Rússia: Prisão ou exílio, o que restou aos opositores de Putin
Por Luis Dufaur
Foto: Ivan Zhdanov, a advogada Lyubov Sobol e Alexei Navalny, líderanças da oposição russa a Vladimir Putin.
Cada vez mais políticos e jornalistas russos estão sendo empurrados ao exílio num renascimento dos tempos mais sombrios da repressão soviética, descreveu uma longa reportagem do ‘The New York Times’.
O fluxo constante de emigrados políticos que acompanhou as duas décadas no poder do presidente Vladimir Putin agora se tornou uma correnteza.
Cada vez mais figuras da oposição, conselheiros, ativistas de direitos humanos e até jornalistas independentes ficam com apenas uma alternativa simples: fugir ou ir para a prisão.
Alexei Navalny, um dos principais líderes da oposição deixou a Rússia para ser tratado num hospital alemão especializado em venenos assassinos da KGB.
Ele foi se somar aos doze dissidentes e jornalistas que até agora deixaram o país em 2021. De acordo com analistas, esta é a maior onda de emigração política na Rússia pós-soviética. Navalny apenas recuperado voltou à Rússia e foi logo encarcerado.
As expatriações forçadas deste ano lembram a tática usada pela KGB durante as últimas décadas da União Soviética (URSS), quando a polícia secreta apresentava aos dissidentes duas opções: ir para o oeste ou ir para o leste.
Isto é, para o exílio (no Oeste) ou para um campo de prisioneiros na Sibéria (no Leste).
Hoje, como ontem, o Kremlin concluiu que exilar dissidentes de alto nível é menos complicado que prendê-los. Os russos no exterior são mais fáceis de pintar ante o povo como traidores vendidos ao inimigo.
“A estratégia é expulsá-los primeiro”, disse Dimitri Gudkov, um popular político opositor que escapou em junho. “E se eles não conseguem fazer você sair, eles prendem você”.
No mês passado, a advogada e aliada política de Navalny, Lyubov Sobol, fugiu para a Turquia, logo depois que um tribunal a sentenciou a um ano e meio de restrições de movimento, e lhe proibiu deixar Moscou.
Porém, antes da sentença entrar em vigor, Sobol recebeu uma mensagem inequívoca de que tinha tempo para fugir do país.
Entrevistada pelo The New York Times, um dia antes de sua partida, Sobol disse que corria o risco de ir para a cadeia e hoje não revela seu paradeiro, e teria feito uma plástica no nariz.
Quando o jornalista investigativo Roman Badanin estava de férias na África, o veículo de notícias para o qual trabalhava, Proekt, foi declarado ‘organização indesejável’.
Badanin considerou que retornar à Rússia e enfrentar julgamento o faria perder anos na prisão. Ele voou disfarçado e está na Califórnia desde onde ajuda outros jornalistas a deixar a Rússia.
O ex-magnata do petróleo Mikhail Khodorkovsky, passou 10 anos na prisão após um desentendimento com Putin e agora mora em Londres.
Dois meios de comunicação e um grupo de assistência jurídica apoiado por Khodorkovsky foram fechados em agosto por serem “indesejáveis”.
Em maio, quando ia embarcar para Varsóvia, Andrei Pivorarov, ex-chefe do movimento Rússia Aberta, de Khodorkovsky, foi preso.
“Parecia imperativo continuar trabalhando abertamente até o último minuto, o maior tempo possível”, disse Khodorkovsky em Londres. “Mas agora o risco é muito alto”.
A mídia pró-Kremlin relata com desprezo a saída de cada oponente. A fuga de Sobol foi apresentada como prova de que “os seguidores de Navalny são ratos covardes”.
Ivan Zhdanov, diretor executivo da equipe de Navalny, deixou a Rússia em janeiro para ajudar a coordenar os protestos após o retorno e prisão do líder da oposição.
Mas Zhdanov não voltou quando as autoridades russas o acusaram de recrutar menores.
Seu pai, funcionário local aposentado de 66 anos, foi preso em março pela polícia no sul da Rússia por suposto abuso de autoridade e ainda está no cárcere no extremo norte do país.
“Meu pai foi feito refém por esses terroristas”, diz Zhdanov.
Luis Dufaur, escritor, edita, entre outros, o blog Flagelo Russo, no qual o presente artigo foi publicado originalmente.
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