Rússia e Covid-19: Espionagem roubou fórmula da AstraZeneca para criar a Sputnik V
Por Luis Dufaur
Fontes de segurança britânicas informaram que um espião russo teria roubado o projeto da vacina de Oxford para que a Sputnik V pudesse ser criada. O intento do regime de Putin seria usá-la para se exibir como o primeiro país a produzir uma vacina contra o Covid-19.
Assim, a Sputnik V passou a ser usada como uma arma geopolítica na guerra psicológica do presidente Vladimir Putin.
Segundo a agência de contraespionagem britânica MI5, hackers russos atacaram os laboratórios onde se elaborava a vacina de Oxford em março de 2020. Espiões trabalhando para o Kremlin roubaram informações vitais.
O ministro inglês do Interior, Damian Hinds, não quis comentar o furto mas não negou o roubo realizado pelos russos.
Segundo o MI5, os hackers russos lançaram repetidos ataques cibernéticos alvejando a Universidade de Oxford, um mês depois que cientistas britânicos anunciaram o desenvolvimento da vacina.
A Sputnik V funciona exatamente da mesma maneira que a britânica e a cronologia dos eventos apoia a ideia de uma manobra dolosa de Moscou.
O parlamentar conservador Bob Seely, especialista em assuntos russos, disse:
“Acho que precisamos levar a sério a espionagem russa e chinesa. Seja nos roubando o design da AstraZeneca ou nos chantageando energicamente por esses regimes autoritários e totalitários; temos que ser inteligentes com eles”, alertou.
Até agora, mesmo a Organização Mundial de Saúde, dirigida por comparsas do regime chinês, se recusa a autorizar a Sputnik. Cientistas estrangeiros que visitaram as instalações russas em fevereiro de 2021 pediram correções e esclarecimentos.
E até agora não os receberam.
Milhares, tal vez milhões de pessoas vacinadas com a Sputnik na Hungria, Argentina, México, não podem viajar e são consideradas “reféns sanitários” porque tampouco a Europa os considera validamente vacinados e não aceita sua entrada no continente.
O MI5 tem “mais de 95% de certeza” do furto dos hackers.
O parlamentar conservador Andrew Bridgen disse: “Sabemos que a Grã-Bretanha tem os melhores cientistas e instalações de pesquisa, mas a Rússia provavelmente tem os melhores espiões”.
Putin disse ter tomado as duas doses dessa vacina, e promove uma campanha negativa para desacreditar a vacina da Pfizer.
Enquanto felizmente as cifras de contágios e óbitos estão diminuindo no mundo, na Rússia, onde só se aplica a Sputnik V, o sinistro recorde de mortes por dia vem aumentando.
Perdeu-se a conta dos dias consecutivos em que vêm ocorrendo mais de 900 óbitos diários no país, que, segundo dados oficiais, já acumulava um total de 218.345 mortes causadas pelo COVID-19.
O maior número de contágios está sendo registrado em Moscou, superando o segundo foco infeccioso do país, que é São Petersburgo.
Isso se os números oficiais não estiverem recortados para favorecer a imagem do regime, como é costumeiro.
Segundo o site Gogov.ru, que oferece dados atualizados e detalhados por região, 45,1 milhões de pessoas (30,8% da população) já estava vacinada com o esquema completo.
No total, a Rússia já teve 7.832.964 contágios, o quinto país do mundo, superado apenas pelos EUA, a Índia, o Brasil e o Reino Unido.
Apesar do rápido aumento de casos e mortalidade, o Kremlin descartou uma quarentena nacional e delegou poderes às autoridades regionais.
A suspeita sobre sua utilidade, o temor da população russa face à medicina oficial, e a incapacidade oficial de cumprir com os volumes de doses e com os prazos criaram já suficientes problemas na Rússia.
Mas não são menores no exterior.
Na Argentina, 1,3 milhão de pessoas ficou sem a segunda dose pela incapacidade russa de produzi-la nos prazos necessários. São os “reféns sanitários” da vacina russa.
Na Itália, trabalham milhares de funcionários da saúde provenientes do Leste Europeu, assistindo os idosos que também viraram “reféns sanitários” da Sputnik V, não reconhecida pela OMS, nem pela EMA, entidade de saúde da União Europeia, nem pela agência de saúde norte-americana FDA, porque a Rússia não fornece os dados científicos adequados.
A EMA acrescentou ser “absolutamente impossível” a aceitação da Sputnik V, pelo menos até o primeiro trimestre de 2022, enquanto não houver dados cientificamente críveis.
Só na região de Veneto, estima-se que 75 mil trabalhadores da saúde procedem de países do Leste Europeu para cuidar dos idosos. Esses não poderão continuar ingressando no país ou trabalhando pelo fato de não terem recebido alguma vacina aprovada.
A dramática situação na Rússia e na maioria dos países do Leste Europeu também contribui para a última onda pandêmica que está causando milhares de mortes na região.
O paradoxo é que a vacina Sputnik V foi anunciada em agosto do ano 2020 como sendo a primeira no mundo e provando a superioridade da medicina russa.
Vladimir Putin acena com tentativas de soluções políticas com a União Europeia, mas não se trata de conchavos políticos sempre possíveis nesse nível, mas de uma questão de saúde que envolve milhões de vidas.
(Com informações de Clarín e La Nación.)
Luis Dufaur, escritor, edita, entre outros, o blog Flagelo Russo, no qual o presente artigo foi publicado originalmente.
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