Cristianismo, senso da proporções e a farsa do ecumenismo

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Por Olavo de Carvalho. Publicado em 26 de janeiro de 2018, no Diário Filosófico.
Arquivo MSM.

 

O Cristianismo ensina que Jesus não é uma testemunha da verdade, mas sim a própria Verdade encarnada como Pessoa humano-divina, e que essa Pessoa, por seu amor, nos abre as portas da vida eterna quando lhe damos nossa confiança e nosso amor.

Jesus tem nisso algum concorrente? Podem procurar.

As religiões só são similares — e portanto unificáveis — com base em generalidades ocas inventadas para consolo da mentalidade laicista.

Ou seja: só existe ecumenismo entre cadáveres de religiões.

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Jesus é o Logos, a Razão divina, o princípio da ordem e o topo de todas as hierarquias. Cultivar o senso das proporções é uma forma modesta, mas real e obrigatória, da Imitação de Cristo.

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Justiça É senso das proporções. Não há justiça na Terra sem a escala dos delitos e das penas, nem no céu sem a hierarquia dos méritos espirituais, nem no inferno sem a gradação dos vários níveis do mal.

Quem diz “Pecado é pecado, não existe pecadinho e pecadão” já peca contra o Primeiro Mandamento.

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Muitos sentem horror quase físico de adúlteros, ladrões e sem-vergonhas em geral, mas ante um macrogenocida reagem com uma condenação vaga e abstrata, desacompanhada de qualquer sentimento pessoal.

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Um sonho da minha vida é um dia conseguir calibrar a minha alma para que reaja sempre com senso das proporções, que é uma decorrência imediata do Primeiro Mandamento.

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O primeiro e mais elementar movimento do amor ao próximo é compreender sem julgar. Só julgar quando for uma obrigação moral ou um dever de estado.

Se cada um compreendesse aquilo que julga, na maioria dos casos guardaria o julgamento para si.

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O maior erro dos cristãos é a pressa em julgar e condenar em nome da generalidades morais, sem a mínima curiosidade de compreender o caso concreto.

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Nosso Senhor Jesus Cristo só pode ser estudado desde o ponto de vista da metafísica de Guénon e Schuon se abolimos tudo aquilo que O singulariza — isto é, o Evangelho inteiro — e O reduzimos a uma “função cósmica” similar à de tantos outros “enviados”. É um tremendo erro de método.

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A permanente insegurança de poder respirar no instante seguinte, que foi a minha experiência cotidiana por sete anos, foi o que me ensinou a considerar, sem medo, mesmo as hipóteses mais inverossímeis, e a jamais contar com a certeza aparente das crenças majoritárias. Hoje agradeço a Deus essa experiência.

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A fé não consiste em acreditar em qualquer coisa que a autoridade lhe diga. Consiste em permanecer fiel a uma verdade conhecida, mesmo quando você não pode prová-la para os outros.

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A mentira essencial do ecumenismo é ignorar que as religiões NÃO SÃO espécies do mesmo gênero. A partir daí, todas as confusões são aceitáveis.

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O Cristianismo ensina que Jesus não é uma testemunha da verdade, mas sim a própria Verdade encarnada como Pessoa humano-divina, e que essa Pessoa, por seu amor, nos abre as portas da vida eterna quando lhe damos nossa confiança e nosso amor.

Jesus tem nisso algum concorrente? Podem procurar.

As religiões só são similares — e portanto unificáveis — com base em generalidades ocas inventadas para consolo da mentalidade laicista.

Ou seja: só existe ecumenismo entre cadáveres de religiões.

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Antes de chegar a essa conclusão, mergulhei no ecumenismo profundamente, tomando-o a sério e levando às suas últimas consequências a hipótese da “unidade transcendente das religiões”, até descobrir que ela só é certa no que diz respeito a certas premissas METAFÍSICAS comuns às várias religiões, o que não significa, como pretendem Guénon e Schuon, nem que a metafísica seja superior às religiões por ser mais abrangente — absurdo equivalente a afirmar que as leis gerais da fisiologia animal sejam um animal superior aos outros –, nem que exista, acima dos ritos religiosos de qualquer espécie, uma “iniciação metafísica”. Sem a teoria da unidade transcendente das religiões, o ecumenismo é apenas um agradinho político-diplomático; com ela, é uma confusão entre metafísica e religião.

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Se um católico rejeita “in limine” o ecumenismo sem examiná-lo a fundo e alegando simplesmente que a sua é a única religião verdadeira, ele acerta materialmente mas erra formalmente, porque julga e condena sem conhecer. Nisto, como em tudo o mais, as certezas universais não podem substituir o exame dos fatos particulares. Achar que o podem, como entre tantos católicos brasileiros se tornou quase uma obrigação religiosa, é a mais devota desculpa para a preguiça de conhecer e sua filhinha dileta, a pressa de julgar. O único caminho válido é “chercher en gémissant”.

 

 

 

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