E como isso vai acabar? Não vai acabar bem.
(Foto: Mussolini com seu leãozinho de estimação)
Uma expressão do século XVI diz que “não há idiota igual a um velho idiota.” Mas o aparecimento de ideologias totalitárias como o fascismo, comunismo e islamismo por volta da Primeira Guerra Mundial exige que a expressão acima seja emendada para “não há idiota igual a um intelectual idiota.”
O intelectual é aquela pessoa imersa no mundo das ideias, cujo meio de vida é ler e escrever, que transforma fatos em teorias. Jean-Paul Sartre definiu o intelectual como “aquele que mete o nariz onde não é chamado.” Muito engraçadinho, mas os intelectuais avassaladoramente criticam suas próprias sociedades, algo útil nas autocracias, porém nocivo nas democracias, basta observar nosso sistema educacional.
O já falecido professor Paul Hollander estudou minuciosamente os exuberantes elogios a líderes totalitários por aclamados, bem alimentados e livres pensadores ocidentais. Em seu último trabalho, From Benito Mussolini to Hugo Chavez: Intellectuals and a Century of Political Hero Worship (Cambridge University Press, 2017) Hollander realizou um levantamento sobre este fenômeno a partir de suas origens na Primeira Guerra Mundial. John Earl Haynes foi muito prestativo na coleta de algumas das mais execráveis citações feitas por estas celebradas mentes, além de uma incluída por mim:
Mussolini: Herbert Croly, fundador e editor da New Republic, aplaudiu efusivamente o “vigor do nacionalismo italiano que… dará a possibilidade aos italianos de serem donos do seu destino através de uma renovada visão moral.” Ele chamou o fascismo de “um experimento político que despertou o crescimento da energia moral numa nação inteira, dignificando suas atividades, subordinando-as a uma profunda sensação de objetivo comum.”
Hitler: Arnold Toynbee, o influente historiador mundial, entrevistou o Führer alemão em 1936 reportando estar “convencido da sua sinceridade em almejar a paz na Europa.”
Stalin: Jerome Davis, famoso teólogo da Yale Divinity School, acreditava que “seria um erro considerar o líder soviético um homem voluntarioso que acredita em empurrar suas ideias goela abaixo dos outros.”
Mao: John K. Fairbank, reitor dos acadêmicos americanos especializados em assuntos chineses de Harvard, afirmou: “levando-se tudo em conta, a revolução maioísta foi a melhor coisa que aconteceu para os chineses em séculos”, concluindo que a China de Mao “é muito mais nossa amiga do que inimiga. Ela é singularmente voltada para si própria e não agressiva no exterior.”
Arafat: Edward Said, professor da universidade de Columbia, disse que o líder palestino “fez da O.L.P. um órgão genuinamente representativo.”
Khomeini: Richard Falk, cientista político de Princeton, salientou que o aiatolá iraniano criou “um novo modelo de revolução popular, baseado principalmente em táticas não violentas.” Ele continuou dizendo que o “Irã poderá ainda nos agraciar com um modelo imprescindível de governança humana para um país de terceiro mundo.”
Castro: o aclamado escritor romancista Norman Mailer bajulou seu anfitrião cubano com as seguintes palavras: “o senhor foi o primeiro e o maior herói a aparecer desde a Segunda Guerra Mundial… o senhor é a resposta ao argumento… de que as revoluções não podem durar, de que elas viram corruptas ou totalitárias ou que elas comem seu próprio povo.”
Kim Jong II: o historiador Bruce Cumings da Universidade de Chicago retrata o ditador norte-coreano como “uma pessoa caseira não muito sociável, não bebe muito e trabalha em casa de pijama… Ele se diverte com suas caixinhas de música, sentado no chão… Ele é modesto e tímido e como a maioria dos pais coreanos, perdidamente dedicado ao seu filho.”
Esses testemunhos repletos de lisonjas levam a várias conclusões:
* Eu também leio, penso e escrevo como meio de vida, assim sendo eu me afasto desses intelectuais idiotas explicando :eu tenho “a simples política de motorista de caminhão, não as complexas dos acadêmicos.”
* As Universidades dispõem em demasia de programas em ciências sociais e humanas (uma Cadeira em Estudos Transgêneros?) enquanto impostores e agitadores dominam o mundo das artes (uma banana de US$120 mil?). Por outro lado, são necessárias mais escolas técnicas e vocacionais, juntamente com artistas genuínos.
* O livro Intellectuals: From Marx and Tolstoy to Sartre and Chomsky de Paul Johnson de 1988, expõe excentricidades tanto pessoais quanto constrangedoras. Mas isso é um espetáculo à parte. O verdadeiro problema é, como um todo, os editores, professores e escritores que se preocupam com políticas e artes, eles captam, entendem mais errado do que certo o que está acontecendo e, portanto, têm um efeito mais danoso do que construtivo.
E como isso vai acabar? Não vai acabar bem. Intelectuais proliferam à medida que robôs e inteligência começam a assumir os trabalhos práticos, de modo que o tempo livre vai se expandindo, motivando mais complexidade e egoísmo. O bom senso fica cada vez mais difícil conforme os governos providenciam renda garantida e aparentemente o leite vem da caixinha do supermercado. Sem entender direito o básico e ficar procurando defeitos sem trégua, os intelectuais estão nos levando para o buraco.
Adendo: e é claro, George Orwell: “há ideias que são tão obtusas que só intelectuais mesmo para acreditarem nelas.”
Esse é o primeiro artigo de Daniel Pipes, (DanielPipes.org, @DanielPipes) presidente do Middle East Forum, para a Spectator USA.
Original em inglês: The Folly of the Intellectuals
Tradução: Joseph Skilnik