Reflexões ulteriores sobre as críticas à Diana West – Parte 2

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Por Jeffrey Nyquist, em 28 Julho 2014.
Arquivo MSM.

 

O simples uso das palavras nada significa se você não sabe o significado delas.
Carl Jung

Na controvérsia envolvendo o livro American Betrayal, fui remisso em um aspecto: não escrevi uma resenha apropriada do livro. Em vez disso, escrevi duas versões de uma resenha que foram rejeitadas por editores. Estou grato por isso, pois não havia verdadeiramente investido o tempo necessário para fazer o serviço direito. Eu não havia apreciado devidamente o impacto da campanha contra a obra ou o quão efetiva a campanha foi. Aos que ainda não leram o livro, ele trata da infiltração comunista no governo americano e a influência que a política americana sofreu durante os anos críticos da Segunda Guerra Mundial e no período que se seguiu a ela. Os fatos revisitados no livro não são grandes novidades. O que é original é a maneira pela qual esses fatos são apresentados, isto é, de uma maneira que nos possibilita ver o cenário mais amplo de ação com muito mais clareza. Essa é a grande conquista de Diana West.

O livro possui implicações de longo alcance — e evidentemente essas implicações ainda precisam ser circunscritas. Por exemplo, devemos supor que os agentes soviéticos não estavam agindo apenas em Washington durante a Segunda Guerra Mundial. Eles também agiam em Chungking, Tóquio, Berlim, Londres e Paris. Se o governo americano tinha agentes comunistas infiltrados, é provável que todos os outros governos também tiveram. Como se estivesse provando o que eu disse, o jornalista vencedor do Prêmio Pullitzer, Louis Kilzer, escreveu um livro intitulado Hitler’s Traitor: Martin Bormann and the Defeat of the Reich [O traidor de Hitler: Martin Bormann e a derrota do Reich] alegando que Bormann era agente de Stálin. Nesse livro descobrimos que não era apenas o caso de Harry Hopkins estar manipulando Roosevelt. Hitler também foi manipulado por Bormann e provavelmente por outros que sequer sabemos da existência. Muitos livros hão de ser escritos ainda; por exemplo, um livro falando sobre como Churchill foi manipulado, além de de Gaulle. Considere o artigo de 1997 intitulado Como um agente comunista infiltrado uniu Tito e Churchill. Leve em conta também a situação de Charles de Gaulle como descrita na Enciclopédia de espionagem, espiões e operações secretas da Guerra Fria: “No final dos anos 1950, e especialmente desde a deserção de Anatoli Golitsyn em 1961, fortes suspeitas cercavam o SDECE (Serviço de Documentação Exterior e Contra-Espionagem) acerca da possibilidade de eles estarem abrigando agentes soviéticos infiltrados que eram figuras do círculo imediato do Presidente Charles de Gaulle após ele ter retornado ao poder em 1958”.

Há também o círculo de espiões em Tóquio, é claro. Dentro daquela organização, ao espião soviético Richard Sorge credita-se a proteção da União Soviética [de um ataque japonês] em 1941. No website Spy Museum podemos ler: “Os espiões [do círculo de Tóquio] buscaram estabelecer relações com políticos sêniores japoneses para que pudessem colher informações sobre a política externa japonesa”. Mas como sabemos, os espiões soviéticos não se contentam em simplesmente colher informações. O trabalho primário deles deve ter sido influenciar a política japonesa — assim como os agentes moscovitas infiltrados fizeram em Washington a fim de influenciar a política americana. Por que Tóquio não conseguiu selar a paz com a China e solidificar uma amizade com os Estados Unidos? Não é uma questão vã quando tantas lideranças japonesas pensavam que a direção estratégica apropriada para a nação japonesa era ir contra a União Soviética. Ao nos lembrar que os agentes soviéticos não são espiões comuns, a Sra. West revelou a tragédia de uma guerra que não precisava ter tido o tamanho que teve. Eis o porquê ela foi tão selvagemente atacada. Eis o porquê tanto se questionou sua obra.

Todos sabem o papel que Hitler e os militaristas japoneses desempenharam ao causar a Segunda Guerra Mundial. E o papel de Stálin e seus agentes? Com exceção de The Chief Culprit [O Grande Culpado] e Icebreaker [Navio quebra-gelo] de Viktor Suvorov, nenhum estudo relevante foi feito para explorar a extensão da colaboração de Moscou para as crises de 1938 e 1939. Por outro lado, temos o livro Operation Snow de John Koster mostrando como os espiões soviéticos foram bem sucedidos ao empurrar o Japão e os Estados Unidos para uma posição bem mais próxima da guerra em 1941. Isso é pensável? Certamente isso nos leva muito além da “história aceita”. Mas a ideia é tão implausível que os autores futuros deverão se petrificar de medo da opinião pública os chamarem de “teóricos da conspiração”? Ou essas são meditações condizentes com aquilo que sabemos acerca das ações soviéticas de espionagem (i.e. desinformação)? Pergunte-se: por que alguém é atacado durante um ano por discutir as implicações estratégicas da penetração soviética na administração Roosevelt? A menos que Moscou esteja reciclando as velhas estratégias da Segunda Guerra Mundial e pretenda repeti-las no futuro, por que alguém se importaria?

