A repressão governamental de fundo ideológico mata mais que o Covid-19 e que o próprio crime organizado. Por isso, a Venezuela sofre de três “pandemias” ao mesmo tempo, concluiu o Observatório da Violência da Venezuela (OVV), segundo o El Mundo, de Madri.
O OVV estima que o governo é culpado de 4.231 mortes violentas por “resistência à autoridade”, nome oficial que esconde as execuções extrajudiciais lideradas pelas Forças Especiais da Polícia Nacional Bolivariana ( FAES).
Essas “forças especiais” são definidas pela ONU como os “batalhões de extermínio” do socialismo venezuelano.
O governo “bolivariano” reconhece pouco mais de mil mortes causadas por Covid-19, embora fontes não oficiais e o Parlamento digam que o número certo equivale ao dobro disso.
“A ‘epidemia’ de violência policial se sustenta em aumento desde 2016. Em metade dos entes federados do país, a mortalidade policial foi maior do que a criminal”, disse Roberto León Briceño, diretor da OVV.
Coincidentemente, a FAES nasceu nesse ano de 2016 por ordem de Nicolás Maduro.
Além delas, todas as forças policiais e militares têm participado de execuções extrajudiciais, “incluindo uma brigada canina”, revelou o professor León Briceño.
“As mortes por ‘resistência à autoridade’ representam quatro vezes mais do que as mortes por coronavírus em 2020”, disse Briceño.
Das 11.891 mortes violentas durante o ano da “pandemia”, 4.153 foram classificadas como homicídios, há 3.507 mortes sob investigação e 4.231 são atribuídas a agentes do governo.
Entre os mortos ou executados pela polícia, 66% tinham antecedentes criminais ou policiais, de acordo com as autoridades. No total, desde 2016, 27.856 venezuelanos foram mortos pelo governo, quantificou Briceño.
Essas mortes violentas representam uma taxa de 45,6 por 100.000 habitantes, mas estão em retrocesso em relação a 2019, quando foram registrados 16.515 (taxa de 60,3) quando o Covid-19 ainda não se tinha manifestado.
A Venezuela continua liderando o ranking regional de violência. A Colômbia fechou 2020 com uma taxa de 23,3 mortes violentas por 100 mil habitantes, uma redução significativa. No México, os homicídios aumentaram para 30 por 100 mil habitantes e no Brasil atingiram 23,5 por 100 mil habitantes.
Mais de seis milhões de venezuelanos foram obrigados a fugir para o exterior para sobreviver.
Os grandes grupos do crime organizado foram beneficiados pelo lockdown pois “encontraram novos nichos de extorsão” com caixas de comida subsidiadas pelo governo, contrabando de importação ou assédio contra estabelecimentos, clínicas e empresas.
O novo modus operandi de extorsão inclui o lançamento de granadas contra quem não paga. O OVV contou entre três e quatro explosões semanais.
O crime se dolarizou, abandonando a moeda nacional. “Os extorsionários, sequestradores e assaltantes cobram em dólares, mas também os policiais e militares corruptos”, certificou Briceño, que qualificou o grau de letalidade policial de “extermínio”.
O diretor da OVV inclui entre os danos mais graves da criminalidade ideológica oficial a perda de soberania nacional.
O governo faz pactos nas fronteiras que são “mecanismos de coabitação entre grupos armados e forças do Estado”: o crime definido pela lei diminui pela imposição de uma nova lei que é a dos criminosos, explicou Briceño.
Dessa maneira desaparece o Estado de Direito e a própria noção de uma nação organizada e se retorna a um tribalismo criminoso em que preside o cacique mais cruel.
Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional, é sócio do IPCO e editor de diversos blogs, dentre os quais o ‘Acontecendo na América Latina‘.
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