Acusações de racismo e a tragédia de Manchester

Por Daniel Pipes

1

Nota do editor:
Policiais e seguranças conhecem bem o problema. Um ambiente no qual impera o medo de ser acusado injustamente de racista, graças, sobretudo, à grande mídia, foi decisivo para que um atentado terrorista com 22 mortos fosse levado a cabo. A questão ganha relevância após o incidente da última semana no Carrefour do bairro Jardins, na capital paulista. Toda a ação da mídia esquerdista não só deu ares de legitimidade à invasão e destruição do estabelecimento, como fomenta e amplia a espiral da culpa, do ressentimento e das tensões raciais. Assim, vai abrindo precedentes para situações análogas a ocorrida entre os seguranças que trabalharam no show de Ariana Grande em Manchester, Inglaterra, em maio de 2017.

 

Evidências recentes indicam que um grave incidente de violência poderia ter sido evitado se um segurança não tivesse medo de ser chamado de “racista.” O incidente levanta dúvidas sobre a capacidade do Ocidente de se defender de ataques jihadistas.

O ato de violência consistiu em um atentado à bomba num show da cantora americana Ariana Grande na Manchester Arena na Inglaterra em 22 de maio de 2017, no qual 22 pessoas foram mortas e mais de 800 ficaram feridas. O terrorista Salman Ramadan Abedi de 22 anos, nasceu em Manchester, filho de refugiados islamistas que tinham acabado de chegar da Líbia. Os que o conheciam disseram que ele era muito religioso e não muito inteligente.

Local do ataque.

Simpatizante da Al-Qaeda, Abedi fez uma bomba caseira com milhares de pregos e parafusos, acondicionados em uma mochila e caminhando a pé, despistando, foi até a arena. Lá ficou esperando o fim do espetáculo “Dangerous Woman” da Grande, sentado na escadaria do saguão. Às 22h31 se levantou, atravessou o saguão em direção da saída do auditório e detonou o artefato.

Salman Ramadan Abedi a caminho da Manchester Arena.

Priti Patel, Secretário do Interior abriu uma investigação sobre a Manchester Arena “para saber exatamente o que aconteceu” e “fazer recomendações sobre as falhas no sentido de evitar que algo parecido volte a acontecer.” A apuração realizada pela empresa particular Showsec revelou detalhes importantes relacionados à segurança na noite da apresentação.

A história começa com Christopher Wild, esperando pelo filho que havia ido à apresentação. Às 22h15 ele percebeu que Abedi estava com um olhar estranho e expôs sua cisma a Mohammed Ali Agha de 19 anos, segurança da Showsec. Wild pintou Abedi de “esquisitão” e “mal-encarado” apontando para a “gigantesca mochila” em seu poder.

Agha pediu ao seu colega Kyle Lawler, de 18 anos, para que ficasse de olho em Abedi. Lawler se aproximou dele permanecendo a uma distância de 3 a 5 metros de Abedi e viu que ele estava “tenso e suado.” Lawler depôs que teve “um mau pressentimento em relação a ele mas que não havia nada que justificasse esse mau pressentimento.” Ele admitiu ter sentido um frio na espinha, ao mesmo tempo que estava “com a pulga atrás da orelha” porque tinha a impressão de que as coisas não estavam batendo, mas também o via como “só um asiático sentado no meio de um grupo de pessoas brancas.”

Lawler disse o seguinte na sindicância:

eu não sabia direito o que fazer. É muito complicado identificar um terrorista. A meu ver, ele poderia ser um inofensivo jovem asiático sentado nas escadarias. Eu não queria que ninguém achasse que eu o estava estereotipando só por conta da sua raça… Eu estava com medo de estar equivocado e ser tachado de racista. Se eu tivesse pisado na bola, estaria encrencado. Fiquei com o pé atrás sem saber o que fazer. Eu queria fazer a coisa certa e não melar tudo e passar dos limites ou julgar alguém pela raça.

Muito embora Lawler admita estar com “sentimento de culpa” e “assumir muito da culpa pelo que aconteceu,” quando lhe perguntei se ele ainda temia ser tachado de racista, ele respondeu que “sim”.

Kyle Lawler, 27 de outubro de 2020 depondo na sindicância da Manchester Arena.

O que podemos tirar deste incidente? Observe a sentença chave: “eu estava com medo de estar equivocado e ser tachado de racista.” De certa maneira, este sentimento é um velho conhecido, é por exemplo o porquê da polícia em Rotherham e em outras cidades britânicas não terem agido com firmeza contra gangues de estupradores paquistaneses em um espaço de tempo de mais de dezesseis anos.

De outra maneira, é assustador um segurança não averiguar sua suspeição por “temer ser tachado de racista”; isso aponta para uma crise. A menos que o suspeito seja um jihadista planejando uma violência monstruosa, algo não muito provável, qualquer um que manifeste temores, abre potencialmente as portas para ser punido, despedido, massacrado pela imprensa, acionado na justiça e até provocar distúrbios e quebra-quebra. Slogans do tipo “se você vir algo, diga algo” são conversa fiada. Lembrando o número de jihadistas que foram pegos em uma batida policial de rotina no trânsito ou por meio de denúncia de vizinhos desconfiados, então trata-se sim de um problema gravíssimo.

Se você vir algo, diga algo”, instrução do Departamento de Segurança Interna dos EUA.

O medo de ser acusado de racismo gera a estapafúrdia consequência segundo a qual alguém com pele mais escura ou que pareça muçulmano possa ter livre passagem, o guarda pode se dar ao luxo de estar equivocado em se tratando, por exemplo, de uma loira, mas não em se tratando de uma mulher usando um hijab. Mais espantoso ainda é o efeito de alguém mal-intencionado tirar vantagem se assumir a aparência muçulmana.

Proteção eficiente requer espaço para erros. Comandantes de aeronaves, rondas policiais, até especialistas em Islã precisam ter a liberdade de expressarem suas preocupações sem medo de serem difamados pela imprensa, perderem o emprego ou de represálias legais.

Se estas imprescindíveis mudanças não se concretizarem, pode apostar em mais violência jihadista.

 

Daniel Pipes (DanielPipes.org@DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum.

Publicado no The Critic, do Reino Unido.
Tradução: Joseph Skilnik

 

 

1 comentário
  1. Professor Diz

    “O preço da segurança é a eterna vigilância”. O terrorista líbio ganha a confiança de sua namorada e dá a ela um pacote para ela levar num voo PAN AM… O resto vc sabe, explosão e um avião no chão sem sobreviventes… Os terroristas usam a fraqueza das Democracias para assestarem golpes contra elas. Como este segurança vai encarar as famílias dos mortos e mutilados? Ele tinha que ter agido e se necessário enchido de chumbo o terrorista. Como um sargento disse ao seu soldado americano no Afeganistão, se alguém usando um turbante olhar feio para vc e puser a mão dentro da roupa, 2 no peito e um na cabeça. Prefiro responder à MP por ter atirado num civil do que colocar seus pedaços num saco preto para mandar para seus pais…

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.