Foto: Iron Dome – “Domo de Ferro”, sistema de defesa anti-mísseis israelense. Como destacou Jonathan Feldstein, os de Gaza não tem um Iron Dome, pois, ao invés de garantirem sua própria proteção, investiram em uma infraestrutura terrorista profundamente enraizada, destinada a prejudicar os israelenses, mas que em nada os proteje. (Reuters)
Quando o já falecido ditador iraquiano Saddam Hussein disparou 39 mísseis Scud contra Israel em 1991, muitos palestinos foram às ruas para comemorar os ataques. Muitas manifestações tomaram lugar na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, enquanto os palestinos recebiam máscaras de gás das autoridades israelenses para protegê-los contra um possível ataque químico do Iraque contra Israel.
O jornal Los Angeles Times relatou naquela época que “inúmeros palestinos estavam felizes da vida em relação ao ataque dos iraquianos com mísseis contra Tel Aviv e Haifa”.
Quando a organização terrorista Hisbolá, apoiada pelo Irã, lançou ataques com foguetes contra Israel a partir do Líbano em 2015, os palestinos tomaram as ruas para festejar, balançando bandeiras do Hisbolá, distribuindo guloseimas para os motoristas e transeuntes.
Para os palestinos, qualquer um que ataca Israel ou ameaça destruir o país é um verdadeiro “herói”.
Nos últimos dias, os palestinos têm aplaudido outro “herói”: Mohammed Deif, a figura sombria que chefia o braço armado do movimento islamista palestino Hamas.
Deif é o terrorista mais procurado por Israel dos últimos 25 anos devido à sua participação em inúmeros ataques terroristas, entre eles o assassinato de soldados israelenses, atentados suicidas e sequestros. Em 2015, o Departamento de Estado dos EUA incluiu Deif à lista de Grupos Considerados Terroristas.
Por conta de seu envolvimento direto no terrorismo contra Israel, Deif sempre foi considerado “herói” por muitos palestinos.
Agora, visto que Deif advertiu que haverá retaliação se Israel não mudar suas políticas em Jerusalém Oriental, parece que ele subiu ainda mais no conceito dos palestinos.
Em rara declaração pública, o arquiterrorista, cuja base se encontra na Faixa de Gaza governada pelo Hamas, salientou que Israel “pagará caro” se não desistir do despejo de famílias palestinas que residem no bairro de Sheikh Jarrah em Jerusalém. “Este é o último e claro aviso”, ameaçou Deif, dando a entender que o Hamas retomaria os ataques com foguetes e outras formas de terrorismo contra Israel.
A ameaça veio logo depois que um tribunal de Jerusalém aprovou o despejo de algumas famílias árabes em Sheikh Jarrah de casas que pertenciam a judeus antes do estabelecimento do Estado de Israel em 1948.
Em meio às manifestações em massa em Jerusalém e em algumas partes da Cisjordânia nos últimos dias, milhares de palestinos entoavam palavras de ordem em louvor a Deif, exortando-o a cumprir a ameaça de lançar foguetes contra Israel. Os palestinos também entoavam palavras de ordem em apoio ao braço armado do Hamas, Izaddin al-Qassam, responsável por milhares de ataques terroristas contra Israel nas últimas três décadas.
“Nós somos os homens de Mohammed Deif”, entoavam milhares de palestinos durante uma manifestação na Mesquita de al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islã. Eles também o exortavam a “atacar” Tel Aviv com foguetes, ecoando o chamamento de Saddam Hussein em 1991: “Oh, amado Saddam, ataque, ataque Tel Aviv!”
As manifestações em Jerusalém começaram no primeiro dia do mês do jejum muçulmano do Ramadã, quando uma legião de jovens atacaram policiais e residentes judeus com pedras, bombas incendiárias e outros objetos. No começo os manifestantes justificaram os ataques alegando que a Polícia de Israel montou barricadas em uma das entradas da Cidade Velha de Jerusalém, impedindo-os de se reunir à noite para celebrar o Ramadã.
No entanto, os distúrbios continuaram mesmo depois que a polícia retirou as barricadas. Os manifestantes disseram que estavam protestando contra o possível despejo das famílias de Sheikh Jarrah e também às tentativas de judeus de “invadir” a Mesquita de al-Aqsa, uma referência às visitas de rotina dos judeus ao Monte do Templo, o lugar mais sagrado do judaísmo.
Então, como é que Deif, terrorista nº1 do Hamas, se enquadra nos confrontos entre os palestinos e a Polícia de Israel em Jerusalém?
Invocando o nome de Deif e exortando-o a bombardear Tel Aviv, os manifestantes escancaram a verdade: que os protestos tinham menos a ver com a Mesquita de al-Aqsa ou com a controvérsia em torno das casas de Sheikh Jarrah ou com as barreiras da polícia na Cidade Velha do que com a eliminação de Israel.
Vale a pena frisar que Israel não tomou quaisquer medidas novas no sentido de “alterar o status histórico ou legal” da Mesquita de al-Aqsa como alegam palestinos e outros árabes.
