Neocomunismo: O espírito de Frankfurt

Por Fabio Blanco

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Heidelberg, 1964: Max Horkheimer e Theodor Adorno, à sua direita. Jürgen Habermas, ao fundo, à direita, com a mão à cabeça. Ao fundo à esq., Siegfried Landshut.
Foto de Jeremy J. Shapiro.

 

“Os frankfurtianos não apostavam muito no paraíso socialista, mas acreditavam que a História era movida pela força do ‘negativo’ (uma sugestão de Hegel que eles tomaram ao pé da letra), e que, portanto, o mais belo progresso consiste em destruir, destruir e depois destruir mais um pouco.
Tentar ser razoável era apenas ‘razão instrumental’, artifício ideológico burguês.
Séria mesmo, só a ‘lógica negativa’.”
Olavo de Carvalho

 

Quando o muro de Berlim veio abaixo, quase todos que testemunharam aqueles acontecimentos esperavam que as ideias que o sustentaram ruíssem também. No entanto, aconteceu exatamente o contrário: enquanto a União Soviética sumia do mapa, o marxismo, que era seu espírito, espalhou-se, possuindo almas por todo o mundo.

O comunismo, que parecia decrépito no final dos anos 80, aparece completamente vitalizado no século XXI. De intelectuais a políticos, além de quase toda a expressão cultural vigente, praticamente não há ninguém, nem setor algum, que esteja livre da influência marxista, se não nos objetivos políticos, pelo menos na sua forma de pensar.

A verdade é que o comunismo permanece bem vivo, certamente até mais forte do que antes.

Após o fim da Cortina de Ferro, ele revigorou-se de tal forma que, hoje, é o pensamento dominante no mundo.

Como ele conseguiu isso?

Quem salvou o comunismo foi a Escola de Frankfurt,  que desde os anos 30 serviu de fonte de debates e reflexões sobre o marxismo e sua relação com a sociedade. Após instalar-se nos Estados Unidos, por causa das circunstâncias relativas à ascensão nazista na Alemanha, conseguiu difundir suas ideias, de maneira que elas penetrassem profundamente no imaginário das pessoas e em sua cultura.

As teses dos pensadores da Escola de Frankfurt penetraram fundo nos corações e mentes porque, por um lado, conseguiram preservar o ideal marxista sem ferir seus fundamentos, por outro, deu novo ânimo ao movimento, libertando-o das amarras que não permitiam que ele se expandisse.

A verdade é que o comunismo, com a implantação do regime soviético na Rússia, tornou-se, cada vez mais, um sistema hermético e doutrinário. Fundamentados nas ideias estabelecidas na Primeira e Segunda Internacionais, o regime estabeleceu-se, fechando-se dentro de si mesmo, tornando o comunismo uma ideia desapegada do resto da humanidade. Comunistas eram aqueles seres estranhos, que viviam em uma terra estranha, com ideias mais estranhas ainda.

Foram os intelectuais judeus marxistas da Escola de Frankfurt, como Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Leo Löwenthal, Walter Benjamin, Ernst Bloch, Jürgen Habermas, além de outros, que deram vigor a um movimento (que sempre existira dentro do comunismo) de revisão dessa maneira cerrada de ver as ideias comunistas e passaram a divulgar seus pensamentos.

Mal vistos pelos marxistas ortodoxos, os intelectuais de Frankfurt, pouco a pouco, conseguiram aproximar o marxismo da vida real das pessoas que viviam no Ocidente, tornando-o algo palatável, em princípio, até o ponto de fazê-lo agradável e desejável.

O sucesso das ideias frankfurtianas se deram por diversos motivos. O primeiro deles foi o fato de oferecerem uma opção anti-dogmática do marxismo. A forma doutrinária de pensar o marxismo foi fortemente criticada pelos intelectuais da Escola de Frankfurt, que promoveram um pensamento mais flexível das ideias marxistas. Isso elevou-o para algo menos materialista, em seu sentido mais estrito, e acrescentou um aspecto espiritual a ele (entendendo-se aqui espírito como algo ligado à intelectualidade e consciência humanas). Assim, o homem, que no marxismo ortodoxo era visto praticamente como mero efeito das condições materiais da sociedade, ganhou dignidade, com uma certa valorização de sua subjetividade, transformando-o em autor da obra revolucionária, não apenas resultado dela. Com toda essa mudança de perspectiva, outros setores da sociedade, além do proletariado, puderam ser agregados ao movimento responsável pela implantação do comunismo, dando poder de penetração das ideias socialistas por todo o Ocidente.

Claro que isso não aconteceu do dia para a noite. Enquanto existia a União Soviética, esse marxismo liberal de Frankfurt se estabelecia de maneira um tanto sorrateira, algumas vezes com o próprio aval de Moscou, outras em formas que iam além do que o próprio núcleo do Politburo podia controlar.

O fato é que, enquanto o comunismo soviético ia se degradando, dia após dia, o outro comunismo, saído das penas dos intelectuais da Escola de Frankfurt ia se expandindo, apoiado pela longa marcha pelas instituições, com influência das ideias promovidas por Antonio Gramsci.

O comunismo então foi se moldando para seduzir novos adeptos, inclusive aqueles ligados a setores antes completamente rechaçados pelo movimento, como religiosos, minorias, marginais, espiritualistas e mesmo grandes capitalistas.

Quando a União Soviética cai de vez, junto as estátuas de Lenin derrubadas, o espírito do novo comunismo se liberta de vez, agora sem as amarras do corpo doutrinário que lhe limitava.

Hoje, quase mais ninguém está livre da influência das ideias marxistas. Graças à Escola de Frankfurt, elas se tornaram tão amplas e maleáveis que quase nenhum setor da sociedade pode dizer que consegue manter-se completamente protegido delas.

Inclusive, a maleabilidade é tal que até permite com que comunistas neguem essa sua condição, usando as ideias de Frankfurt para parecer que são críticos do comunismo, quando, na verdade, estão apenas usando do mesmo expediente da escola: criticar um aspecto exterior da ideologia para fortalecer seu espírito.

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3 Comentários
  1. Chauke Stephan Filho Diz

    Interessante…

  2. Eduardo Moura Diz

    Muito bom. Vou divulgar

  3. Eduardo Moura Diz

    Muito bom conteudo

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