Budapeste, capital da Hungria.
O Papa Francisco foi recentemente à Hungria, por algumas horas, para pregar as eternas e sagradas verdades do politicamente correto. É claro, essas verdades podem mudar com o tempo; na verdade, é certo que o farão, mas sua sacrossantide permanecerá. Afinal, o sagrado deve mudar com o tempo.
Também fui recentemente à Hungria para uma curta viagem, um pouco mais longa do que a do Papa, cuja curta visita foi amplamente interpretada como desaprovação política. Fui para a Hungria e voltei para Paris, em vez de Roma. Devo dizer que, superficialmente, Paris parece um lugar muito mais autoritário do que Budapeste. Por exemplo, há mais propaganda política a uma curta distância de meu apartamento em Paris, exaltando as virtudes da oficialidade, e poderia se dizer, da laicidade militante, do que vi na Hungria.
Não quero pregar minha bandeira em terra com muita firmeza; não conheço a língua húngara o suficiente nem a respeito da Hungria o suficiente para ser capaz de refutar totalmente o que de mal se diz de seu atual e aparentemente futuro primeiro-ministro, Victor Orban. Ele é certamente corajoso, negando e desobedecendo as sagradas ortodoxias políticas de seu e nosso tempo; uma longa experiência, no entanto, me ensinou a não admirar muito, ou colocar minha fé, em políticos de qualquer espécie. Mesmo quando começam bem, os políticos tendem a terminar mal, e a maioria sequer começa bem. O fato é que devemos ter políticos da mesma forma que devemos ter controle de pragas: não podemos viver sem nenhum dos dois.
Tudo o que posso dizer é que Budapeste é, no momento, uma das mais agradáveis de todas as cidades para se estar.
Um contraste entre Paris e Budapeste me impressionou com muita força. Claro, as circunstâncias das duas cidades são diferentes e as circunstâncias alteram os casos; no entanto, o contraste é instrutivo. É aquele entre a civilização e a barbárie, e, sob certo aspecto, não é Paris que está do lado da civilização.
Em Budapeste, grandes esforços estão sendo feitos para restaurar a cidade à sua magnificência austro-húngara ou habsburguiana. Vestígios da era soviética, no centro da cidade, estão sendo demolidos e substituídos por réplicas exatas do que existia antes (Budapeste, é claro, foi uma das capitais mais bombardeadas da Segunda Guerra Mundial). Arquitetos modernistas, que tiveram uma breve chance de erguer suas monstruosidades ortodoxas após a queda do comunismo – os líderes da época acreditando supersticiosamente que modernidade e arquitetura modernista eram a mesma coisa -, foram excluídos da reconstrução.
Dada a conformidade quase totalitária dos arquitetos modernistas, a decisão de produzir réplicas exigiu certa força democrática por parte das autoridades, pois tal política está fadada a encontrar o desprezo dos arquitetos e críticos arquitetônicos que denunciam a incapacidade do público “entender” as glórias do modernismo e seus posteriores desdobramentos. Mas o fato é (ou provavelmente é, não se pode ser absolutamente dogmático) que a decisão de restaurar a cidade, ao invés de construí-la novamente, será abençoada pelos habitantes de Budapeste daqui a cem anos. Além disso, parece-me provável que aqueles que tomaram a decisão estavam pensando precisamente nesses termos; em outras palavras, nos termos da própria civilização. Os bárbaros aqui são os modernistas e seus acólitos.
Volto-me agora a Paris. A atual prefeita, Anne Hidalgo, que acaba de anunciar sua intenção de concorrer à presidência como candidata socialista, está enfeiando a cidade num nível a causar horrores. Ela foi eleita prefeita de Paris recebendo menos de 15% dos votos dos eleitores no primeiro turno da eleição, quando os eleitores expressam suas preferências reais e, como muitos políticos megalomaníacos, pensa que a eleição por meios legítimos conferia a ela o direito de tratar sua jurisdição como um oleiro trata seu barro.
Seja dito que a reconstrução no pós-guerra não foi gentil com Paris enquanto experiência estética: praticamente em todos os lugares que um edifício modernista foi erguido, ele arruinou seus arredores imediatos.
A grande conquista dos modernistas é ter inventado um estilo de arquitetura que só pode ser melhorado com a demolição (embora os arquitetos geralmente consigam se vingar construindo algo ainda pior). A chamada reabilitação ou restauração de edifícios modernistas é uma perda de tempo e dinheiro. Aqui, então, vai um desafio para quem gosta de desafios: encontre-me cinco edifícios construídos em Paris de 1945 a 2015 que sejam positivamente um real adorno para a cidade.
Mas a atual prefeita fez mais para tornar Paris feia do que qualquer outro na memória viva, exceto talvez Georges Pompidou, que permitiu a construção da Torre Montparnasse, o edifício mais odiado em Paris e verdadeiramente uma obra-prima de monstruosidade. Se você quiser entender o conceito de banalidade do mal (não aplicável, aliás, a Adolf Eichmann, a quem foi aplicado pela primeira vez), dê uma olhada na Torre Montparnasse.
Anne Hidalgo está enchendo a cidade de barreiras de concreto para proteger as ciclovias, o que – supostamente – salvará o mundo da poluição chinesa e de outras. Além das barreiras de concreto, há horrendos postes de amarração de plástico branco e amarelo que não conseguem manter sua posição vertical por muito tempo e logo ficam imundos e danificados. Eles são tão horríveis que poderiam transformar Versalhes ou o Louvre em uma favela quase que imediatamente. Existem planos para centenas de quilômetros de barreiras de concreto em Paris.
Como todos os ideólogos obscuros mas implacáveis, os ambientalistas olham para o mundo através das lentes distorcidas de suas idéias simplistas. Não veem com os olhos, mas com suas intenções (sempre com as melhores, claro). Quando eles olham para a horrível bagunça feita pela prefeita Anne Hidalgo, que causou muito mais danos ao tecido físico de Paris do que a ocupação nazista jamais fez, eles não vêem a bagunça horrível, mas os níveis supostamente mais baixos de CO2 no ar. A beleza visual não é nada para eles, quando comparada com seu exaltado senso de justiça própria.
É verdade que as barreiras de concreto poderiam ser facilmente removidas, embora provavelmente apenas a um custo considerável. Mas o fato de que foram primeiramente colocadas lá e isso não suscitou oposição furiosa, é testemunho de um declínio no apego aos valores civilizados, pelo menos no que diz respeito ao ambiente material – ao contrário de Budapeste, onde esses valores voltaram.
Theodore Dalrymple (Anthony Daniels), médico britânico e autor de 25 livros, dentre os quais ‘Evasivas Admiráveis – Como a psicologia subverte a moralidade’, ‘Em Defesa do Preconceito’ (leia resenha aqui), e ‘Nossa Cultura – ou o Que Restou Dela’, também é senior fellow no Manhattan Institute.
Publicado no The Epoch Times.
Tradução: Editoria MSM
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Paris é a capital da Françáfrica.