Comunismo e cultura: morte por epistemologia

Por Theodore Dalrymple

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Foto (AP): Oficial chinês humilhado com “chapéu de burro’ na ruas de Pequim pelos guardas vermelhos, em 25 de janeiro de 1967. No chapéu também constava a acusação: “batedor de carteiras político”. Enquanto Mao Tsé-Tung esteve no poder (1949-1977), muitos cidadãos e autoridades chinesas foram acusados de crimes políticos e rotulados como “inimigos de classe” e “contra-revolucionários”.

 

Com 68% de todos os americanos acreditando que Adolf Hitler matou mais pessoas do que Josef Stalin, com apenas pouco mais da metade dos millennials considerando o comunismo um problema, e com os jovens americanos recentemente demonstrando interesse no socialismo, a opinião pública sofreu mudanças significativas no anos recentes. O Epoch Times acredita que vale a pena examinar o impacto do comunismo—nas artes e na cultura hoje e através da história—para entender melhor esses desenvolvimentos.

Provavelmente, o efeito mais desastroso do comunismo marxista na vida cultural surgiu de sua epistemologia. O comunismo faz da argumentação ad hominem—atacar a pessoa em vez de argumentar contra sua posição—a principal forma de inquérito, negando assim a possibilidade da liberdade humana e da própria racionalidade. Não é de surpreender, portanto, que para Vladimir Lenin, a questão mais importante sempre tenha sido quem faz o que com quem. Tudo se resume a uma questão de poder.

Em “Uma contribuição para a crítica da economia política”, Karl Marx disse que “não é a consciência dos homens que determinou seu ser, mas, pelo contrário, seu ser social que determina sua consciência”. E ele também disse que seu ser social é determinado por seus interesses econômicos. Em outras palavras, os homens sempre pensam no que é de seu interesse econômico: eles são apenas porta-vozes do seu dinheiro (ou falta dele). Diga-me o que um homem tem, e eu direi o que ele pensa.

Existem duas interpretações possíveis do ditado de Marx: que é contingentemente verdadeiro ou que é necessariamente verdadeiro.

Se tomado como uma afirmação sociológica ou psicológica, não há dúvida de que há um elemento de verdade nela. As pessoas geralmente procuram defender seus interesses por racionalizações (embora também tenham outros interesses econômicos para defender).

Se for tomado como uma verdade necessária sobre o pensamento humano, terá implicações desastrosas. A discordância necessariamente se torna inimizade—na verdade, do pior tipo—, pois a classe é irreconciliável até que todas as classes sejam abolidas ou subsumidas pela classe trabalhadora. Uma vez alcançado esse estado feliz, não haverá mais discordâncias, porque a base social da discordância será eliminada.

Isso é um disparate absurdo, é claro. Certamente não explica como dois burgueses arquetípicos, Marx e Friedrich Engels, um deles proprietário de uma fábrica, chegaram a acreditar nisso. Mas uma vez aceito como verdadeiro, inevitavelmente diminui o tom de todo discurso e, quando se torna doutrina oficial, leva ao assassinato em massa.

Todo mundo adora argumentos ad hominem, que são uma forma intelectualizada de fofoca; mas os intelectualmente escrupulosos estão conscientes de seu perigo. Marx, no entanto, tornou impossível qualquer outro tipo de argumento. Para aqueles influenciados por ele, a pessoa X pode acreditar na proposição Y apenas porque é do seu interesse fazê-lo. Por isso, Marx também pensava que era errado os filósofos terem apenas procurado entender o mundo, quando era necessário mudá-lo.

Bem, seus seguidores mudaram tudo—como atestam as dezenas de milhões de mortos. Eles foram vítimas da epistemologia.

 

Theodore Dalrymple (Anthony Daniels), médico britânico e autor de 25 livros, dentre os quais ‘Evasivas Admiráveis – Como a psicologia subverte a moralidade’, ‘Em Defesa do Preconceito’ (leia resenha aqui), e ‘Nossa Cultura – ou o Que Restou Dela’, também é senior fellow no Manhattan Institute.

Publicado no The Epoch Times.

 

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