A crise, parte I – A Politização da Educação
Por Jeffrey Nyquist. Publicado em 20 de agosto de 2015.
Arquivo MSM.
As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição.
“Devemos organizar os intelectuais”.
Willi Münzenberg
Em Memoirs of a Superfluous Man (Memórias de um homem supérfluo, em tradução livre), Albert Jay Nock explicou que macacos podem ser treinados, mas apenas uma pequena porcentagem de seres humanos pode ser educada. Ele acrescentou que seus alunos nas escolas Ivy League eram, em grande parte, “macaquinhos”. Mas será isto justo, dada a natureza burocrática das universidades de agora e de então? Uma burocracia não pode ensinar a crianças e adultos como pensar. A burocracia pode oferecer testes e currículos padronizados. Pode oferecer programas adaptados a todos, e até mesmo programas de “elite”. Mas tudo é baseado na lei das médias, pensamento grupal, e um tipo de conformismo intelectual. Se Marshall McLuhan estava correto e “o meio é a mensagem”, então se o meio é a escola burocratizada, a mensagem significa a burocratização da mente humana. O fato de que bilhões de dólares têm sido despejados neste tipo de educação, e que produza resultados crescentemente desanimadores ano após ano, atesta um tipo de estupidez em massa – uma preparação para as algemas intelectuais.
Considere o que nossas escolas ensinam agora: o livro texto padrão do ensino médio apresenta o senador Joseph McCarthy como o principal vilão da história americana, e Martin Luther King Jr como o principal herói. Muito pouco é dito sobre George Washington ou os Pais Fundadores. As sempre presentes e subversivas entrelinhas reencaminham-nos para o racismo, o sexismo e o imperialismo americano. Sim, este é o tipo de história que é ensinado nas escolas americanas. Os Pais Fundadores eram proprietários de escravos, certo? George Washington era rico, certo? Mesmo Lincoln era racista. E se um calouro do ensino médio não souber nada mais sobre a história do país, saberá isto. Um julgamento moralista sobre o passado é apresentado, mostrando nossos antepassados como racistas e homofóbicos. Desta forma o passado é descontinuado. Desta maneira uma guerra é travada contra certas tradições e sentimentos, todos apresentados de modo parcial por burocratas educacionais. É claro, tudo que é apresentado é factual – ou na maior parte factual. É apresentado, entretanto, a estudantes que não foram ensinados a ler corretamente. A estes estudantes nunca foram dadas tarefas de organizar suas próprias ideias, desde que suas ideias já foram organizadas para eles. Os fatos utilizados nos livros didáticos são cuidadosamente selecionados com antecedência, através de um processo de cuidadosa edição.
Edmund Burke certa vez comentou sobre os revolucionários franceses:
“É indubitavelmente verdade, embora possa parecer paradoxal. Mas em geral, aqueles que são habitualmente empregados em buscar faltas e mostrá-las são incompetentes para o trabalho de reforma: porque suas mentes não são apenas desguarnecidas de padrões de justiça e bem. Mas, pelo hábito adquirido, não têm nenhum prazer na contemplação destas coisas”.
O ensino de história tornou-se um tipo de desmontagem do passado, uma difamação de nossos antepassados. Isto não ajuda aos jovens de modo algum. Ao contrário, prejudica-os. Desarma-os frente aos inimigos. Preenche-os com um vago sentimento de culpa. E como diz Burke, deixa-os sem inspiração positiva.
Muitas décadas atrás, Jose Ortega y Gasset observou que a universidade moderna “abandonou quase inteiramente o ensino e transmissão da cultura”. E não há dúvida de que ele estava certo. Ocorreu uma desconexão gigantesca. Falhamos em transmitir nossa história, e também falhamos em transmitir nossa cultura. A outra face desta moeda é a guerra coletivista contra o indivíduo. Amputado de seu patriotismo e senso de autopreservação nacional, o indivíduo é amputado de autonomia por um processo de “facilitação” (dumbing down). Aqueles que são ignorantes ou incompetentes devem ser seres humanos individualmente inúteis. Tais pessoas são facilmente manipuladas por demagogos enganadores.
