“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo tempo; mas não se pode enganar a todos por todo tempo.”,
Abraham Lincoln
Em artigo do dia 28 de março deste ano, para o The Sunday Times, (1) Matthew Campbell deu voz às acusações de Guy Sorman contra o campeão da pseudointelectualidade universitária, Michel Foucault (foto), a quem atribuiu o abuso sexual de diversas crianças tunisianas no final da década de 60. Alguns trechos do artigo são significativos e merecem atenção. Sorman
(…) disse ter visitado Foucault com um grupo de amigos em uma viagem durante um feriado de Páscoa, no vilarejo de Sidi Bou Said, próximo a Túnis, onde o filósofo vivia em 1969. “Crianças pequenas corriam atrás de Foucault, dizendo: ‘E eu? Me escolha, me escolha!’”, lembrou, na última semana, em uma entrevista para o The Sunday Times. “Elas tinham 8, 9, 10 anos de idade, ele atirava-lhes dinheiro e dizia: ‘Vamos nos encontrar às dez da noite no lugar de sempre’.” Este, descobriu-se, era o cemitério local: “Ele tinha relações sexuais com garotos pequenos ali mesmo sobre as lápides. A questão do consentimento não era sequer considerada”.
Ainda, Sorman “afirmou que ‘Foucault não se atreveria a fazer isso na França’, comparando-o a Paul Gauguin, o impressionista que disse ter tido relações sexuais com meninas pequenas que pintou no Taiti, e André Gide, o romancista que caçava meninos na África”.
Mas talvez os trechos mais importantes de todo o artigo sejam aqueles que fazem referência aos dois grupos absolutamente essenciais às revoluções culturais modernas, que andam sempre juntos, de mãozinhas dadas, em um romance de paixão inextinguível: a mídia e o establishment universitário. Assim,
Sorman diz que se arrepende de não ter denunciado Foucault à polícia, na época, ou mesmo à imprensa, chamando seu comportamento de “ignóbil” e “extremamente horrendo moralmente”. Mas, acrescentou, a mídia francesa já sabia do comportamento de Foucault. “Havia jornalistas presentes nessa viagem, havia muitas testemunhas, mas ninguém publicava histórias desse tipo, naquele tempo. Foucault era o filósofo rei. Na França, ele é como nosso deus.” (…) Para Sorman, o comportamento de Foucault era sintomático de um mal-estar distintamente francês que remonta a Voltaire. “Ele acreditava que existiam duas morais: uma para a elite, que era imoral, e outra para o povo, que deveria ser restritiva.” E continuou: “A França ainda não é uma democracia; nós tivemos a revolução, proclamamos uma república, mas ainda há uma aristocracia: é a intelligentsia, que tem tido um status especial. Ela pode tudo”.
Se as origens da Revolução Francesa podem ser rastreadas até os chamados clubes de debates, nos quais intelectuais se reuniam para ditar não os rumos do que hoje chamaríamos de política eleitoral do país, mas as suas tendências culturais e sociais, e para conceder ou retirar prestígio e notoriedade ao seu bel prazer (sim, a semente da prática tão comum, atualmente, do assassinato de reputações), operando, portanto, em um nível insondavelmente mais profundo e eficiente do que aquele da política du jour, da mesma forma a liberalidade sexual, na forma de direito sacrossanto e libertação anticonservadora que assumiu, explodiu em todo seu esplendor a partir de um movimento também de cunho intelectual (ou que, ao menos, assim desejava aparecer ao mundo): as revoltas de maio de 1968.
Luc Ferry, ex-ministro da educação francês, é citado no artigo dizendo que “seus contemporâneos têm muito pelo que responder. ‘As pessoas se esqueceram de que a mentalidade de 1968 promoveu a pedofilia’, escreveu no Le Figaro. ‘Todo adulto tinha o direito, e mesmo o dever, diziam eles, de despertar a sexualidade que a burguesia escondia’”.
