Olavo de Carvalho: Duas narrativas falsas sobre o filósofo, suas obras e influência

Por Cristian Derosa

Foto: Mariana Reis, 2020.
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Olavo: Não há, em todo o universo das conversações filosóficas, estupidez maior do que tentar explicar um filósofo a partir da sua catalogação profissional e da coincidência fortuita do título dos seus livros com os de outros livros quaisquer, ignorando solenemente as suas referências intelectuais, a formação das suas idéias, a estrutura da sua obra e o texto mesmo do que ele escreveu. Esse é o critério historiográfico do João Cézar de Castro Rocha. Para mim chega. Esse sujeito está FORA DA VIDA INTELECTUAL. É apenas um funcionário de carreira.
(Foto: Mariana Reis)

 

Existem hoje duas narrativas principais que circulam entre opositores de Bolsonaro que “procuram entender” o fenômeno Olavo de Carvalho com a justificativa de entender o bolsonarismo. São as narrativas criadas por Benjamin Teitelbaum e João Cézar de Castro Rocha. Ambos buscam reduzir o papel do filósofo às consequências meramente políticas do seu papel na cultura brasileira. De maneira geral, elas embasam a justificativa de grandes jornais e da esquerda para uma espécie de demonização dos conservadores, vistos como fenômenos perigosos. Para chegar às suas conclusões, utilizam um método de associação usual também entre agências de checadores que veem no conservadorismo uma das condições sociais e psicológicas do que classificam como “fake news”.

A observação é de um amigo que me chamou a atenção para duas referências importantes do meio acadêmico quando o assunto é o fenômeno conservador que aparentemente pegou a esquerda e seus patrões globalistas de surpresa. Aparentemente, eles esperavam que a centralização totalitária de todos os aspectos da vida ocorreria sem que ninguém percebesse ou resistisse.

O primeiro é o livro Guerra pela Eternidade, de Benjamin Teitelbaum, que foi publicado pela Unicamp e é usado nas universidades como uma referência para entender o “olavismo”. Este livro basicamente descreve Olavo como um tradicionalista e o põe junto do russo Alexander Dugin e do americano Steve Bannon como representantes de um “movimento tradicionalista” que deseja derrubar as “conquistas do progressismo”.

Os erros dessa associação são óbvios para quem conhece o trabalho de Olavo, mas nem sempre para quem o conheça apenas pela mídia, a quem o livro é aparentemente escrito. Afinal, Olavo debateu contra Dugin e foi um dos primeiros a denunciar os perigos da ideologia eurasianista, como um dos projetos globalistas cujo disfarse de conservadorismo engana à primeira vista. Sem contar as suas inúmeras críticas ao tradicionalismo guenoniano, ao orientalismo, que Teitelbaum classifica como parte integrante desse “tradicionalismo” que atuaria no mundo como um espécie de conspiração secreta e esotérica para abalar as bases do “progressismo ocidental” ou o que Guenon chamou de “mundo moderno”.

O site da Agência Pública, que é mantido por globalistas como George Soros, publicou recentemente uma entrevista com Teitelbaum, na qual ele reforça essa teoria. Importante lembrarmos que a Pública é também uma agência de “checagem”, de “fact-checking”.

O relevante do livro de Teitelbaum são os capítulos 12, 13, 14 e o 20, sobre Olavo e as conclusões nos capítulos finais.

Já o segundo, João Cézar de Castro Rocha, lançou o livro Guerra cultural e retórica do ódio, que busca descrever o pensamento de Olavo como uma continuação da Doutrina de Segurança Nacional da ditadura militar. É isso mesmo. Segundo esta narrativa, o que Olavo de Carvalho ensina sobre gramscismo, Escola de Frankfurt e outros temas da New-Left, não está baseado no seu estudo das bases assumidas pela esquerda brasileira, mas teria sido copiada do livro ORVIL, publicado pelos militares. Isso seria suficiente para o autor concluir que a guerra cultural de que fala Olavo e apoiadores de Bolsonaro seria, na verdade, uma mera continuação da Doutrina de Segurança Nacional do regime militar. Por meio desse reducionismo aparentemente inconsciente (fruto do foco de interesse do próprio autor), conseguem dar uma interpretação política à obra filosófica de Olavo e mobilizar os ideólogos e ativistas para o atacarem nessa base e associá-lo, assim, diretamente ao bolsonarismo.

