“Julgamento nas urnas”, uma idéia imbecil

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Por Rafael Rosset. Publicado em 20 de janeiro de 2018.
Arquivo MSM.

 

“Prefiro que as urnas julguem Lula”, diz o Clovis Rossi hoje na Folha de São Paulo. FHC e João Dória também já defenderam a candidatura de Lula, afirmando que seria melhor vence-lo numa eleição do que vê-lo preso.

Se Lula, condenado, conseguir registrar sua candidatura e carregar sua campanha movida a apelações e embargos até outubro, seu nome vai estar na urna, e se estiver pode perfeitamente ser eleito. Nesse caso o eleitor terá conduzido um criminoso convicto à liderança maior da nação. Não seremos mais um país, mas nos apresentaremos diante do mundo como uma imensa quadrilha, e não seremos mais cidadãos, seremos cupinchas, cúmplices.

Isso não é piada. O Brasil pode de fato se tornar o primeiro país no mundo ocidental a ser liderado por um criminoso condenado pelo judiciário de seu próprio país.

“Julgamento nas urnas” é uma ideia imbecil. Com raríssimas exceções, maiorias nunca são boas juízas de nada. Aliás, eleitor não é juiz. Eleitor não decide se alguém cometeu ou não crime. Se o Fernandinho Beira Mar se candidatar e for eleito, os crimes dele ficam perdoados e apagados? Então vamos abolir logo o judiciário, e cada vez que alguém cometer assassinato a gente faz uma eleição.

TODOS os países desenvolvidos adotam algum tipo de filtro entre a vontade popular e as instâncias decisórias da nação. Em lugar nenhum “a voz do povo é a voz de Deus”.

É imperativo derrubar esse tabu de que o que a maioria decide é necessariamente melhor. Pra que isso seja verdade é preciso uma conjunção extremamente improvável de fatores: o sistema partidário deve oferecer opções sólidas ao eleitor (e qual é a opção entre Lula, Alckmin, Marina, Meirelles, Eymael, Ciro, Collor e Boulos?), eleitor esse que deve ser provido de um bom grau de cultura política (não é nosso caso) e boa vontade em participar do processo político (não é nosso caso). Mesmo nos países ditos de primeiro mundo essa reunião de fatores não é comum, e o Brasil é provavelmente a única grande nação a partir do pressuposto de que TODO MUNDO com idade entre 18 e 70 anos tem condições de tomar decisões informadas acerca de temas complexos como macroeconomia, política externa e direitos fundamentais, quando a esmagadora maioria sequer consegue administrar a própria vida. Faça o teste. Converse com pessoas aleatórias do seu convívio, desde o porteiro até o colega de trabalho com pós graduação. Pergunte a opinião das pessoas sobre tripé macro econômico, acordos multilaterais, policiamento de fronteiras, funcionamento da previdência, descriminalização das drogas, aborto. A maior parte manifestará opiniões idiotas em parte ou em todos esses os temas. Mas nós somos levados a crer que uma coletividade formada por eleitores com Q.I. médio de 76, coagidos a avaliar projetos complexos, vai de alguma forma produzir decisões brilhantes.

A voz do povo não é a voz de Deus, e com uma frequência alarmante pode ser a voz do próprio Diabo.

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Esquerdista achando acertada a decisão de vetar a nomeação de uma ministra do Trabalho condenada por não anotar a CTPS do motorista, enquanto se revolta contra a possibilidade de não poder botar na Presidência da República um sujeito condenado a 9 anos e 3 meses de cadeia por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio, e réu em outros seis processos, acusado de tráfico de influência, corrupção passiva e outros crimes que, em tese, lesaram o erário em milhões, porque “não há provas contra Lula”.

Discutir com petista em geral é uma péssima ideia, porque enquanto você está discutindo política o sujeito está praticando proselitismo religioso.

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Lula, Collor e Eymael candidatos. Dormi em 2018 e acordei em 1989.

https://www.facebook.com/rafael.rosset

 

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