Islamismo 2.0
Por Daniel Pipes. Publicado em 02 Dezembro 2009.
Arquivo MSM.
Embora a violência do islamismo 1.0 raramente obtém êxito no fomento da Sharia, a estratégia do islamismo 2.0 de trabalhar através do sistema se sai melhor.
Emprestando um termo usado na informática, se o Ayatollah Khomeini, Osama bin Laden e Nidal Hasan representam o Islamismo 1.0, Recep Tayyip Erdoğan (o primeiro ministro da Turquia), Tariq Ramadan (um intelectual suíço) e Keith Ellison (um congressista dos Estados Unidos) representam o Islamismo 2.0. Os primeiros matam mais pessoas mas os últimos representam uma ameaça maior à civilização ocidental.
A versão 1.0 ataca aqueles considerados como empecilho a sua meta de alcançar uma sociedade regida por um califado global e inteiramente regulado pela Shari’a (lei islâmica). As táticas originais do islamismo, do governo totalitário ao mega terrorismo, abrange uma brutalidade ilimitada. Três mil mortos em um ataque? A busca de Bin Laden por armas atômicas indica que o número de vítimas poderia ser cem ou até mil vezes maior.
Entretanto, uma revisão das últimas três décadas, desde que o islamismo se tornou uma força política importante, descobriu que a violência sozinha raramente funciona. Sobreviventes do terrorismo raramente capitulam diante do Islã radical – nem depois do assassinato de Anwar el-Sadat no Egito em 1981, nem dos ataques de 11 de setembro, dos ataques a bomba em Bali em 2002, dos ataques a bomba em Madri em 2004, dos ataques a bomba em Amã em 2005 ou das campanhas terroristas em Israel, Iraque, Afeganistão e Paquistão. O terrorismo causa lesão física e mata e intimida mas raramente subverte a ordem existente. Imagine se os islamistas tivessem causado a devastação do furacão Katrina ou o tsunami de 2004 – o que seria alcançado como efeito duradouro?
Violência não terrorista com o objetivo de implantar a Sharia não atinge mais êxito. Revoluções (com o significado de revolta social em larga escala) levaram os islamistas ao poder em apenas um lugar de cada vez – no Irã em 1978-79. Da mesma forma, o coup d’état (golpe de estado por militares) levaram os islamitas ao poder somente uma vez – no Sudão em 1989. O mesmo ocorreu com a guerra civil – Afeganistão em 1996.
Embora a violência do islamismo 1.0 raramente obtém êxito no fomento da Sharia, a estratégia do islamismo 2.0 de trabalhar através do sistema se sai melhor. Islamistas, adeptos da conquista da opinião pública, representam a principal força de oposição em países de maioria muçulmana tais como Marrocos, Egito, Líbano e Kuwait. Os islamistas se beneficiaram com o sucesso eleitoral na Argélia em 1992, em Bangladesh em 2001, na Turquia em 2002 e no Iraque em 2005.
Uma vez no poder, eles podem dirigir o país em direção à Sharia. Enquanto Mahmoud Ahmadinejad enfrenta a ira das manifestações de rua e bin Laden se encolhe de medo em uma caverna, Erdoğan se regozija com a aprovação pública, refaz a República da Turquia e propõe um modelo sedutor aos islamitas ao redor do mundo.
Reconhecendo este padrão, o teórico de outrora da Al-Qaeda repudiou publicamente o terrorismo e adotou os meios políticos. Sayyid Imam al-Sharif (nascido em 1950, também conhecido pelo nom de guerre Dr. Fadl) foi acusado de ajudar no assassinato de Sadat. Em 1988 ele publicou um livro sustentando a perpétua e violenta jihad contra o Ocidente. Entretanto, com o passar do tempo, Sharif percebeu a inutilidade dos ataques violentos e passou a defender a estratégia da infiltração no estado e influência na sociedade.
Em um livro recente, ele condenou o uso da força contra muçulmanos (“Cada gota de sangue derramada ou que estiver sendo derramada no Afeganistão e no Iraque é de responsabilidade de bin Laden e Zawahiri e seus seguidores”) e mesmo contra não muçulmanos (o 11 de setembro foi contraproducente, pois “o que se ganha destruindo um dos edifícios do seu inimigo e ele destruindo um de seus países? O que se ganha quando você mata um deles e ele mata mil dos seus?”).
A evolução de Sharif de teórico do terrorismo a defensor da transformação legal ecoa uma mudança bem mais ampla; assim sendo, como observa o escritor Lawrence Wright, sua deserção posa uma “terrível ameaça” à Al-Qaeda. Outras organizações islâmicas violentas no passado na Argélia, Egito e Síria reconheceram o potencial do islamismo legal e em geral renunciaram à violência. Também pode-se observar uma mudança paralela em países ocidentais; Ramadã e Ellison representam uma tendência florescente.
(O que se poderia chamar de Islamismo 1.5 – uma combinação de meios duros com meios brandos, de abordagens externas e internas – também funciona. Envolve islamistas legais com o propósito de acalmar o inimigo e em seguida a tomada do poder por elementos violentos. A tomada do poder pelo Hamas em Gaza comprova que esta combinação pode funcionar: vencer as eleições em 2006, depois executar uma insurreição violenta em 2007. É possível que processos análogos estejam acontecendo no Paquistão. O Reino Unido pode estar atravessando o processo inverso, através do qual a violência cria uma abertura política.)
Em resumo, somente islamistas, não fascistas ou comunistas, se deram bem além da força bruta para ganhar apoio popular e criar uma versão 2.0. Pelo fato deste aspecto do islamismo enfraquecer valores tradicionais e destruir liberdades, ele pode ameaçar o modo de vida civilizado até mais do que a brutalidade do 1.0.
Publicado no Jerusalem Post.
Original em inglês: Islamism 2.0
Tradução: Joseph Skilnik