A apologia do infanticídio nos meios universitários
Por Padrepauloricardo.org. Publicado em 10 Maio 2013. Arquivo MSM.
Se leis iníquas estão em curso nas Câmaras dos Deputados, Senados e Supremas Cortes é porque antes um grupo de “estudiosos” – muitas vezes financiados por fundações filantrópicas – preparou o terreno para que elas fossem semeadas no debate público.
O caso do Dr. Kermit Gosnell – que segue sob julgamento nos Estados Unidos – chocou a opinião pública no mês passado por tamanha crueldade dos crimes. O médico responde à acusação de pelo menos oito homicídios, sendo sete de crianças recém nascidas, após tentativas frustradas de aborto. Kermit Gosnell era dono de uma clínica de abortos na Filadélfia e seus métodos de abortamento espantaram até mesmo os defensores da causa. As crianças nascidas vivas tinham o pescoço perfurado pelo médico. Segundo depoimentos de testemunhas que trabalharam com o acusado, o número de assassinatos de bebês ultrapassa a casa dos 100.
Por outro lado, se os crimes de Gosnell podem provocar indignação, não faltam aqueles que tentam justificá-lo, mesmo no campo da “bioética”. Em março de 2012, uma dupla de “especialistas” publicou um artigo no periódico britânico “Journal of Medical Ethics”, intitulado “Aborto pós-natal: por que o bebê deveria viver?”. O paper de Alberto Giublini e Francesca Minerva defendia abusivamente o direito dos pais, sobretudo das mães, de tirarem as vidas de seus filhos logo após o parto, caso considerassem ser esta a melhor solução para algum tipo de sofrimento psicológico. Após a repercussão negativa do trabalho na imprensa mundial, Giublini e Minerva – ambos filósofos da Universidade de Melbourne, Austrália – fizeram um pedido de desculpas público e disseram que a discussão deveria ter sido mantida no âmbito acadêmico.
A afirmação é no mínimo reveladora. Ao declararem que a discussão deveria ter ficado restrita ao público familiarizado com o tema, Giublini e Minerva trouxeram à tona um dado que talvez passasse despercebido por muita gente: o estudo para legitimação do infanticídio dentro das universidades. Na época da controvérsia, o editor-chefe do “Journal of Medical Ethics”, Julian Savulescu, chegou a defender os dois especialistas, argumentando por meio de um editorial que cerca de 100 artigos já haviam sido publicados sobre o assunto, alguns a favor e outros contra. Além disso, Savulescu afirmou que o debate está ativo há pelo menos 40 anos. Ou seja, existe dentro das universidades uma linha de estudo incisivo sobre a questão ética da prática do infanticídio. Essa linha, de acordo com Alberto Giublini e Francesca Minerva, parte do conceito de pessoa ligado à tese do doutor Michael Tooley, filósofo da Universidade de Princeton e professor na universidade de Colorado, nos Estados Unidos.
Neste prisma, a sentença de Hugo von Hofmannsthal de que “nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura” é de uma verdade acachapante. Se leis iníquas estão em curso nas Câmaras dos Deputados, Senados e Supremas Cortes é porque antes um grupo de “estudiosos” – muitas vezes financiados por fundações filantrópicas – preparou o terreno para que elas fossem semeadas no debate público. Foi assim que o comunismo e o nazismo subiram ao poder e será assim com outros regimes totalitários e políticas ditatoriais.
Ora, se matar crianças nos ventres de suas mães é permitido, por que não o seria logo depois do parto? Apesar de essa lógica ser perversa, é ela justamente o carro chefe da legalização do infanticídio que se propõe dentro das universidades, esses lugares que deveriam ser o âmbito da promoção da vida e da verdade. Assim, vê-se na prática o resultado dessas pseudo-ciências: casos abomináveis como o do Dr. Kermit Gosnell e a tolerância escandalosa do governo brasileiro à prática de infanticídio em tribos indígenas, algo que já foi fruto de denúncias inclusive de um jornalista australiano, Paul Raffaele, numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos em novembro do ano passado.
É vergonhoso, por conseguinte, perceber a instrumentalização da ciência para fins contrários à dignidade humana, mesmo após catástrofes semelhantes como as de Auschwitz e Camboja. As universidades, que na Idade Média – “Idade das Trevas” na língua dos inimigos da Igreja – produziam um Hugo de São Vítor, um Santo Tomás de Aquino, hoje se transformaram em fábricas de Pol Pots, Mao Tsé Tungs e Hitlers. É claro que não se pode generalizar, nem é essa a intenção, mas fatos como esses servem, sim, para se perguntar qual é realmente a Idade das Trevas, a da Suma teológica ou a das teses em defesa do infanticídio?
Do site do padre Paulo Ricardo.