Grande mídia e partidos políticos: Do que é importante não tratam

Por Percival Puggina

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Como é possível escrever sobre partidos políticos no Brasil e não tratar de sua substancial inutilidade em relação ao interesse nacional?

 

A edição do jornal O Estado de São Paulo de segunda-feira (07/02) resolveu dar uma olhada para os partidos políticos brasileiros. Com aquela falta de sensibilidade para conhecer e tratar do que realmente importa, a matéria destaca as dívidas dos partidos para com a União.

Transcrevo abaixo o primeiro parágrafo do texto que é extenso, com direito a infográfico e tudo mais.

Os partidos políticos chegaram ao ano eleitoral de 2022 devendo R$ 84 milhões aos cofres públicos – considerando débitos já parcelados ou alvo de acordo esse número supera R$ 100 milhões. Boa parte diz respeito a multas aplicadas pela Justiça Eleitoral, mas há também pagamentos atrasados para a Previdência e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) dos funcionários e impostos não recolhidos. A maior dívida é do PT: R$ 23,6 milhões, quase quatro vezes o valor devido pelo segundo colocado, o Democratas (DEM), com R$ 6,5 milhões.

Registre-se, a bem da verdade que o texto também refere o montante de R$ 4,9 bilhões reservado pelos partidos para si mesmos no Orçamento da União e esclarece que as multas pendentes de pagamento não impedem nem são deduzidas desses recursos. Contudo, não menciona que essa regalia é viabilizada por preceito legal aprovado, em favor de si mesmas, pelas bancadas partidárias no Congresso.

COMENTO

É o que se pode chamar de profundidade rasa, mergulho no irrelevante. Como é possível escrever sobre partidos políticos no Brasil e não tratar de sua substancial inutilidade em relação ao interesse nacional?

Ressalvadas as escassas exceções, onde estão os quadros partidários que possam ser úteis ao país? O que fazem suas fundações, também custeadas com recursos públicos, para formar filiados e dirigentes?

Como regra, não produziram um líder para disputar a presidência. Nada têm a dizer sobre o futuro do Brasil. Não têm planos a apresentar. Uns só formulam tolices, outros anunciam ameaçadoras novidades como joias de criatividade.

Na presente legislatura silenciaram diante do caos institucional causado pelo STF. Nada disseram sobre prisões políticas de jornalistas, de um deputado federal, de um presidente de partido, sobre fechamento e desmonetização de veículos de mídia digital que fazem o que o outrora grande jornalismo não faz. Não viram os parlamentos escondidos atrás das máscaras e das sessões remotas, alheios ao clamor das ruas.

Dessas matérias não cuidam os profissionais, nem seus grupos de comunicação. Elas só interessariam a boa informação desse ente irrelevante e abstrato chamado nação.

 

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário, escritor, colunista de dezenas de jornais e titular do site www.puggina.org, no qual o presente comentário foi publicado originalmente. Autor dos livros ‘Crônicas contra o totalitarismo’; ‘Cuba, a tragédia da utopia’; ‘Pombas e Gaviões’e ‘A Tomada do Brasil’. Integrante do grupo Pensar+.

 

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