Quando a segunda versão da minha resenha do livro da Sra. West foi rejeitada por um reputado editor conservador, supus que isso aconteceu por conta de meu texto estar inadequado, então pedi ao editor uma chance de reescrever a resenha e dar um tom mais acadêmico a ela. O editor foi extremamente educado e escreveu uma resposta que foi, no entanto, inquietante. Ele escreveu para me demover de tal tentativa. Ele admitiu que a América foi penetrada por espiões soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial.  Contudo, escrever sobre isso iria contra a “história aceita”. A esse respeito, a Sra. West não deveria ter sido tão ousada. “Que nosso aparato político estava comprometido também é algo que está claro”, ele explicou, mas “isso é tão chocante para o leitor leigo”, que a tese requer uma salvaguarda substancial. Fiquei espantado com isso. Que tal as mais de 900 notas de fim da Sra. West? Pois bem, parece que notas de fim não contam se foi uma jornalista que as compilou. O que quero saber é: quando e como acabamos caindo em um romance kafkiano? Oh sim, de fato moramos num mundo estranho, pois se eu disser que o céu é azul, a afirmação só será validada se eu for um meteorologista! Se a “história aceita” é feita de coisas assim, então a “história aceita” é para estúpidos. Isso também explica porque os escritos absurdos e cheios de erros do Sr. Radosh dirigidos a Sra. West receberam passe livre e credibilidade: ele é um historiador.

Eu havia suposto que os conservadores e anticomunistas iriam instintivamente se posicionar a favor de American Betrayal. Em grande parte, isso não aconteceu. Vimos acima porque foi assim. Evidentemente, alguns grandes nomes se levantaram em defesa da Sra. West, como Vladimir Bukovsky e Stanton Evans. Sabemos que ambos são homens de coragem. Seria falta de caráter se eles não a tivessem defendido. Triste é dizer que essa força moral não afetou o “grosso” do “movimento” conservador. O fato de os ataques autocontraditórios de Radosh à Sra. West não terem sido relegados ao limbo logo de cara depõe contra o conservadorismo em geral. Em vez disso, esses ataques foram tomados como um alerta que poderia ser traduzido da seguinte maneira: “Cale-se ou jogaremos seu nome na lama também”. Então acabamos por descobrir que os conservadores americanos são facilmente intimidáveis. Contra toda razoabilidade, os ataques atrapalhados de Radosh ao livro American Betrayal serviram de “cala boca” ao “movimento”. Isso evidentemente implica que o movimento conservador não tem valor nenhum.

Como escreveu a mim o editor, “Acredito que Diana esteja substancialmente certa”, mas isso não importa. Alguém agora dita o que se deve e o que não se deve aceitar como resenha de livro. O que acreditamos, o que é substancialmente correto, deve ser deixado para alguém com uma “voz de autoridade”. E como esse suposto ventriloquista do conservadorismo adquiriu esse status místico? Como evidentemente nenhum conservador possui uma voz com poder maior, então o problema de se afastar da “história aceita” mostra-se insuperável. Devemos então fechar com o Escritório de Informação de Guerra e louvar a aliança em tempos de guerra com Stálin e assim esperar para que esse ventriloquista de sabe-se-lá-onde nos diga qual absurdidade seguirá a atual.

E quanto a Sra. West estar “substancialmente certa”, esse não deveria ser o fator decisivo? Sendo assim, poderíamos dizer que estamos servidos por uma “história aceita” que está substancialmente errada? Essa tal história não deveria ser destruída? Além disso, quando começamos a dar apoio a essa tal história?

Ou deveríamos perguntarmo-nos: como acabamos dando apoio a tais “conservadores”?

Isso nos remete ao meu último artigo e à série de três artigos do Professor Lipke no American Thinker. Como pós-escrito ao episódio, vale a pena discutir a “pessoa” do Sr. J. R. Dunn, um dos redatores do American Thinker. Esse homem é o típico conservador que encontramos hoje em dia que é espiritualmente o oposto de um conservador. Na coluna da última semana, sem dar nomes, eu me referi a ele como um ‘show de astúcia’ [1]. Parece que a descrição foi certeira, especialmente se vermos a correspondência de Diana West com Dunn em dianawest.net. Incrivelmente, Dunn insistiu que ele não poderia publicar a resposta da Sra. West a Lipkes no American Thinker sem primeiro remover os supostos erros factuais (que não eram erros, mas fatos intrínsecos à defesa dela). “Acho inquietante a arrogância e os insultos quase desvelados, e acredito que a maioria dos leitores pensará a mesma coisa”, escreveu Dunn, que inconscientemente concluiu o parágrafo com uma oferta para ele mesmo escrever a defesa da Sra. West: “Se você não se sentir à vontade com isso, eu posso tranquilamente lidar com isso eu mesmo. Penso que você achará bem melhor assim. Como diz o velho ditado, o mel atrai mais moscas que o vinagre”.

