‘O Dilema das Redes’: o fundamental é sempre ocultado

Por Paula Félix

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Muita gente indicou, e lá fui eu assistir ao documentário da Netflix ‘O Dilema das Redes’. Segundo os que me recomendaram, o filme exporia toda a sordidez da manipulação levada a cabo no Vale do Silício. De fato. Elaborado a partir dos depoimentos de ex-funcionários graduados das gigantes das redes, o documentário admite, em tons de psicodrama, o uso de técnicas pavlovianas não para inocentemente melhorar a oferta de anúncios para os usuários, mas para moldar suas interações, manipular seu comportamento e induzir vícios. Tudo, segundo os ex-funcionários, por dinheiro.

A descrição da engenharia comportamental utilizada é de embrulhar o estômago, mas a “revelação” não chega a surpreender quem não sofra de distração crônica no nível Mister Magoo. Quem nunca se sentiu manipulado por googles, twitteres e facebooks da vida é porque nunca entrou lá. O que surpreende mesmo é o que o documentário não mostra.

A primeira pergunta que me veio à mente foi: por que madalenas arrependidas da manipulação das mídias estão tendo espaço numa grande empresa de mídia para denunciar as perversidades das mídias? Ora, se mesmo anônimos insignificantes, como eu, sofrem pesado boicote se tentam falar o que não lhes convém, como esses tubarões conseguiram espaço? Minha teoria é que o arrependimento destas madalenas não é por ter manipulado e viciado, mas por terem feito isso, somado ao controle de informação – o que eles não admitem no documentário – e, ainda assim, terem falhado em impedir a eleição de conservadores como Trump e Bolsonaro.

Estes são os sponsors do documentário ‘O Dilema das Redes’, da Netflix. Até onde pude checar, são todos de esquerda. A pergunta que se impõe é: cui bono? (Quem ganha com isso?)

Todos os conservadores no Brasil veem o jogo pesado das empresas de mídia para banir, ocultar, desmonetizar, cortar fontes de financiamento, sumir com likes e dislikes, anular inscrições de seguidores, e o que mais possa impedir o compartilhamento de informações indesejáveis às afinidades políticas entre o metacapitalismo e a esquerda. Todo o esforço da inteligência algorítmica, contudo, revelou-se inútil frente à teimosia de milhões de “tias do zap”, refletindo o conservadorismo intrínseco e orgânico da maioria da população. As eleições de Trump e Bolsonaro colocaram os engenheiros comportamentais da Big Tech em uma situação delicada: técnicas de manipulação, desinformação e controle dependem da sutileza para funcionar. Medidas extremas, como impedir a veiculação de matéria jornalística sobre a corrupção do filho de Joe Biden, por exemplo, possuem alto risco de surtir efeito inverso do desejado.

A jogada de gênio dos produtores do documentário, assim, está em revelar parte do arsenal criminoso, as técnicas mais obsoletas, escamotear o uso político do controle da informação, atribuindo tudo à ânsia capitalista pelo lucro, e berrar por aquilo que elas, as gigantes de mídia, não podem fazer: o controle estatal das redes sociais. Quanto mais sórdido o cenário denunciado pelos metacapitalistas falsamente arrependidos por fomentar fake news, polarizar a sociedade e eleger facínoras (discurso que parece tirado da boca de um Alexandre Fruta ou de uma Peppa na CPMI), mais justificados estarão seus parceiros estatais, não por coincidência todos de esquerda. O objetivo é calar não as redes, mas nós, os conservadores. A denúncia da manipulação é, ela própria desinformação.

 

Paula Felix, mãe, cristã e conservadora, é mestre em Biologia Celular e Estrutural pela Unicamp.

 

 

1 comentário
  1. André Diz

    Excelente texto. Por que ninguém comenta nada? Quando vi que o documentário ia falar de “fake news” a conta fechou.

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