Foucault, não que isso já não fosse óbvio, fez questão de reconhecer o movimento de 1968 como uma das principais influências ao seu pensamento. Influência ou pretexto (ou um pouco dos dois), tanto faz; o fato é que, unindo o útil ao agradável,
Com sua característica gola alta, cabeça careca e óculos, Foucault, filho de um cirurgião, foi uma das primeiras celebridades intelectuais do século XX a ser lembrada não apenas por suas controversas análises sobre os presídios, a loucura e a sexualidade, mas também por ter assinado, em 1977, uma petição pela legalização do sexo com crianças de 13 anos.
Na verdade, a petição era pela descriminalização dos atos sexuais com crianças de qualquer idade e pela eliminação da chamada presunção legal de violência em relações sexuais com crianças abaixo dos 15 anos (idade limítrofe à época).
Mas não foi só Foucault, assíduo frequentador de saunas gay e casas de sadomasoquismo, vitimado pela AIDS em 1984, que assinou a petição. O documento contou com a assinatura da nata dos ídolos intelectuais da esquerda universitária, entre os quais Jean-Paul Sartre, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Louis Althusser, Jean-François Lyotard, a psicanalista Françoise Dolto, venerada pelos psicanalistas modernos (lembrando que as teorias freudianas da sexualidade infantil estão entre as principais fundamentações teóricas dos movimentos pró-pedofilia mundiais), Guy Hocquenghem, ativista pelos direitos homossexuais e também vitimado pela AIDS, aos 41 anos de idade (o mesmo que havia sido expulso do Partido Comunista Francês precisamente por ser homossexual, em uma época em que, para espanto do jovem estudante eleitor do PSOL, o gayzismo ainda não fazia parte da estratégia revolucionária), e a beata imaculada e religiosamente adorada, cujo nome não se deve pronunciar em vão, a sumamente admirável e excelsa Simone de Beauvoir.
Por falar em Beauvoir (que era contra o matrimônio, mas chamava Nelson Algren, um de seus incontáveis amantes, de “meu amado marido”), atualmente em processo de canonização pela seita feminista, esta costumava, quando professora, aliciar e seduzir meninas estudantes, às vezes para ela mesma (assumidamente bissexual), mas, na maioria dos casos, para repassá-las a Sartre. O único critério era que fossem suficientemente mais novas do que eles. Em 1943, Beauvoir chegou a ter sua licença para lecionar cassada, devido a um processo referente ao aliciamento de Natalie Sorokine, de 17 anos. Bianca Lamblin, outra ex-aluna sua, diz em seu livro Mémoires d’une jeune fille dérangée (Balland, 1993) ter sido explorada sexualmente por Beauvoir e, depois, por Sartre. Todos esses fatos, juntamente com suas mais criativas façanhas sexuais, privadas e em público (as quais me desobrigo de citar pormenorizadamente, visto que me exigiriam o espaço de um livro), são arquicomprovados e amplamente documentados não só na imprensa como também em materiais especializados e biografias (até mesmo nas mais parciais em favor de uma boa imagem da biografada).
Não há como escapar: seja utilizando-a como elemento de implosão social, seja praticando-a de fato, a ligação entre grande parte da alta casta intelectual esquerdista e a pedofilia constitui um fato histórico concreto e inegável, goste ou não aquele seu professoreco guerrilheiro de condomínio, pai de gato, que diz que é “resistência”, mas pede desculpas por ser homem. Não há, aliás, nenhuma novidade no que escrevo, já que essa mesma casta jamais se preocupou em escondê-lo, e nem poderia: dizer e fazer as coisas mais absurdas como se fossem as mais normais do mundo, através de quaisquer justificativas pseudocientíficas, na melhor das hipóteses, quando não de mentiras e contradições descaradas, é uma tática cada vez mais empregada para se substituir um conjunto sedimentado de valores e costumes por novos comportamentos e narrativas aberrantes; a fundação e participação em associações declaradamente a favor da pedofilia precisava mesmo ser algo público. A armadilha consiste no fato de que apesar da indignação geral, a maioria das pessoas, em vez de agir puramente nas esferas jurídica e psiquiátrica — vocês são criminosos ou psicopatas (ou ambos), e