O problema de 1939
Por Jeffrey Nyquist. Publicado em 10 de outubro de 2014.
Arquivo MSM.
“É extremamente difícil para um psicólogo acreditar no valor de qualquer ideologia social baseada em premissas psicológicas simplificadas.”
Andrew M. Lobaczewski, em ‘Ponerologia: psicopatas no poder’.
Em 1939, os países ocidentais, ao avaliar vis-à-vis a situação da Alemanha nazista e da Rússia comunista, erraram tão horrorosamente nos seus prognósticos que, para dizer a verdade, a guerra que se seguiu foi muito pior que a política do apaziguamento, pois esta última tinha como fim ganhar o tempo necessário para se preparar para a guerra. Como acabou por acontecer, os Aliados ocidentais declararam guerra quando não deviam e quando não estavam fortes o bastante, ajudando assim a criar a aliança germano-soviética que subjugou a Polônia, a França e mais alguns outros países. O Ocidente subestimou a força militar alemã e escolheu o pior momento possível para desafiar Hitler. Se eles tivessem esperado apenas mais um ano eles estariam fortes o bastante para não sofrerem derrotas.
A mesma lógica se aplica hoje. A Rússia vem sofrendo revezes econômicos. Talvez seja possível criticar a administração Obama por não enviar armamento pesado para a Ucrânia; mas, e depois, se essas armas causassem um efeito alarmista sobre o povo russo? Putin então poderia usar esse fato como justificativa para desencadear uma perigosa sequência de ações? Pode-se até argumentar que uma OTAN agressiva seria justificativa para a paranoia anti-Ocidental de Putin. Devemos neste caso aprender a verdadeira lição de 1939, especialmente considerando que nossas forças estão num nível muito baixo e que guerra não é o que queremos.
Em relação a isso, há toda razão para acreditar que não entendemos apropriadamente a situação estratégica. A China está com a Rússia ou é neutra? A OTAN é forte ou são apenas aparências? O poderio militar americano está no mesmo nível dos velhos padrões ou estamos enfraquecidos? As pessoas presumem que os Estados Unidos são invencíveis. Contudo, recentemente o governo americano admitiu que a Rússia tem mais ogivas nucleares que os Estados Unidos. E ainda nem contamos as ogivas nucleares chinesas.
Continuando as coisas como estão, penso que os russos estão planejando ações futuras para quando a temperatura esfriar. Outra insurreição pode estar em perspectiva, sendo que ela será seguida por uma intervenção militar maciça. Todavia, há outro enredo se desenvolvendo. Estão até sugerindo que a Rússia admitiu a derrota na Ucrânia. Há até rumores de que Putin está sendo colocado de lado e, por conseguinte, perdendo sua posição como líder russo. É o caso de perguntar se virá por aí outra NEP ou outro ciclo de “democratização russa”. Isso seria, claro, uma notícia boa, não fosse a certeza de voltarmos a cair no velho padrão de relaxamento em relação aos perigos — o velho hábito do pensamento utópico, que se baseia em premissas psicológicas ingênuas.
As pessoas que governam a Rússia têm uma psicologia criminosa. Não são pessoas “normais” e nós jamais devemos considerá-las tais. O governo russo não possui freios e contrapesos. Não há verdadeira separação de poderes, não há a força das leis. E essa é a circunstância a qual o poder corrompe e corrompe absolutamente. Essa é a circunstância que tem de mudar na Rússia se o resto do mundo quiser ter paz. E essa é a circunstância que, uma vez mudada, teria como maior beneficiado o povo russo.
Mas como conquistaremos essa mudança? Sob estas circunstâncias, a mudança pode vir apenas por meio de uma amostra de benevolência salvaguardada por uma política justa porém firme. O povo russo não é nosso inimigo, mas sim nosso potencial aliado. Eles querem a mesma coisa que queremos, ou seja, paz. Assim, se o gás natural é usado por Moscou como arma para intimidar a Europa, a coisa a se fazer é estender uma mão amiga para encorajar a solidariedade da OTAN, porquanto a estratégia mais visível da Rússia consiste em dividir a Europa da América por meio da pressão econômica.
O regime criminoso em Moscou também irá, no fim, ameaçar o bem estar americano, pois a KGB acredita que o conforto é o nosso ponto fraco. Faz sentido, portanto, atacar-nos economicamente. Como todos sabem, o dólar é vulnerável e nossa economia está estagnando. Um ciberataque contra os grandes bancos, ou um ataque terrorista, poderia ferir seriamente a economia americana. O que faríamos então para recuperar nossa prosperidade? Cortar nossos laços com a Europa? Nos fecharmos em uma redoma? O pesquisador polonês Andrew Lobaczewski observou que “Em geral […] particularmente em sociedades hedonistas, as pessoas possuem uma tendência a buscar refúgio na ignorância ou em doutrinas ingênuas. Algumas pessoas até sentem um certo desprezo pelas pessoas que sofrem.”
A América não deve ter desprezo pelas pessoas que sofrem. Logo em breve estaremos entre os sofredores. É assim que nos salvamos e é assim que as nações se salvam.
http://jrnyquist.com
Tradução: Leonildo Trombela Junior