Comunismo na Venezuela: uma nação agoniza sob o pesadelo da fome

Por Luis Dufaur

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Morei alguns meses em Caracas, capital da Venezuela, na década de 70. É difícil transmitir a sensação de distensão e facilidades de vida, abundância de importados e excesso de dólares.

No ano em que cheguei o governo fechou o orçamento com um excedente de 10 bilhões de dólares, valor que deveria ser corrigido bem para acima na cotação atual.

Ninguém se queixava economicamente de nada em todas as categorias sociais. Todo o mundo comprava importados nos supermercados, enquanto a reforma agrária nacional destruía a fonte de alimentos do país.

Havia fabulosa produção de petróleo, cotação internacional muito alta e muita alegria de viver. Quando li o que agora vou comentar levei um choque.

É que segundo reportagem do jornal Clarín, “a classe média desapareceu da face da potência petrolífera do Caribe, a Venezuela”. Os ricos já fugiram do país, só ficam nadando em ouro a seita socialista e seus teólogos.

A reportagem continua: “96% das famílias caíram para abaixo do nível de pobreza, sendo que 79% do total mergulhou no subsolo da pobreza extrema, agora agravada pela pandemia de coronavírus”.

Os dados são da Pesquisa sobre Condições de Vida (ENCOVI) 2019-2020 apresentados pelas principais universidades da Venezuela, lideradas pela católica Andrés Bello (UCAB).

O reitor da UCAB, padre José Virtuoso, o professor Pedro Luis España e a nutricionista Anitza Freites explicaram o que tais números significam.

O reitor jesuíta, Pe. Virtuoso, indicou que os resultados põem a Venezuela “entre os países mais pobres e instáveis do mundo” e “se tornou um inferno para a maioria dos venezuelanos”.

O professor Pedro Luis España garantiu que a desnutrição crônica transformou a Venezuela em um país africano com “consequências a longo prazo irreversíveis”.

Do 96% de famílias na pobreza, 54% são de pobreza recente, 68% na pobreza do consumo e 41% na pobreza crônica.

“A Venezuela é o segundo país mais pobre da América Latina” e a miséria “continua aumentando”.

Pobreza extrema aqui significa que não há alimentos para o mês em 79,3% dos lares e 68% dos cidadãos consomem menos de 2 mil calorias por dia.

“Há angústia pela falta de comida” porque o país já não tem para atender as necessidades ainda que queira.

O consumo médio de proteína na Venezuela, acrescentou, é de 17,9 gramas por dia, quando a exigência é de 51 gramas por dia”, média de todos os estratos sociais. O estômago se enche com farinha de milho.

Entre 2013 e 2019, o país perdeu 70% do PIB. A renda média venezuelana caiu para 0,72 centavos, que não permite cobrir a cesta de alimentos.

A nutricionista Anitza Freites observou que sob o chavismo a população caiu dos 32 milhões de habitantes previstos para os 28 milhões atuais.

8% das crianças menores de 5 anos de idade estão desnutridas e pelo menos 21% estão em sério risco de desnutrição.

30% das crianças menores de 5 anos (639 mil) apresentam desnutrição crônica exibindo baixa estatura.

A mortalidade infantil atingiu 26 por mil habitantes quando deveria estar em 12 por mil. “Estamos voltando aos níveis do final dos anos 80”, acrescentou.

A expectativa de vida teve “uma perda de 3,7 anos”, afirmou Freites.

Na opinião do professor España, a Venezuela em breve entrará em colapso humanitário total, numa espiral infernal de hiperinflação, fome e pandemia.

Sobre o coronavírus as informações – ou pior, a ausência delas — não poderiam ser mais inacreditáveis e impõem a pior impressão: “não há como saber o tamanho da crise”.

 

Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional, e sócio do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, é editor de vários blogs, dentre os quais o “Está Acontecendo“, que trata da conjuntura na América Latina, no qual o presente texto foi publicado originalmente.

 

 

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