China: perseguição anticristã piora com crise do Covid-19 e invasão de Hong Kong

Por Luis Dufaur

Foto: Só na primeira metade de 2020, 900 cruzes foram removidas das igrejas da província de Anhui, que tem a segunda maior população cristã da China, segundo o Bitter Winter.

 

Em pleno surto de coronavírus, administrações provinciais chinesas como as de Henan, Shanxi, Jiangxi e Shandong forçam os cristãos pobres a remover os símbolos religiosos de suas casas e a renunciar à fé em Deus para receberem bolsas.

Caso não se submetam, perdem as bolsas mínimas de subsistência ou redução da pobreza. A intimidação se espalhou por todo o país, noticiou o site Bitter Winter.

Em junho, um funcionário do condado de Lin – norte do país – alertou repetidamente pelas redes sociais para remover todos os símbolos religiosos das casas.
O agente do Estado marxista pregou que a Cruz representa ensinamentos heterodoxos e que deve ser eliminada por ordem superior. Em seu lugar as famílias pobres devem instalar retratos de Xi Jinping.

Quem não obedecer deve responder criminalmente.

As bolsas de auxílio contra a pobreza também serão cortadas se os residentes não se livram de livros e objetos religiosos.

Um morador de Lin disse ao Bitter Winter: “Todas as famílias, sem exceção, devem exibir retratos de Xi Jinping e tirar fotos ao lado deles”.

Um idoso de 84 anos, em cuja casa a cruz foi substituída pela foto de Xi, reclamou e contou: O secretário municipal do Partido Comunista pediu jogar fora a Cruz e que daquele momento em diante eu deveria orar a Xi Jinping”.

Os cristãos pobres ficam constrangidos porque dependem do subsídio de subsistência. As pessoas devem seguir o Partido que lhes dá dinheiro, e não a Deus.

É patente que todas as tiradas do Papa Francisco pelos pobres e contra os opressores aqui não têm validade e nem são objeto de desaprovações vaticanas.

Um fiel que recebia assistência social para famílias de baixa renda, residente na cidade de Qiaoshe, foi forçado a obedecer para não ficar sem sustento. E relatou: “os funcionários disseram que, já que acredito em Deus, deveria pedir-Lhe que me alimentasse e não viver graças ao Partido Comunista. Já não me atrevo a ler a Bíblia à luz do sol e sou forçado a fazê-lo à noite porque temo que os benefícios sejam revogados”.

Horrorosa situação que não incomoda à Ostpolitik vaticana que anda de braços dados com os marxistas sem sensibilidade humana.

Um católico de 75 anos de Fuzhou, Jiangxi, que recebe o benefício mínimo de subsistência ouviu que “os veteranos devem seguir o Partido Comunista e quem desfruta dos benefícios mínimos de subsistência não pode acreditar em Deus”. Foi forçado a pendurar um retrato do ditador Xi Jinping em sua casa.

Em abril, autoridades do distrito de Guangfeng, Shangrao, Jiangxi, destruíram um calendário religioso encontrado na casa de um cristão e em seu lugar afixaram retratos de Mao Tsé Tung e Xi Jinping e um pôster dizendo “Seja grato ao Partido, obedeça e siga o Partido”.

Os déspotas que se empossaram de Hong Kong vetaram a oposicão democrática e adiaram um ano as eleições legislativas cujo resultado se previa desastroso para o comunismo.

O pretexto aduzido foi os riscos do coronavírus , segundo o “ABC” de Madri. O vírus está se tornando um alibi universal para as esquerdas.

Os acossadores evocaram a Lei de Segurança Nacional imposta por Pequim. A lei também serviu para prender a Jimmy Lai, magnata da imprensa crítica ao autoritário regime de Pequim.

O recém criado Departamento de Segurança Nacional prendeu a Lai e pelo menos seis de seus colaboradores, inclusive dois de seus filhos, por “colusão com forças estrangeiras, publicar mensagens sediciosas e conspirar para defraudar”, segundo atas do processo citadas pelo jornal “South China Morning Post”.

