Eleições auditáveis: A vontade da ampla maioria contra a “igrejinha” do ministro Barroso
Por Percival Puggina
Foto: O domingo (1ᵒ) foi marcado pelas manifestações, por todo o país, em favor de eleições auditáveis,e pelo direito do eleitor de receber um comprovante de votação constando o nome dos candidatos para os quais votou. Opondo-se à maioria da população e ao presidente, estão os representantes do velho establishment e da máfia política que ainda dominam muitas das nossas instituições, mesmo estão afundados em crimes e cumplicidade com tudo aquilo que tem sabotado, por décadas, o desenvolvimento sócio-econômico, cultural e juspolítico no Brasil.
Segue o comentário de Percival Puggina:
Na igrejinha do ministro Barroso, eu sou o Tomé
Sabem por que não confio nas atuais urnas eletrônicas?
– Porque o TSE confia
– Porque o STF confia
– Porque a OAB confia
– Porque a CUT confia
– Porque os grandes grupos de comunicação do país confiam
– Porque os partidos de esquerda confiam
– Porque os cidadãos que nelas confiam, confiam no TSE, no STF, na OAB, na CUT, nos grandes grupos de comunicação e… votam nos partidos de esquerda.
Essas são as razões principais da minha suspeição que tem, também, evidências de outra ordem, a saber:
– elas exigem um ato de fé religiosa, segundo um “catecismo” tecnológico que afasta a apuração dos olhos do eleitor;
– elas são o inverso do que deveria ser um ato de apuração de votos, amplamente público e fiscalizado pelos partidos e candidatos;
– nenhuma democracia de respeito as utiliza em eleições presidenciais.
Ao encerrar uma apuração, contados os votos, feitas as “auditorias” do ministro Barroso, ele deveria anunciar os resultados proclamando:
“Bem-aventurados os que não viram e creem!”
Nessa igrejinha do ministro Barroso, eu sou Tomé.
E o voto e a vontade do eleitor, contam ou não contam?
Porque nos deixamos demitir durante tanto tempo da vida pública brasileira, hoje recolhemos adjetivos cuja síntese é a seguinte: “Vocês, conservadores e liberais, são invasores intrometidos num compartimento da vida social do qual nós, ‘progressistas’, legítimos proprietários, os dispensamos com um abano de nossos lencinhos perfumados”.
É o que deduzo do noticiário destas horas que sucedem à longa exposição feita pelo presidente da República na noite do dia 29 de julho. Só essa usurpação explica a arrogância explícita daqueles que nos falam com inconcebível non sense desde o alto de sua fragmentada torre de marfim. O que dizem e escrevem tem o mesmo tom repressivo das providências adotadas pelo senhor Barroso nos altiplanos do TSE. Sai para o corpo a corpo da comunicação, como dono da eleição, dono das urnas e de cada urna, em defesa de um obscuro processo de votação e apuração. É o mesmo tom presunçoso que ouvi no discurso de Diaz Canel, presidente cubano, no dia 11 de julho. Ele falou como dono das ruas, sem apresentar credenciais para essa posse; Barroso fala como senhor da eleição, sem apresentar credenciais para se postar entre ela e os olhos do eleitor.
Todos os jornalistas e meios de comunicação que adestradamente reproduzem as manifestações do ministro ao Brasil e ao mundo usam artifícios muito rasos de linguagem para contornar as seguintes obviedades e dificuldades:
– nossas eleições não infundem certezas e exigem sucessivos atos de fé cuja natureza é tecnológica e, portanto, de um catecismo incomum entre os cidadãos;
– embora o sistema pelo qual se bate o TSE seja tão divinamente perfeito, de 178 países, apenas 16 usam algum tipo de urna eletrônica de votação e nenhuma grande democracia realiza – – eleições nacionais com artefatos como os usados no Brasil.
– sessões de votação fiscalizadas por partidos e candidatos, juntas escrutinadoras sob os olhos do juiz eleitoral, dos partidos, dos candidatos e da imprensa, boletins de urna acompanhados e conferidos por todos os interessados inspiram muito maior credibilidade do que uma urna incineradora que dá sumiço nos votos do eleitor;
– a impressão de votos pela urna, sua conferência visual pelo eleitor, o recolhimento mecânico desse sufrágio para uma outra urna com cujo conteúdo o BU eletrônico possa ser auditado, não é um retorno ao velho voto em papel como falsamente informa o TSE;
– não há como comprovar fraude num sistema em que os votos não podem ser contados aos olhos de todos;
– há algo muito misterioso na atmosfera política quando mero aperfeiçoamento do sistema para atender à transparência e à publicidade exigida dos atos eleitorais suscita súbitas mudanças de opinião dentro do Congresso Nacional, após inusitada visita do ministro presidente do TSE…
Negar tudo isso exige a mesma dificuldade de visão e de percepção requerida para não notar que os indícios trazidos pelo presidente têm vício de origem. É contra ele que se faz toda essa mobilização de bastidores. E você, eleitor, não conta. Você também foi demitido do processo; vota e não bufa. Nem uma palavra é dita a seu respeito por aqueles que, com unhas e dentes se aferram a essa velharia eletrônica em que votamos.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário, escritor, colunista de dezenas de jornais e titular do site www.puggina.org, no qual os presentes comentários foram publicados originalmente. Autor dos livros ‘Crônicas contra o totalitarismo’; ‘Cuba, a tragédia da utopia’; ‘Pombas e Gaviões’e ‘A Tomada do Brasil’. Integrante do grupo Pensar+.