Perguntei a um amigo jornalista uma questão hipotética sobre uma publicação que insistia em editar a resposta que um autor deu a ataques feitos à sua própria obra. Ele disse: “A publicação perderia a credibilidade”. Com efeito, se você ler toda a correspondência, você verá que Dunn ataca West ao mesmo tempo que a aconselha a aceitar que sua resposta seja editada. Mesmo quando ele a insulta, ela não pode dizer nada em sua defesa, pois tudo é colocado como além dos limites permitidos. Ela observa que Dunn “não via problema” com Radosh e Horowitz insultando. Então ela listou os insultos que Dunn (como editor) permitiu que se usasse contra ela. Nessa lista incluía “conservadorismo sujo” que sustentava “uma tese de maluco”, “ridícula”, “má conservadora”, e “grotesca” com “conotações pervertidas”.

Como devemos entender a inconsistência de Dunn? Ele permitiu que Radosh e Horowitz difamassem West. E então, quando ele viu que o contra-ataque era iminente, ele reclamou. Já não está um pouco tarde para esse súbito desgosto para insultos e insinuações? Isso não é usar de dois pesos e duas medidas? E então, quando a Sra. West corrigiu os erros factuais com links e citações, Dunn retrucou apenas para perder a compostura: “Ok — disse ele — você insultou todos os envolvidos no debate. Você insultou Ron Radosh, você insultou Jeff Lipkes, e agora você está insultando a mim”. Oh sim, os fatos são bem insultuosos — especialmente quando se está completamente errado.

Não costumo usar palavras depreciativas, mas Dunn é um caso especial. É uma bela de uma comédia quando um homem que não sabe nem pontuar uma frase diz a uma das melhores escritoras da minha geração que ele pode consertar o tom do texto dela; enquanto seu email está encharcado de vinagre, ele prega as virtudes do mel. Atrevo a dizer que o Sr. Dunn atrai um monte de moscas sem o uso de mel. Isso o qualifica, com efeito, como um tipo bem especial de animal. Como Dunn é uma criatura inferior ocupando uma posição superior (redator de uma revista online popular), a etiqueta apropriada à situação seria ele graciosa e generosamente se prontificar a publicar a resposta da Sra. West a Jeff Lipkes. Nesse ato ele estaria mostrando a grandeza de espírito e a confiante prontidão para deixar que as coisas porcinas ficassem onde devem. Se o tom da Sra. West não está correto, ela será a perdedora e Lipkes o vencedor. Porém, como um porco que não tem a autoconfiança de um Napoleão (v. A Revolução dos Bichos de George Orwell), Dunn sabe que a resposta da Sra. West mostraria como um redator cabeça de porco é o maior responsável pela publicação de um balde de lavagem de 12.000 palavras que praticamente não foi editado e que acabaria então por impregnar de excrementos porcinos o nariz porcino do redator. Nesse evento, o American Thinker [O Pensador Americano] teria de ser renomeado paraAmerican Stinker [O Americano Fedido].

Na verdade, o porquinho é Dunn. Ele queria usar de qualquer pretexto para fazer “caca” em toda a casa sem ter de publicar as provas que a Sra. West deu das porquices dele. Tal é a demonstração escandalosa de estupidez na sua correspondência com uma autora famosa, quando ele não pôde nem falar o nome certo do livro. Se alguém se atrever a me repreender por chamar um porco pelo seu nome, eu de antemão cito Catão, o Jovem em minha defesa, que durante a crise da República Romana, fez a seguinte afirmação ao Senado:

Por muito tempo deixamos de chamar as coisas pelos seus nomes. Entregar a propriedade alheia passou a se chamar generosidade; a audácia criminosa passou a se chamar coragem. Eis o porquê as coisas estão como estão. Entretanto, como esse é o nosso padrão moral, deixem os romanos serem liberais se quiserem, para que, ao custo do nosso próprio vigor, eles possam ser misericordiosos com os ladrões do tesouro. Mas não os deixe … entrar no caminho da destruição de todos os homens honestos.

{citado de A guerra catilinária de Salústio, tradução para o inglês de S.A. Hanford para a Penguin Classics.}

[1] N.T.: Nyquist usou o termo ‘prize pig’, ou ‘porco premiado’. É um modo de ironizar a astúcia, pois por mais astuto que o porco seja, ainda será um porco.

http://jrnyquist.com

Tradução: Leonildo Trombela Junior

 

 

 

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