Os suecos simplesmente decidiram pelo suicídio nacional?
Por Daniel Pipes. Publicado em 12 de janeiro de 2015.
Arquivo MSM.
O governo sueco abriu as portas para os refugiados sírios.
Ai daquele na Suécia que discordar do ponto de vista ortodoxo, de que acolher calorosamente levas de indigentes de países como o Iraque, Síria e Somália não seja uma ideia ótima e nobre. O simples fato de discutir a permissão de que cerca de um por cento da população de uma civilização esquisita emigre anualmente faz com que o proponente caia em desgraça, política, social e até legalmente. (Eu conheço um jornalista que foi ameaçado com prisão por discordar ligeiramente sobre essa questão). Dizer que há uma cultura sueca que vale a pena preservar, causa perplexidade.
Ainda assim, os fatos relacionados à imigração estão aí para que todos vejam: dependência da assistência social, intenso preconceito contra cristãos e judeus além de uma ampla gama de patologias sociais, de desemprego a estupro por motivação política. Consequentemente, um número cada vez maior de suecos está, apesar dos riscos, preferindo se afastar do consenso e se preocupar com o suicídio cultural de seu país.
O tabu que cerca atitudes dessa natureza significa que os partidos políticos, com uma exceção apenas, continuam, de forma resoluta, a apoiar a imigração. Somente os Democratas Suecos (DS) apresentam uma alternativa: esforços reais com o objetivo de integrar os imigrantes existentes e uma diminuição de 90% nas imigrações futuras. Apesar do repugnante passado neofascista (a propósito, característica não exclusiva aos Democratas Suecos), o DS vem se tornando cada vez mais respeitável, tendo sido recompensado com sucesso eleitoral, dobrando sua votação para o parlamento de 3% em 2006 para 6% em 2010 e 13% em 2014. Todos os suecos com os quais eu conversei, em uma visita recente, estimam que a votação para o DS continue crescendo, o que é confirmado por recentes pesquisas de opinião.
Se um partido ou bloco de partidos tivesse ampla maioria no parlamento unicameral sueco, o DS seria praticamente irrelevante. Mas os dois blocos do Riksdag estão bem equilibrados. Três partidos de esquerda controlam 159 das 349 cadeiras, enquanto a Aliança para a Suécia de “direita” (aspas para denotar que, do ponto de vista americano, não é nada conservadora), composta de quatro partidos, controla 141 cadeiras. Isso significa que o DS, com 49 cadeiras, mantém o equilíbrio do poder.
Mas o DS é considerado anátema, de modo que nenhum partido negocia com ele para aprovar alguma legislação, nem mesmo indiretamente através da mídia. Tanto a esquerda quanto a “direita” procuram isolá-lo e desacreditá-lo. Mesmo assim, o DS teve um papel decisivo em legislações cruciais, particularmente no orçamento anual. Continuando com sua política de tirar do poder os governos que se recusam a reduzir a imigração, eles implodiram o governo da Aliança para a Suécia no início de 2014. Esse cenário se repetiu nas últimas semanas quando o DS se juntou à Aliança em oposição ao orçamento da esquerda, forçando o governo a convocar eleições para março de 2015.
Mas aconteceu uma coisa extraordinária: os dois blocos mais importantes concordaram não só com o orçamento atual como também com orçamentos futuros e na divisão de poderes até 2022. As alianças da esquerda e da “direita” elaboraram revezamentos de modo que as eleições não precisam necessariamente ocorrer em março, permitindo que a esquerda governe até 2018 e a “direita” provavelmente continue a partir de 2018 até 2022. Esse cartel político não só obstrui o DS de exercer seu papel central, mas estando impedido de conquistar a maioria nas cadeiras parlamentares em 2018, não terá mais um papel significativo nos próximos oito anos, indicando que nesse período a questão da imigração não poderá mais estar na ordem do dia.
Isso não é nada menos do que impressionante: para impedir o debate sobre o problema mais controvertido do país, 86% do parlamento juntaram forças para marginalizar 14% dos que discordam. Os dois maiores blocos diluíram as suas diferenças, já pequenas, para excluir o rebelde partido populista. Mattias Karlsson, líder em exercício do DS observa corretamente que com esse acordo, seu partido se tornou a única real oposição.
A longo prazo o horizonte é auspicioso para o DS, que provavelmente colherá frutos desse golpe antidemocrático. Os suecos, de longa data, acostumados com a democracia, não gostam de acordos de bastidores, que muito provavelmente irão anular seus votos em 2018. Eles não irão aplaudir a dimensão desse bullying. Também não irá agradar a retirada de uma matéria altamente controvertida da pauta de votações. E quando chegar a “hora da mudança”, como sempre acontece, os Democratas Suecos apresentarão a única alternativa à ingovernável, desgastada coalizão que estará no poder durante oito longos anos, em que os problemas com a imigração estarão alarmando mais ainda os eleitores.
Em outras palavras, esse flagrante ato de supressão está estimulando justamente o debate que ele intenciona suprimir. Antes que seja tarde demais, a questão suprema do suicídio nacional poderá, na realidade, ser debatido.
O Sr. Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum.
© 2014 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Publicado na National Review Online.
Original em inglês: Did Swedes Just Decide for National Suicide?
Tradução: Joseph Skilnik