Muita gente não entendeu a gravidade do que aconteceu no Chile. Não é “apenas” uma igreja queimada. É o prenúncio de uma nova onda de violência sistemática contra cristãos, não em algum recanto distante do mundo árabe, mas aqui mesmo “em casa”.
Essa surpresa, contudo, não tem justificativa histórica. Quem disse que ser cristão na América é chupeta no mel?
A História da América Latina – e do mundo – é pontuada por ondas de repressão contra a fé cristã, e de consequente martírio dos cristãos.
O que estamos vendo é o ressurgimento de um fenômeno histórico muito antigo por aqui: violência e terror contra a fé cristã; começa sempre com a destruição de igrejas.
A recente espiral de violência anticristã começou em meados de 2018 com protestos de menor intensidade ao redor de Santiago.
Lembro de um pastor presbiteriano que alertou para a natureza anticlerical dos protestos.
Muito antes disso, no processo de “redemocratização”, o clero no Chile respondeu uma infinidade de acusações.
O ódio foi semeado na origem da democracia chilena, de modo que o anticlericalismo é confundido com a democracia no Chile.
A origem histórica do ódio contra a fé cristã na América (Latina) é muito mais antiga. É bom lembrar que os cristãos que aqui chegaram interromperam rituais de infanticídio, sacrifício e oferenda de sangue inocente aos deuses.
Antes da infiltração da Teologia da Libertação e da Teologia da Missão Integral, os cristãos católicos e protestantes sempre foram um bastião de resistência contra a esquerda latina, inclusive resistência armada e organizada.
Há mais de 90 anos o Estado mexicano já usava todo seu aparato militar para reprimir os católicos que se insurgiram contra leis anticristãs que a Revolução trouxe.
Muitos pegaram em armas. Milícias foram criadas no campo. O povo resistiu.
A Guerra Cristera, na longínqua década de 1920, resultou no assassinato de mais de 100 mil cristãos. Milhares de camponeses aceitaram o martírio na luta contra o Estado mexicano, possuído pela revolução.
Tudo isso aqui, na América Latina, vista como reduto seguro do cristianismo ocidental.
A eleição do esquerdista Lopez Obrador para a presidência do México, em 2018, reavivou a febre da esquerda radical anticristã.
O que vemos hoje é apenas um eco distante do que começou muito tempo atrás. Uma nova onda de um ódio muito antigo. Hoje, porém, a maioria dos cristãos não está preparada para a transição mental que esse momento ímpar exige. Todos crescemos ouvindo e lendo sobre a perseguição aos cristãos na China ou no mundo muçulmano. É difícil reprogramar a mente para a realidade que já se consolidou na América Latina. E muitos nem pensam que é o caso.
Não confundam o que está acontecendo no Chile com a revolta exagerada de adolescentes birrentos. Os cristeros estão bem na sua porta.
Thiago Cortês é sociólogo e jornalista.