Robin S. Eubanks escreveu um livro intitulado Credentialed to Destroy: How and Why Education Became a Weapon (em tradução livre: Credenciado para Destruir; Como a Educação Tornou-se uma Arma). Ela argumenta que ultimamente a educação pública tem sido propositadamente projetada para impossibilitar o desenvolvimento intelectual das crianças. Próximo ao fim do livro, na página 358, ela escreve:
“A educação no século XXI não é mais um fim. É um meio de dominação, enriquecimento e exploração por uns poucos autonomeados. Por isso quando você penetra através das camadas das teorias educacionais contemporâneas… é sempre a consciência humana sendo manipulada e modificada via educação. A educação fica como a última arma na interminável luta contra o indivíduo…”
Fui convidado recentemente para ouvir uma palestra da Srta Eubanks na qual ela disse: “Isto diz respeito a poder político. Não há prosperidade em massa quando poder político e poder econômico são combinados”. E isto é o que as escolas estão tornando possível nas mentes dos estudantes, isto é, a tomada da economia pelo estado. Em seu livro ela destaca educadores que estão citando Karl Marx (de modo elíptico) a respeito da coletivização da mente “pela conversão dos objetivos individuais em objetivos gerais”. De acordo com Eubanks “isto é mais fácil de fazer se o indivíduo é apenas marginalmente letrado com pouco conhecimento factual”.
Isto é uma coisa terrível de se fazer à juventude, e não é a única coisa terrível sendo feita. O ataque à história, a desconexão cultural e a “facilitação” dos alunos é acompanhada por uma franca negação da própria natureza humana. Esta é a parte do assalto à educação que revela o jogo. Por milhares de anos os filósofos têm argumentado a respeito da natureza humana, mas poucos negaram a existência dela. Tal negação é, na verdade, contrária à razão se considerarmos a definição da palavra ‘natureza’ (como dada pelo Google): “os traços básicos ou inerentes a algo, especialmente quando vistas como características dele” (NT: a busca em português retorna: “o que compõe a substância do ser; essência; combinação específica das qualidades originais, constitucionais ou nativas de um indivíduo, animal ou coisa; caráter inato”).
Seria absurdo argumentar que seres humanos não têm características básicas ou inerentes. Embora isto seja o que modernos cientistas sociais e educadores têm ensinado a acreditar. Se isto soa estranho, leia o registro no blog Racionally Speaking for 17 November 2008. É intitulado “Existe tal coisa como natureza humana?” (Is there such thing as human nature?) – escrito pelo professor Massimo Pigliucci, um “filósofo” na City University de Nova Iorque. Pigliucci relata um incidente quando estava ministrando um curso na Stony Brook University com outra professora. “Em algum ponto a questão ‘natureza humana’ veio à tona, e minha colega olhou para mim com um misto de surpresa e piedade. Natureza humana, ela afirmou, é um conceito pitoresco que foi abandonado há muito por estudiosos sérios…”
Em The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature, de Steven Pinker, lemos como a batalha acadêmica contra o próprio conceito de natureza humana tem envolvido “calúnia política” e “ataques pessoais” contra pesquisadores que sustentam a ideia de que a humanidade possui “características básicas e inerentes”. De acordo Pinker, “o tabu sobre a natureza humana não apenas pôs antolhos nos pesquisadores, mas transformou qualquer discussão do tema em heresia que deve ser erradicada. Muitos escritores estão tão desesperados para desacreditar qualquer sugestão de uma constituição inata da natureza humana que lançaram a lógica e a civilidade pela janela”. É claro, isto é esperado na medida em que uma guerra está sendo travada ao nosso redor. Pois esta negação da natureza humana não é um jogo acadêmico tolo. É, de fato, uma guerra travada a sério, de acordo com um conceito estratégico que requer que certas ideias prevaleçam. Estas ideias, verifica-se, estabelecem o estágio de assalto geral aos pilares que sustentam a sociedade civil. Pois como Pinker explica em seu livro: “ A negação da natureza humana tem se espalhado sobre a academia e tem levado à separação entre a vida intelectual e o senso comum”.
Na guerra psicológica, travada para derrotar a sociedade existente, a eliminação do senso comum pode ser entendida como a negação de nossos instintos básicos. Primeiro, uma negação do instinto de autopreservação; segundo, uma negação dos instintos de maritais; terceiro, a negação dos instintos de maternos. Todas estas negações são observáveis nas políticas externa e doméstica dos EUA. Podem ser vistas em nossa política comercial, nas finanças governamentais, nas Varas de Família e – sim – na educação.