Os palestinos estão contrariados porque os judeus estão tendo permissão de visitar o Monte do Templo. Os palestinos não querem que judeus visitem seu próprio lugar sagrado, eles não querem ver judeus em Jerusalém e não querem ver nenhum judeu no território que se estende do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo.
De que forma o bombardeio de Tel Aviv ajuda os casos das famílias árabes de Sheikh Jarrah, que estão contestando a ordem de despejo em tribunais israelenses? Como é que conclamar o Hamas a lançar ataques terroristas contra Israel ajuda os palestinos em sua campanha de impedir os judeus de visitarem o Monte do Templo?
Ao hastear bandeiras do Hamas e entoar palavras de ordem em apoio a um arquiterrorista na Mesquita de al-Aqsa, os próprios manifestantes profanaram o lugar sagrado, não os judeus. Aqueles que fizeram uso do complexo da Mesquita para atirar pedras e outros objetos nos policiais é que profanaram o lugar sagrado. Não dá para atacar policiais e depois reclamar que Israel enviou policiais para “invadir” e “profanar” a Mesquita de al-Aqsa, a menos que sua mente tenha sido distorcida pela lógica terrorista.
Ninguém está contestando o direito dos palestinos de protestarem contra as políticas israelenses. No entanto, quando os protestos se transformam em gigantescas manifestações pró-Hamas, com chamamentos para bombardear Tel Aviv e matar judeus, estas desmascaram a verdadeira e letal intenção dos manifestantes.
Quando milhares de palestinos entoam as palavras de ordem “somos todos Mohammed Deif”, eles estão dizendo que se consideram terroristas prontos para atacar e destruir Israel. Eles também estão dizendo que Deif é seu ídolo porque ele conseguiu matar muitos judeus e continua foragido, apesar do empenho israelense de prendê-lo ou matá-lo.
A violência que eclodiu em Jerusalém nos últimos dias mostra que o Hamas tem muitos seguidores entre os palestinos, incluindo residentes de Jerusalém Oriental que possuem carteiras de identidade emitidas por Israel, mas não são cidadãos israelenses. Depois que Israel anexou Jerusalém Oriental em 1968, foi dada aos palestinos que lá residiam o direito de solicitar a cidadania israelense. Os palestinos, em sua maioria, no entanto, optaram por não solicitar a cidadania israelense por medo de serem tachados de traidores.
Na qualidade de residentes permanentes de Israel, os palestinos de Jerusalém desfrutam dos mesmos direitos dos cidadãos israelenses, com uma exceção: o direito de votar para o parlamento israelense, a Knesset. Ao mesmo tempo, estes residentes têm o direito de solicitar a cidadania israelense a qualquer momento e milhares já a solicitaram.
A aprovação do Hamas está em franca ascensão não só no leste de Jerusalém, mas também na Cisjordânia, onde alguns palestinos também teceram elogios a Deif, instando-o a desencadear uma nova onda terrorista contra Israel.
O Hamas deve sua crescente popularidade à inflamatória campanha anti-Israel empreendida na mídia palestina, em especial nas plataformas das redes sociais, nas mesquitas e à retórica dos líderes palestinos. O Hamas também deve sua popularidade à contínua corrupção e incompetência da Autoridade Nacional Palestina e de seu autocrático presidente Mahmoud Abbas.
Abbas tinha razões de sobra para adiar indefinidamente as eleições parlamentares e presidenciais que ele planejava realizar em 22 de maio e 31 de julho. Ele está cansado de saber que seus adversários do Hamas caminhavam para uma vitória à exemplo da que conquistaram na última eleição parlamentar de 2006.
Entrementes, Abbas não teve a coragem de admitir que este era o verdadeiro motivo pelo qual ele suspendeu as eleições. O que aconteceu na realidade é que ele preferiu culpar Israel acusando o país falsamente de impedir os palestinos de Jerusalém de participarem das eleições.
Enquanto permanece sentado em sua sala de estar, observando milhares de palestinos em Jerusalém acusá-lo de traidor e ao mesmo tempo saudando o Hamas e Deif, Abbas deve ter respirado com alívio que as eleições foram adiadas indefinidamente. As manifestações pró-Hamas em Jerusalém devem preocupar não só Israel, como também Abbas e a Autoridade Nacional Palestina.
As manifestações a favor do Hamas também deveriam soar o alarme na Administração Biden e servir de preciso indicador das prioridades palestinas. A Administração Joe Biden já está falando em retomar o estagnado processo de paz entre Israel e os palestinos com base na “solução de dois estados”. O Hamas e os milhares de palestinos que entoam palavras de ordem em apoio ao Hamas e a Deif, no entanto, têm uma solução diferente em mente: a aniquilação de Israel e a morte de judeus, quanto mais, melhor.
Bassam Tawil, árabe muçulmano, radicado no Oriente Médio.
Publicado no site do Gatestone Institute.