Mais de 200 agentes fizeram uma devassa nos escritórios da empresa que edita seu jornal, o Next Digital. A polícia garante que a investigação visa o departamento financeiro e o administrativo, e não a redação nem os jornalistas que escrevem as notícias.

Com a prisão do filantropo católico Jimmy Lai, o Partido Comunista Chinês quer mostrar que quem o critica acabará na prisão, escreveu o diretor de “Bitter Winter”, Massimo Introvigne.

Em segundo lugar, que a mídia independente não será mais tolerada.

Terceiro, e mais grave é a mensagem enviada à Igreja Católica: não serão tolerados os objetores de consciência católicos da China continental – bispos, padres e leigos – que não aderem à Associação Patriótica Católica Chinesa (APCC), controlada pelo Estado, embora sejam autorizados e até encorajados a fazê-lo pela Santa Sé.

O Vaticano em 2019 pediu que esses objetores de consciência fossem “respeitados”, fato que não está acontecendo, pois estão sendo perseguidos e presos.

O Papa Francisco não se dá por informado.

As comunidades perseguidas são geralmente muito pobres mas podiam receber apoio, direto ou indireto, de Lai. Entre 2005 e 2011 o magnata doou cerca de 20 milhões de dólares de Hong Kong ao ex-bispo da cidade, o cardeal Joseph Zen Ze-kiun.

O dinheiro financiou os estudos dos padres chineses em Roma, as viagens do cardeal ao Vaticano e outras boas causas.

O dinheiro restante foi para a Igreja clandestina na China que recusa se submeter à “Igreja Patriótica” comunista.

É velha tática do Partido Comunista estrangular os dissidentes religiosos drenando seus recursos financeiros.

Agora a própria Igreja Católica de Hong Kong, dirigida por novos bispos pro-comunistas pode aderir à “Igreja Patriótica”, da qual era independente até agora, concluiu Introvigne.

Quando a notícia de que o padre Huang, da diocese de Mindong, foi torturado por não se filiar à Associação Patriótica Católica Chinesa (APCC) chegou ao estrangeiro, as autoridades chinesas entraram em pânico, conforme o Bitter Winter.

O iníquo Acordo de 2018 entre a Santa Sé e a China dever ser renovado em data próxima.

A polícia alega que o Pe. Huang “minou a unidade da Igreja Católica chinesa” por causa de “infiltrações de forças estrangeiras”.

O Ministério da Segurança Pública quer saber a todo custo que o informante seja identificado. Também exige que assine uma declaração negando que sofreu à tortura conhecida como “esgotamento de uma águia”.

Um padre católico, que pediu para permanecer anônimo, comentou: “O Acordo entre a Santa Sé e a China de 2018 irá expirar em breve e o PC chinês teme que no curso das negociações para a renovação o Papa possa pedir explicações sobre o que aconteceu com o padre”.

O sacerdote acrescentou: “Esperamos que o Papa reconsidere a renovação do acordo. Esperamos que o Papa veja claramente a essência do PC chinês e sua atitude em relação ao catolicismo. O regime tem o objetivo final da eliminação do catolicismo ”.

O padre Huang e qualquer pessoa que o contatar são investigados. Também são monitorados os telefones celulares de religiosos e fiéis que sabem das torturas infligidas ao sacerdote.

Outros religiosos clandestinos querem revelar a intimidação contra padres católicos.

Um deles disse ao ‘Bitter Winter’: “Os fatos relativos às perseguições devem ser divulgados no exterior. Desde a denúncia da tortura sofrida pelo padre Huang, o regime deixou de usar esse método para obrigar outros padres a aderirem à APCC, pelo menos por enquanto”.

 

Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional, e sócio do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, é editor de vários blogs, dentre os quais o “Pesadelo Chinês‘, no qual o presente texto foi publicado originalmente.

 

 

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.