Nessa narrativa, a contribuição filosófica de Olavo de Carvalho é reduzida à de criador de uma “retórica do ódio”, uma linguagem que teria a função de justificar uma “nova Doutrina de Segurança Nacional”. Como se não bastasse, Castro afirma ainda que o trabalho de Olavo seria do de essencialmente dominar seus alunos pela utilização de técnicas de “lavagem cerebral”. Para justificar este último ponto, o autor simplesmente se vale de passagens em que Olavo fala sobre técnicas de manipulação psicológica, apresentando isso como prova de que Olavo usaria essas técnicas em seus alunos.

O autor do livro possivelmente finge ignorar o fato de que a efetividade dessas técnicas, quando usadas, se deve ao fato de poucas pessoas não saberem sobre elas e que a revelação delas constitui, ao contrário, de um antídoto para as mesmas.

Este expediente de livre associação é o mesmo utilizado por agências de checagem, que antes de pretender refutar dados ou algum ponto supostamente falso, lançam mão de um histórico de por quais lugares ou pessoas aquele argumento, história ou ideia, passou ou teria se originado. Com base nisso, e sem mencionar a veracidade do fato, o suposto investigador já induz o leitor a “localizar” a narrativa dentro de supostas redes de interesse implícitas, ou explícitas, na mera associação entre pessoas, ideias e imagens públicas associadas. Ora, se tanto Olavo quanto os militares do Orvil denunciaram o gramscismo, seria mais lógico supor que eles se referiam ao mesmo fenômeno concreto ao invés de sugerir uma relação entre os dois.

Respostas e refutação das narrativas
Olavo de Carvalho chegou a publicar vídeos rebatendo essas duas narrativas, mas isto não as impediu de se disseminarem entre os intelectuais do meio acadêmico que influenciam jornalistas, políticos e opinadores. O livro de João Cézar de Castro Rocha chega a ser ridículo em sua argumentação. Ele vai citando a esmo vários títulos de livros do Olavo que com certeza ele não leu. Mas isto não impediu o autor de ser chamado para dar entrevistas para vários jornais e palestras nas universidades para falar sobre o “fenômeno do olavismo”.

Tudo que a esquerda brasileira deseja é que Olavo de Carvalho seja reduzido a estas duas caricaturas, que devem ser conhecidas e compreendidas como um processo de construção de narrativa baseada no evidente objetivo da perseguição para a criminalização de conservadores, únicos obstáculos à satisfação de suas agendas totalitárias globais.

 

Cristian Derosa é jornalista e escritor. Mestre em Fundamentos do Jornalismo pela UFSC e autor dos livros: “A transformação social: como a mídia de massa se tornou uma máquina de propaganda”(2016), “Fake News: quando os jornais fingem fazer jornalismo”(2019) e “Fanáticos por poder: esquerda, globalistas, China e as reais ameaças além da pandemia” (2020). Cofundador e editor-chefe do site Estudos Nacionais e editor adjunto do jornal Brasil Sem Medo. Aluno de Olavo de Carvalho desde 2009.

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1 comentário
  1. marco silva Diz

    Não surpreendem as duas versões, as duas narrativas. João Cezar é um “soi disant” intelectual falastrão e boquirroto. Dominou a E publicações. Uma pena, realmente. O outro, nem conheço. Ambos parecem querer marcar posição. Direito deles, desde que não mintam, não falseiem a realidade ou não escrevam sobre fenômenos que sequer conseguem compreender.

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