pertencem, portanto, à prisão ou ao manicômio (ou a ambos) —, acaba cedendo, mais como por uma reação emocional natural diante de tamanho despautério, à ânsia de contra-argumentar, trazendo então para o domínio da discussão racional algo que é indiscutível por natureza. Era tudo o que eles queriam; do ponto de vista da argumentação lógica, a maioria normal será sempre infinitamente superior e ganhará a briga. No entanto, o simples fato de o assunto ter sido discutido coloca os perdedores não na categoria dos criminosos que são, mas na de meros portadores de uma opinião errada, o que os permitirá não apenas seguir promovendo seu ideal doentio, mas agir em função dele, legitimar suas associações representativas (que poderão inclusive se tornar elegíveis ao repasse de verbas públicas) e ser protegidos cível e juridicamente — afinal, vivemos em uma democracia, e todas as opiniões devem ser respeitadas e consideradas em pé de igualdade perante a lei. (2)
E é exatamente nesse estado que as coisas se encontram, atualmente. A novidade é que, agora, a onda pró-pedofilia já não mais precisa se apresentar apenas através de grupos e organizações definidas; as ofensivas dos primeiros escândalos já romperam as fileiras, e o inimigo — colhendo agora os frutos da condição de putrefação moral que ele próprio instilou, pacientemente, no adversário — já adentrou pelos portões. Como todos os tentáculos do comunoglobalismo, a normalização da pedofilia é hoje inoculada sutilmente (e, às vezes, mesmo sem sutileza) a nível mundial e por todos os meios, contando mais uma vez com a união satânica entre a elite acadêmica, que cria a narrativa de justificação pretensamente científica, e a mídia global, que a asperge sobre seus devotos fieis, tornando a todos mais dóceis em relação ao que agora já se chama de “apenas uma opção sexual entre outras”, e que, portanto, precisa ser descriminalizado. Quem ousar se opor será, obviamente, tachado de fascista, ultraconservador, fanático religioso e outras bobagens afins, como já o vem fazendo a imprensa brasileira com salivante voracidade contra qualquer um que tenha a audácia de chamar pedófilos de pedófilos e defensores da pedofilia de defensores da pedofilia.
Mas que não me acusem de um insensível e exacerbado criticismo, pois algo que não posso me furtar a reconhecer é a emocionante devoção pela qual os discípulos trilham as pegadas do mestre francês: seguem fazendo minuciosamente com a nossa sociedade o que Foucault fazia com os pobres garotinhos tunisianos.
Notas:
1 – Artigo disponível em https://www.thetimes.co.uk/article/french-philosopher-michel-foucaultabused-boys-in-tunisia-6t5sj7jvw.
2 – Um assunto que passou exatamente por esse mesmo processo, por exemplo, foi o do aborto. É claro que não é preciso explicar para ninguém mentalmente são ou digno de conviver em uma sociedade humana o que há de errado em esquartejar um bebê no ventre de sua mãe; mas sempre que alguém se permite sequer discutir a questão, ainda que motivado pelas razões e sentimentos corretos, o assunto desce para o domínio do mero debate, não só trazendo para a categoria da opinião algo que é da ordem da psicopatologia ou da criminalidade, como também colocando no mesmo nível duas atitudes que não são, de maneira alguma, apenas duas opiniões diferentes sobre um mesmo problema, ou dois objetos diferentes de uma mesma espécie, como se o confronto fosse entre preferir café ou chá. Ser incapaz de sequer conceber o assassinato de um bebê e ter repulsa por este simples pensamento nada mais é do que o sentimento humano normal diante da vida e a operação minimamente saudável de um aparato cognitivo-psicológico ao menos razoavelmente conservado, enquanto a ânsia insaciável de realizá-lo, a ponto de fazer do morticínio um direito e uma prática legal a ser encorajada, constitui não uma outra opinião, mas um outro estado existencial que beira, por maior ou menor responsabilidade do indivíduo em questão, a animalidade, e se encontra, portanto, em completo desnível quanto à postura humana normal.
Publicado no Cultura de Fato – https://culturadefato.com.br/
Agradecimentos a Eric Rabello.
Feliz aniversario. Que Deus lhe permita muitos anos de luta.