMI nominalmente encarregada de “combater fake news” começou logo de cara endossando uma “fake news” do Alexandre Fruta contra mim e tomando como verdade pura as ficções criminosas do Luciano Aymeuânus?
*
Uma das principais funções da mídia como ORGANIZADOR COLETIVO é indicar à massa militante os alvos preferenciais de ódio e de ataque. Indicar com nome, endereço, CPF etc.
*
A velocidade com que a massa popular aceita as ordens da mídia e até as chama de “ciência” é a prova cabal de que o ORGANIZADOR COLETIVO cumpre o seu papel.
*
Antigamente a opinião dos jornalistas era apenas opinião. Hoje é VERDADE FINAL, e contestá-la pode dar até cadeia.
Editoria MSM
Contribua: https://apoia.se/midiasemmascara
Que alegria ver este site de volta e de cara nova! Obrigado.
Concordo em gênero, número e grau!!!
[…] Olavo: o “fact-checking” e a diretriz de Lênin seguida pelos jornalistas […]
Está tudo corretamente correto.
O Olavo é uma brisa, um refrigério, para as mentes tão calejadas com tanta estupidez que vicejam nos meios de comunicação.