O programa educacional da América atual é a negação da natureza humana, do senso comum humano e dos instintos humanos. Para evitar a violência do caos e a guerra civil um país deve possuir várias instituições onde a autoridade legítima seja exercida. Esta autoridade depende do senso comum e do instinto (isto é, da natureza humana). Para funcionar adequadamente uma família requer a autoridade de um pai, que é a autoridade “patriarcal”. Em termos de governo nacional, podemos nos referir ao patriarcado dos Pais Fundadores.
Não me cabe provar que esta autoridade tenha um componente sexual. Pergunte a qualquer mãe de adolescente. Nenhuma prova adicional é necessária. Se a autoridade masculina é negada, o que acontece à masculinidade e o que acontece à autoridade? Elas colapsam? Estará aquela castrada e esta neutralizada? Para conseguir isto tem-se o recurso da defesa da homossexualidade. Pois o masculino, por natureza, rejeita o homossexual e tem – através de toda a história – se oposto à homossexualidade, a qual considera “efeminada”. Pela normalização da homossexualidade, a autoridade natural do masculino é negada. Uma vez mais, a tática adotada preenche um fim estratégico. O caminho está pavimentado para a revolução. A tradição não pode ser mantida na igreja ou no estado. Ela sucumbe e todas as formas de autoridade sucumbem com ela. Pois todas elas estão enraizadas no patriarcado, e o patriarcado não pode coexistir com sua nêmese. Uma profunda anarquia e mutabilidade surge na sociedade quando a moda suplanta os princípios, a permissividade suplanta a disciplina e o emocionalismo oprime o entendimento racional.
Não é coincidência que a educação atual produza efeitos nocivos à autoridade política e religiosa, aos princípios, à disciplina e à razão. O que é intrigante é o modo pelo qual todos estes desenvolvimentos servem ao interesse estratégico de um poder particular e a uma causa particular – quase como se estivéssemos olhando para um método clandestino para desorganizar a sociedade. Surpreenderia se este método tivesse sido desenvolvido muito tempo atrás por Willi Münzenberg (1889-1940) da Internacional Comunista? “Devemos organizar os intelectuais”, disse ele à Terceira Internacional Comunista. “Devemos evitar sermos puramente organizações comunistas”. Pois nestas circunstâncias muitas sementes devem ser plantadas nas mentes de crianças impressionáveis e adultos jovens. Em The ABC of Communism N.I. Bukharin e E. Preobrazhensky escreveram: “o Partido Comunista não é confrontado apenas com tarefas construtivas, pois nas fases iniciais de sua atividade ele é confrontado do mesmo modo com tarefas destrutivas. No sistema educacional… deve acelerar a destruição de tudo que faça da escola um instrumento de domínio da classe capitalista”.
Isto não implicaria a destruição do senso comum, a negação da natureza humana e do instinto, a negação da autoridade legítima e da ordem civil? Münzenberg acreditava que todos os aspectos da sociedade constituem o novo campo da batalha política. E o patamar superior desta batalha encontra-se na educação; e este patamar superior deve ser confiscado na primeira oportunidade. As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição. Nossos líderes e nosso povo acreditam que o instinto é um mito usado por reacionários para preservar o privilégio masculino e sua lamentável “homofobia”. Fora com a masculinidade! Ela é reacionária! Ela é uma ameaça!
“Nenhum pastor, e um rebanho”, escreveu Nietzsche. “Todos desejam o mesmo, todos são iguais: aquele que tem outros sentimentos que vá voluntariamente para o hospício”.
A Suprema Corte declarou que casamento é entre homens ou entre mulheres, e que uniões deste tipo não são diferentes da união entre homem e mulher. Isto mostra que o veneno alcançou órgãos vitais. E não temos antídoto. Na verdade, fabricamos o veneno nós mesmos e não precisamos dos criadores do veneno para continuar a produzi-lo.
“Um pouco de veneno de vez em quando e produzem-se sonhos agradáveis”, escreveu Nietzsche. “E muito veneno no fim, por uma morte agradável”.
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Tradução: Flávio Ghetti